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Estado de Minas

V�timas da ditadura eram obrigadas a ajudar militares que atuavam na Casa Azul


postado em 24/09/2014 10:49

O caso da Casa Azul foi muito impressionante porque, provavelmente, foi o maior centro clandestino [que existiu]”, relata a professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Helo�sa Starling. A especialista coordenou as pesquisas sobre os centros de tortura existentes durante o per�odo militar e espalhados pelo pa�s. Os estudos mostram que a casa localizada no sudeste do Par� n�o era um simples centro de interrogat�rios. “Tem uma coisa interessant�ssima: o tempo todo voc� tem um observador militar do Planalto, dentro da Casa Azul. Isso mostra a liga��o direta com o Alto Comando [das For�as Armadas]”.

Trechos do livro Direito � Mem�ria e � Verdade, da Secretaria de Direitos Humanos da Presid�ncia da Rep�blica, citam que uma investiga��o realizada pelo Minist�rio P�blico Federal, em 2001, por meio de depoimentos, identificou a instala��o de quatro bases militares na Regi�o Sul e Sudeste do Par�.

Em Marab�, al�m da Casa Azul, eram utilizados mais dois im�veis: a sede do Instituto Nacional de Coloniza��o e Reforma Agr�ria (Incra) e um pres�dio militar. Em S�o Domingos do Araguaia estava localizado o pres�dio da Bacaba onde era feita a triagem dos camponeses suspeitos. Dali, alguns seguiam para a Casa Azul.

O Alto Comando em Bras�lia provavelmente soube o que se passou com o soldado Manuel Messias Guido Ribeiro. Ele foi recrutado pelo Ex�rcito para servir na “guerra contra comunistas”, mas tinha pena dos prisioneiros.

Manuel conta que tamb�m foi torturado, o que era chamado, pelos militares, de treinamento, para que ele se brutalizasse e esquecesse da dignidade dos detentos.

O “treinamento” de Guido, entretanto, n�o surtiu o efeito esperado. Ele conta que levou �gua e comida para os torturados em muitas noites e que n�o participou de nenhuma sess�o de tortura, pois apenas os chamados “doutores” estavam autorizados.

Na casa abandonada, as mem�rias de Guido Ribeiro foram retornando aos poucos. Durante os relatos � Comiss�o Nacional da Verdade, em meados de setembro deste ano, ele suava de calor, mas tamb�m de nervosismo, causado pelas lembran�as.

“Aqui tinha mais presos do que poderia caber numa cela. Eram torturados. O que o senhor pensar de tortura que pode ser feita, foram feitas. Choques, colocava [a pessoa] em cima de duas latinhas e dava choque nas latas. Tinha at� uma m�sica, horr�vel, n�o consigo esquecer aquela desgra�a”, lembra chorando.

“� torturante. A m�sica era assim: 'era um tal de mexe-mexe, era um tal de pula- pula, quem t� em cima n�o cai, quem t� embaixo segura'. E davam o choque.”

Ap�s seis anos, Guido foi dispensado de servir os militares. Alguns dos homens que ele viu sofrer na Casa Azul morreram, e seus corpos seguiram para um local em que eram enterrados clandestinamente a mando dos militares. Nesse local, hoje, funciona o Cemit�rio da Saudade.

Os irm�os Ivan Jorge Dias e Ivaldo Jos� Dias carregaram, entre os anos de 72 e 73, o peso de corpos inocentes para l�. Os irm�os tamb�m foram v�timas de tortura e eram obrigados a fazer o servi�o. Retornar ao cemit�rio com a Comiss�o Nacional da Verdade foi, para eles, mais um ato de coragem.

Ivaldo segurou o choro enquanto mostrava os locais onde possivelmente estariam enterrados alguns corpos da guerrilha que passaram pela Casa Azul. “Me d� vontade de chorar, sinceramente. Eu estou me segurando para n�o chorar de tristeza do que eu passei aqui nessa regi�o, na �poca. Eu n�o estou bem n�o, mas, perto daquela �poca e do que eu passei, estou superado, gra�as a Deus.”

Os sobreviventes ainda hoje sentem muito medo e aguardam uma repara��o pelos danos f�sicos e psicol�gicos por parte do governo brasileiro. Enquanto isso, convivem diariamente com pesadelos e noites mal dormidas nas quais revivem as ang�stias pelas quais passaram.


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