
O luto sofrido por Pernambuco � uma esp�cie de luto familiar. Nas ruas da Capital Recife ou no Sert�o do munic�pio de Petrolina, a frase comum ouvida para traduzir a dor do momento � esta: "Parece que foi um parente meu". A morte do ex-governador Eduardo Campos tem sido vivenciada com intensidade por cidad�os que s� o viam pelas televis�es e pelos jornais. A perda aquebrantou gente de todas as classes sociais, econ�micas e et�rias. Pessoas relevam sintomas de ins�nia, des�nimo para o trabalho, ang�stia, tristeza. "� uma dor igual � que senti quando perdi minha filha Etiene em um acidade de carro, no dia 4 de setembro de 1985, quando ela tinha 22 anos de idade", confidenciou o capit�o reformado do Ex�rcito Edvaldo Pereira de Oliveira, 80 anos. "� como se eu tivesse revivendo aquele momento", comparou.
Matheus Alves, um estudante universit�rio de 18 anos, se p�e no lugar dos filhos: "N�o tive um pai presente, ent�o entendo como ser� dif�cil. Ser� dolorido. Fiquei comovido mais por isso, pelo fato de ele ser pai de cinco filhos e deixar a mulher sozinha para cuidar deles", argumentou Matheus, que junto a outras duas dezenas de amigos vestiu preto ontem em homenagem a Eduardo, "o homem, o ser humano" - como classificou. Matheus, que tem cinco irm�os, n�o sentiu vontade de fazer qualquer postagem ou homenagem virtual desde a trag�dia, mas atendeu ao chamado do colega V�tor Nascimento. V�tor pediu, por meio de um grupo de amigos que conversa pelo celular, que todos vestissem preto ou branco, como preferissem, para ir �s aulas na turma do 1º per�odo do curso de Jornalismo da Unicap e deixar p�blico o sentimento de luto pela morte do ex-governador. A aula de ontem foi no cinema da Fundaj, no Derby.
O capit�o Edvaldo, pai que comparou a dor da morte de Eduardo � morte da filha Etiene, tamb�m ajustou sua rotina nos �ltimos dias. Mandou cancelar festividades familiares e passou a dormir tarde ("Quando consegue") para acompanhar o notici�rio sobre a trag�dia do avi�o de Eduardo Campos. "Me arrasei", contou ele, que caiu aos prantos na sala de televis�o da Associa��o dos Militares da Reserva, Reformados e Pensionistas (Asmir)."N�o importa se o governador me conhece ou n�o me conhece. Acho ele um grande homem. Tem meu respeito", declarou, sem perceber que estava usando o verbo no presente - como se Eduardo ainda estivesse vivo. "N�o est� f�cil sentir essa dor".
A fase do luto coletivo vivido no estado gerido por Eduardo Campos por sete anos e quatro meses e do qual ele pretendia al�ar a presid�ncia da Rep�blica � a da nega��o. No elevador do Edif�cio Orion, no bairro da Jaqueira, uma senhora de cabelos brancos conversava com uma adolescente: "Ainda n�o acredito". Diante de uma bandeira preta, estendida num hotel da Rua Aurora, outra mulher dizia o mesmo. Em v�cuos de di�logos, havia quem se perguntasse se a not�cia reverberada no Brasil (e fora dele) era verdadeira. Pernambuco ainda est� no in�cio da elabora��o do luto de Eduardo, cujos restos mortais devem chegar neste s�bado no Pal�cio do Campo das Princesas.