A cada hora, um homossexual sofre algum tipo de viol�ncia no Brasil. Nos �ltimos quatro anos, o n�mero de den�ncias ligadas � homofobia cresceu 460%. Segundo n�meros obtidos pelo Estado, o Disque 100, da Secretaria de Direitos Humanos da Presid�ncia da Rep�blica (SDHPR), registrou 1.159 casos em 2011. Neste ano, em um levantamento at� outubro, os epis�dios de preconceito contra gays, l�sbicas, travestis e transexuais j� superam a marca de 6,5 mil den�ncias.
Os jovens s�o as principais v�timas dos atos violentos e representam 33% do total das ocorr�ncias. A cada quatro casos de homofobia registrados no Brasil, tr�s s�o com homens gays. Estudante de Direito na USP, Andr� Baliera, de 29 anos, foi espancado em 2012 por dois homens no bairro de Pinheiros, zona oeste de S�o Paulo. Ele voltava a p� para casa pela Rua Henrique Schaumann quando dois jovens o ofenderam por causa de sua orienta��o sexual. Depois de uma discuss�o, acabou agredido pela dupla.
“Nos primeiros dias, n�o sa�a de casa. Fui ao psiquiatra, tomei rem�dios e fiquei seis meses sem passar na frente do posto em que fui agredido”, conta Baliera. Quase dois anos depois, receio e medo ainda est�o presentes no dia a dia, assim como o preconceito. “Em junho deste ano, estava com meu namorado assistindo a um filme em Santos e fomos xingados de ‘viados’ dentro do cinema. Chamei a pol�cia na hora”, disse.
Para a SDHPR, o crescimento das den�ncias � um fator positivo para combater a viol�ncia homof�bica. A coordenadora da �rea LGBT, Samanda Freitas, diz que o desafio � apurar os crimes. “Precisamos melhorar o atendimento desses casos e isso passa por um treinamento dos policiais para que identifiquem os crimes de �dio LGBT e investiguem com o mesmo cuidado que as demais ocorr�ncias”, afirmou.
Cerca de 26% dos casos acontecem nas ruas das grandes cidades. Em 2007, a transexual Renata Peron voltava de uma festa com um amigo quando nove rapazes os cercaram na Pra�a da Rep�blica, centro da capital paulista. Trinta minutos de viol�ncia foram tempo suficiente para chutes, socos, xingamentos, tr�s litros de sangue e um rim perdidos por Renata. “Ningu�m foi preso e fica um sentimento de pena. Nem bicho faz essas coisas. Passei seis meses fazendo terapia para entender a raz�o de ter sido agredida.”
Assassinatos
O filho de Avelino Mendes Fortuna, de 52 anos, n�o teve a mesma sorte. Ontem fez dois anos que Lucas Fortuna, de 28, morreu assassinado em Santo Agostim, no Grande Recife, em Pernambuco. Jornalista, foi espancado por uma dupla de homens e jogado ainda vivo no mar. Os assassinos foram presos e confessaram o crime por homofobia, mas no inqu�rito a pol�cia trata o caso como latroc�nio.
Depois da morte, Avelino virou ativista na ONG M�es pela Igualdade, que luta pelo fim da discrimina��o contra homossexuais e pelo engajamento dos pais LGBTs na vida de seus filhos. “O pai que n�o sai do arm�rio juntamente com seu filho se torna c�mplice da morte e da agress�o dele no futuro”, afirmou. “Um dos nossos objetivos � fazer com que os pais participem, lutem pelos direitos da sua fam�lia.”
Preconceito. A discrimina��o e a viol�ncia psicol�gica, no entanto, est�o entre as ocorr�ncias mais comuns registradas na SDHPR e delegacias especializadas em Direitos Humanos. Cerca de 76% dos casos s�o de homossexuais que sofrem preconceito no trabalho, ass�dio moral e persegui��o. No Maranh�o, o professor universit�rio Gl�cio Machado Siqueira, da Universidade Federal do Maranh�o (UFMA), tem sido alvo de ofensas pelos estudantes de Ci�ncias Agr�rias. “Desde o come�o do ano, recebo amea�as, inj�rias e boicotes das minhas aulas por causa da minha orienta��o sexual. Entrei em contato com todas as inst�ncias da universidade e a resposta que recebi foi o sil�ncio”, reclama.
A Organiza��o dos Advogados do Brasil (OAB) entregou queixa-crime para a UFMA. A reportagem entrou em contato com a universidade, que n�o se manifestou. “� triste ver que em uma universidade, onde estamos para expandir conhecimentos, acontece essa homofobia velada. A minha tristeza foi convertida em luta pelos direitos humanos. Espero que mais homossexuais tomem coragem para fazer o mesmo.”