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Estado de Minas LUTO NA M�SICA

Cantora Inezita Barroso morre aos 90 anos


postado em 09/03/2015 06:55 / atualizado em 09/03/2015 07:09

(foto: divulgação)
(foto: divulga��o)
 

A viola emudeceu. Aos 90 anos, morreu na noite deste domingo, 8, a cantora e apresentadora de TV Inezita Barroso. Ela estava internada desde o dia 19 de fevereiro no Hospital S�rio Liban�s, em S�o Paulo.

Inezita viu tudo. Era um livro de hist�ria viva, daqueles com notas de rodap� e trilha sonora. A �ltima testemunha ocular a ter caminhado sobre a pr�pria linha do tempo da m�sica sertaneja. Soube o que queria ser bem cedo, com 7 anos. Ou antes. O fato � que, enquanto sa�a do ventre de sua m�e, em pleno domingo de carnaval, na casa da Rua Conselheiro Brotero, na Barra Funda, zona oeste de S�o Paulo, passava em frente o Cord�o Carnavalesco Camisa Verde, futura escola de samba com o mesmo nome.

"Nasci ouvindo marchinha paulista", disse em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, em janeiro de 2012. Quando fez 7 anos, descobriu o mundo dos homens, o universo dos violeiros. Na grande casa da Barra Funda, esperava o pai autorizar para que pudesse subir na mesa da sala para cantar para os coron�is que frequentavam a fam�lia. Era a hora de seu show. Um dia, cantou um tango de letra considerada indecente e teve sua carreira gongada. Entristecida por n�o poder mais cantar para sua plateia foi socorrida por uma tia que prometeu coloc�-la nas aulas de viol�o.

As seis cordas n�o agradaram a m�e, que preferia ver a filha casada com um advogado ou farmac�utico, mas a m�sica n�o parava de cham�-la. Quando ia passar f�rias em uma das fazendas da fam�lia, deixava as primas na casa grande, pulava a janela e ia ver os colonos tocando viola. No dia em que um viol�o caiu em suas m�os, ela atacou de Boi Amarelinho. E teve caboclo marmanjo chorando baixinho.

(foto: divulgação)
(foto: divulga��o)

Viagem
Quando chegou a d�cada de 1960, Inezita j� tinha �mpetos de pesquisadora. O mundo sertanejo era maior que o interior de S�o Paulo. Sertanejo n�o, ela n�o suportava essa nomenclatura por uma quest�o geogr�fica. "Sertanejo existe onde tem sert�o. Aqui em S�o Paulo � m�sica caipira. Por acaso, voc� j� foi ao sert�o de Jundia�?"

Decidida a desbravar as profundezas do Brasil, conseguiu um Jipe e dirigiu at� a Para�ba, onde iria gravar um filme sobre a Guerra do Paraguai. Foram dois meses de viagem, anotando literalmente todas as notas musicais que encontrava pelo caminho. Como n�o tinha gravador, escrevia uma a uma do que ouvia das culturas locais em folhas com pentagramas musicais.

Sua aventura rendeu hist�ria. Quando chegou a Salvador, testou as tra��es nas quatro rodas subindo de Jipe as escadarias da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim.

Mais � frente, no interior da Bahia, ficou encantada por um cantador e passou a anotar rapidamente o que ele cantava, at� que um caminhoneiro parou a seu lado ouvindo em alto volume a R�dio Nacional.

"N�o consegui ouvir mais nada. Perdi o que aquele homem cantava." Em outra cidade, resolveu testar sua mira. Apontou a espingarda que levava consigo para um objeto voador e atirou: "Caiu um urubu do meu lado, que horr�vel aquilo. Nunca mais dei um tiro".

A 'Moda da Pinga' � uma das can��es mais conhecidas de Inezita. Assita


Viol�o quebrado

Sua derrota, uma das poucas da trajet�ria, se daria na volta. Inezita queria que alguma emissora de r�dio ou de TV exibisse sua pesquisa.

Depois de levar o oitavo n�o, ela quebrou o viol�o, fez uma fogueira e jogou nas chamas todo o material recolhido pelo Brasil. Um jogo perdido dentre vit�rias inquestion�veis, como os seus mais de 80 discos lan�ados, quase dez filmes e a conquista de uma autonomia art�stica em um programa de televis�o na Cultura, com 35 anos de dura��o, mostrando apenas a leg�tima m�sica do Brasil.

Pensando bem, aquela fogueira n�o queimou nada. Tudo o que Inezita Barroso viu pelo Pa�s afora ficou bem guardado, fortalecendo a maior defensora das tradi��es culturais que o Brasil j� teve.


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