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Estado de Minas

Comiss�o da Verdade ouve ex-guerrilheiros torturados no Araguaia


postado em 12/08/2014 14:28

Crimes contra os direitos humanos atribu�dos a agentes do Estado que atuaram na repress�o � Guerrilha do Araguaia voltam a ser discutidos nesta ter�a, em audi�ncia p�blica na Comiss�o Nacional da Verdade (CNV).

O movimento, que atuou na d�cada de 70, tinha o objetivo de enfrentar e derrubar o regime militar instalado no pa�s ap�s o golpe de 1964.

Nesta ter�a-feira, a comiss�o ouve dois ex-militantes que foram presos e torturados, a parente de um desaparecido e uma advogada que falar� sobre as implica��es da senten�a da Corte Interamericana de Direitos Humanos que, em 2010, segundo a qual graves viola��es aos direitos humanos n�o podem ser anistiadas.

Quatro militares acusados de participar de crimes como pris�es ilegais, tortura, assassinato e oculta��o de cad�ver foram convocados a prestar depoimentos, entre eles Sebasti�o Rodrigues de Moura, o major Curi�. Nenhum dos quatro compareceu � audi�ncia p�blica, aberta � imprensa e a outros interessados.

Considerado um dos epis�dios mais violentos registrados durante o �ltimo per�odo de ditadura militar (1964-1985), o combate aos integrantes do PCdoB que aderiram � guerrilha armada e lutaram contra o regime resultou, segundo a comiss�o, no desaparecimento de 70 militantes e moradores da regi�o e na morte de oito militares em circunst�ncias nem sempre devidamente esclarecidas.

Cerca de 10 mil militares atuaram em tr�s campanhas e opera��es de intelig�ncia deflagradas a partir de abril de 1972, seis anos ap�s a chegada dos primeiros militantes � regi�o. "N�o t�nhamos mais alternativa de resist�ncia ao regime. Por isso, fomos � luta armada", disse Danilo Carneiro, preso em abril de 1972 e v�tima de torturas e maus-tratos que o levaram a pesar 38 anos, ao ser transferido de Bel�m para Bras�lia, onde continuou a ser agredido e interrogado.

"Foi quando me avisaram que, a partir dali, eu iria conversar com quem de fato sabia conversar [interrogar]. Havia 20 torturadores na cela. Me arrebentaram. Encapuzado, eu engolia sangue e desmaiava. Eu s� tinha um desejo: morrer, pois n�o tinha outra sa�da que n�o fosse entregar meus companheiros. Tamanho era esse desejo [de morrer] que comecei a dar cabe�adas nas grades de ferro da cela e s� n�o fui em frente porque outro companheiro preso conseguiu me convencer do contr�rio", lembrou Carneiro.

Ao falar sobre o andamento das investiga��es da CNV sobre mortos e desaparecidos da Guerrilha do Araguaia, o secret�rio executivo da comiss�o, Andr� Saboia, destacou que, na primeira das tr�s expedi��es � regi�o, militares das For�as Armadas ainda fizeram prisioneiros. Da� em diante, passaram a executar sumariamente n�o s� os militantes, mas tamb�m camponeses acusados de colaborar com os guerrilheiros. Muitos desses corpos at� hoje n�o foram localizados.

"Isso n�o era fruto da a��o de alguns psicopatas, mas sim de uma a��o sistem�tica e estruturada, na qual as For�as Armadas t�m responsabilidade", afirmou o atual coordenador da comiss�o, o advogado Pedro Dallari. Para ele, esclarecer os desaparecimentos, as mortes e a participa��o de cada um no epis�dio � "um dos temas de maior relev�ncia na agenda da comiss�o", tanto que membros do colegiado aprovaram a inclus�o, no relat�rio final, de um cap�tulo inteiramente dedicado � Guerrilha do Araguaia.

Ao comentar o teor do depoimento de alguns militares anteriormente ouvidos pela comiss�o, Saboia reproduziu trecho da declara��o do sargento Jo�o Santa Cruz, que reconhece que os parentes das v�timas t�m direito de saber o que de fato aconteceu e de resgatar os corpos dos desaparecidos para sepult�-los. Cruz acredita que isso daria fim �s buscas, poupando recursos das pr�prias For�as Armadas.

De acordo com o ex-sargento, a "chave" para esclarecer o assunto � o major Sebasti�o Rodrigues de Moura, o major Curi�, "pois ele tinha acesso a tudo". Um dos quatro militares convidados a participar da audi�ncia e prestar depoimento, Curi� informou que n�o poderia comparecer por motivos de sa�de, j� que est� internado em um hospital das For�as Armadas devido a exames cl�nicos feitos na v�spera.

"A forma como o Estado brasileiro trata essa quest�o �, no m�nimo, muito cruel", afirmou Crimeia Alice Schmidt de Almeida, ao endossar as cr�ticas � resist�ncia de �rg�os do governo de entregar � comiss�o documentos que podem ajudar a esclarecer os fatos. Presa em dezembro de 1972, quando estava gr�vida, Crim�ia disse que foi barbaramente torturada.

"Eu passava dia e noite sendo interrogada. Quando, por cansa�o, cochilava, me acordavam com choques el�tricos. Nunca me penduraram no pau de arara, eu acho que porque a barriga n�o permitia", contou Crimeia. "Diziam que eu ia morrer em um acidente de carro. Todas as noites eu era levada at� o carro, onde passava a noite esperando que sa�ssem com o carro me levando. Ao fim de um tempo, eles diziam que havia acontecido algo e que o 'acidente' ficara para a noite seguinte", acrescentou a militante, que deu � luz na pris�o. "Ele [o filho] parecia um daqueles meninos de Biafra, que, na �poca, era o pa�s africano da fome. E, logicamente, com uma m�e neur�tica, meu filho, como todos n�s, tem suas sequelas."

Criada em 2011, por lei federal, a Comiss�o Nacional da Verdade tem o objetivo de apurar as viola��es aos direitos humanos registrados entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988. A princ�pio, os trabalhos n�o tem a finalidade de incriminar ou servir de base � recomenda��o de puni��o aos militares acusados de violar direitos humanos, mas sim esclarecer os fatos para recompor a "verdade hist�rica e promover a reconcilia��o nacional". As conclus�es da comiss�o dever�o constar do relat�rio final a ser apresentado at� 16 de dezembro deste ano, mas a data ainda pode ser prorrogado. Mais de mil depoimentos j� foram colhidos pela CNV.


Com Ag�ncia Brasil


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