Adamantina, 08 - O bispo de Mar�lia (SP), dom Luiz Antonio Cipolini, foi acuado dentro da Igreja Matriz de Adamantina, tamb�m no interior paulista, e teve de sair escoltado por policiais militares, na noite deste domingo, 7.
O bispo estava na cidade para comandar a missa de Crisma, quando cerca de 2 mil pessoas se reuniram em um protesto do lado de fora da igreja para lhe cobrar explica��es sobre a substitui��o do padre negro Wilson Lu�s Ramos. Com medo, dom Luiz se trancou na igreja e s� saiu por volta das 23h, 1h50 depois do final da missa.
Antes de sair escoltado, o bispo enfrentou momentos de constrangimento j� dentro da igreja, que estava lotada. Dom Luiz teve de interromper a cerim�nia religiosa, que j� estava na sua fase final, ao ser vaiado pelos fi�is, revoltados com a sa�da de padre Wilson.
Sem que o bispo desse alguma explica��o sobre a sa�da do padre em seu serm�o, manifestantes, na maioria jovens com narizes de palha�o, levantaram cartazes e gritavam "fica, padre Wilson". Em seguida, gritando a palavra "indigna��o", os manifestantes passaram a jogar moedas no altar da igreja. Diante do barulho provocado pelo protesto, o bispo interrompeu a missa e repassou o microfone ao padre Wilson, que pediu aos manifestantes para parar, mas n�o foi atendido.
Os jovens continuaram gritando, ainda por alguns minutos, e foram apoiados pelo restante dos fi�is, que lotava a igreja - de 1,2 mil lugares - e batia palmas. A revolta com a substitui��o do padre continuaria do lado de fora da igreja, ap�s o encerramento da missa. Cerca de 2 mil pessoas gritavam frases contra o racismo e contra o bispo, porque ele demorava a sair.
"N�s s� queremos que ele nos explique por que est� retirando o padre de nossa cidade. Para n�s, fica cada vez mais evidente que se trata de um ato de racismo", disse o vendedor Paulo Roberto Scavassa, que frequenta a Par�quia Santo Ant�nio de P�dua h� mais de 30 anos.
Padre Wilson foi o primeiro negro a assumir a principal par�quia de Adamantina, mas, ao contr�rio dos padres anteriores que ficaram mais de dez anos, Ramos permaneceu na cidade somente por menos de dois anos.
Depois de quase uma hora de espera, padre Wilson saiu e tentou conversar com os manifestantes. "Deixem o bispo sair, por favor", implorou ele. Em resposta, os manifestantes gritavam "n�o", para em seguida gritar "explica��o, explica��o".
Ao perceber que n�o conseguiria convencer ningu�m, o padre retornou para dentro da igreja, aos gritos de "Fica, padre Wilson". J� passava das 23 horas quando o bispo deixou a igreja, escoltado por dezenas de PMs.
Enquanto dom Luiz sa�a, a multid�o o chamava de "racista" aos gritos. Mas o bispo ainda teria de retornar a Mar�lia dentro do carro de um sargento da PM, porque o carro dele teve os pneus esvaziados e foi riscado pelos manifestantes.
A manifesta��o foi a segunda ocorrida em dois dias seguidos em Adamantina. No s�bado, 6, cerca de 2 mil pessoas, vestidas de preto e com velas nas m�os e faixas condenando o racismo, fizeram uma passeata em apoio ao padre.
Colaboradores
A substitui��o foi pedida ao bispo por um grupo de fi�is ricos e conservadores, colaboradores da igreja, que tinham sido substitu�dos pelo padre de cargos de coordena��o da par�quia que ocupavam havia 13 anos.
O grupo estaria descontente com a op��o dada pelo padre aos pobres e jovens usu�rios de drogas, que passaram a frequentar a principal igreja da cidade desde que o padre chegara a Adamantina havia dois anos. Neste per�odo, Ramos sofreu preconceito por parte de fi�is.
"Outro dia vi duas mulheres dizendo que deveriam substituir o galo do alto da torre da igreja por um urubu", contou o padre em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo na semana passada. Na mesma ocasi�o, o pr�prio bispo relatou o preconceito sofrido pelo padre.
Nesta segunda-feira, 8, padre e bispo n�o foram localizados para falar sobre as manifesta��es. Padre Wilson deixou o celular na caixa postal e o telefone da casa do bispo estava no fax. Segunda-feira � dia de folga dos religiosos. Pela circular expedida pelo bispo na sexta-feira, 5, padre Wilson deve deixar a casa da par�quia at� esta ter�a-feira, 9.