Reduzir a zero o desmatamento da Amaz�nia j� n�o � suficiente para evitar um colapso clim�tico na Am�rica do Sul. � preciso iniciar imediatamente "um esfor�o de guerra" de recupera��o do que foi destru�do nos �ltimos 40 anos no Brasil - uma �rea de 763 mil quil�metros quadrados, equivalente a duas Alemanhas, ou tr�s Estados de S�o Paulo.
As conclus�es s�o de um relat�rio cient�fico que sintetizou mais de 200 estudos sobre o papel da Floresta Amaz�nica no sistema clim�tico, na regula��o das chuvas e na exporta��o de servi�os ambientais para as �reas produtivas do continente. Conduzido por Antonio Donato Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o estudo foi lan�ado ontem em S�o Paulo.
"J� foram destru�das pelo menos 42 bilh�es de �rvores na Amaz�nia. Em 40 anos, foram cerca de 2 mil �rvores por minuto. Os danos dessa devasta��o j� s�o sentidos, tanto no clima da Amaz�nia - que tem sua esta��o seca aumentando a cada ano - quanto a milhares de quil�metros dali", disse Nobre.
Segundo ele, a floresta mant�m �mido o ar em movimento, levando chuvas para regi�es internas do continente. A floresta tamb�m ajuda a formar chuvas em ar limpo - o que n�o acontece no oceano, por exemplo. "O ar �mido � exportado para o Sudeste, o Centro-Oeste e o Sul do Brasil, por rios a�reos de vapor, mais caudalosos do que o Rio Amazonas. Sem isso, o clima nessas regi�es se tornar� quase des�rtico. Atividades humanas como a agricultura entrar�o em colapso", declarou.
Nobre explicou que a Amaz�nia regula o clima do continente gra�as � capacidade da floresta de transferir 20 trilh�es de litros d’�gua por dia para a atmosfera. Segundo ele, a transpira��o das �rvores, combinada � condensa��o vigorosa na forma��o de nuvens de chuva, rebaixa a press�o atmosf�rica sobre a floresta. Com isso, ela "suga" o ar �mido do oceano para o continente, mantendo as chuvas em qualquer circunst�ncia.
"Isso explica por que n�o temos desertos nem furac�es a leste dos Andes. Pelo menos at� agora, porque se continuarmos derrubando a floresta, o fluxo se inverter�: o oceano � que sugar� a umidade da Amaz�nia. Assim, poderemos ter no continente um cen�rio semelhante ao da Austr�lia, com grandes desertos e uma franja �mida pr�xima do mar", afirma o pesquisador.