A feijoada, o samba e a capoeira s�o bens culturais com origem comum: a �frica, de onde vieram quase 5 milh�es de escravos que ajudaram a construir o Brasil. Para conhecer e difundir a influ�ncia negra no cotidiano dos moradores do Morro da Mangueira, zona norte do Rio, professores e alunos da ONG Casa da Arte de Educar fizeram levantamento das pr�ticas culturais africanas na favela.
Os 200 estudantes vasculharam o morro em busca de moradores que ainda cultivam pr�ticas tradicionais passadas por antepassados. S�o rezadeiras, benzedeiras, capoeiristas e m�es de santo. Os jovens, moradores da favela, acharam a M�e Baiana, como Elenita Maria de Souza, de 55 anos, � conhecida.
Candomblecista e baiana de acaraj�, ela segue rigorosamente os dogmas religiosos. "Fa�o tudo como minha av�, M�e Maria Baiana, que me ensinou na inf�ncia. Passo isso para meus filhos, netos e para as crian�as da Casa. � dif�cil manter as tradi��es porque temos de conscientizar as pessoas para depois ensinar sobre cultura, hist�ria e religi�es africanas”.
Ap�s quatro meses de pesquisas, os alunos elaboraram um mapa com todas as regi�es da favela, que surgiu na metade do s�culo 19, com a chegada de ex-escravos e mesti�os. Hoje, segundo o �ltimo censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE), moram na Mangueira cerca de 18 mil pessoas. Eles fizeram ainda um caderno com depoimentos dos moradores e um jogo de tabuleiro sobre a cultura afro.
No caderno, Dona Luzia, de 95 anos, conta que aprendeu o of�cio de parteira com a av�. Hoje, ela passa os conhecimentos aos netos. Sobre o morro, lembra que a localidade do Pendura Saia ganhou o nome porque ali as baianas improvisavam um varal para secar as roupas.
Coordenadora da ONG, Rose Carol da Silva, de 33 anos, lembrou a conversa que teve com V� Nego. "Ele ouvia hist�rias do av�, um africano escravizado no Brasil, e tinha medo que se perdessem com o tempo. Com esse trabalho, ficar�o salvas para as pr�ximas gera��es”. Maria Luiza Rodrigues, de 13 anos, diz que tudo o que descobre na Casa sobre cultura afro-brasileira pode ser usado na escola. "Aprendi sobre diversidade, afinal, todos temos o mesmo hist�rico”.
Colet�nea
Ap�s dez anos de pesquisas, o escritor e professor de Jornalismo da PUC-Rio Carlos Nobre lan�ou no s�bado, 15, o Guia Patrimonial da Pequena �frica. A colet�nea traz 150 bens materiais e imateriais do Rio sobre a contribui��o e a influ�ncia africanas. No dia 20, ser� celebrado o Dia da Consci�ncia Negra, tradicionalmente festejado perto do busto de Zumbi dos Palmares, no centro.
O projeto de Nobre come�ou na regi�o conhecida como Pequena �frica, que abrange os bairros Est�cio e Catumbi (zona norte), Sa�de, Gamboa, Lapa e Pra�as Quinze, Mau� e Tiradentes (centro). Eram locais de desembarque dos africanos escravizados e de grande concentra��o de monumentos e manifesta��es afro-brasileiras.
No entanto, Nobre precisou ampliar a abrang�ncia da pesquisa, j� que h� monumentos e representa��es imateriais por toda a cidade, como escolas de samba e irmandades negras. "A maioria desses monumentos nasceu de iniciativas populares. � o pr�prio povo que cuida desses s�mbolos”.
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ONG estuda heran�a afro na Mangueira
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