S�o Paulo, 31 - A estudante Bianca Aguilar, de 16 anos, est� conformada. H� dois meses sem aula, a aluna do 3.� ano do ensino m�dio j� espera uma nota ruim no Exame Nacional do Ensino M�dio (Enem) neste ano. A colega de sala Amanda Beatriz, de 17, recorreu a um cursinho para cumprir as exig�ncias dos vestibulares. J� Al�cia Uchoa, de 16, da mesma turma, n�o se sente preparada para as avalia��es.
As tr�s estudam na Escola Estadual Comendador Mario Reys, em Itaquera, zona leste de S�o Paulo, uma das unidades que aderiram � greve dos professores da rede estadual. A paralisa��o pode se tornar a maior da hist�ria caso continue at� quinta-feira, um dia ap�s a pr�xima assembleia da categoria. A maior greve at� agora aconteceu em 1989, quando os docentes cruzaram os bra�os por 80 dias.
Segundo o trio, a escola ficou pelo menos dois meses sem aulas desde o dia 16 de mar�o, quando teve in�cio a greve. A Secretaria Estadual de Educa��o diz que a taxa de aus�ncia de professores nesta semana em toda a rede estadual foi de 4%. Ao longo da greve, segundo a pasta, este �ndice ficou entre 5% e 10%. J� o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de S�o Paulo (Apeoesp) fala em 30% de ades�o em maio - metade em rela��o a abril.
As alunas s� conseguiram retomar os estudos h� duas semanas, ap�s reuni�o de pais na escola. "Fomos avisadas pelos professores que, mesmo se a gente fosse para a escola, precisar�amos repor todas as aulas depois", contou Al�cia. Mesmo agora, dizem elas, h� pelo menos duas aulas vagas por dia. "Eu s� venho de segunda, ter�a e sexta", disse Amanda. De acordo com as jovens, ainda n�o h� aulas de Portugu�s, Hist�ria, Geografia, Artes, Biologia e F�sica.
Apesar de a escola ainda enfrentar falta de corpo docente, o sindicato dos professores admitiu que a situa��o geral da greve enfraqueceu na �ltima semana. Com o corte de sal�rio dos docentes definido pela Justi�a desde maio, muitos voltaram para a sala de aula. A Apeoesp espera reverter os descontos em um recurso no Supremo Tribunal Federal (STF).
Mesmo com boas notas, os problemas da escola e a paralisa��o causaram preocupa��o �s alunas. "Como eu vou fazer se n�o passar no Enem? Sou realista. Uma faculdade custa R$ 2 mil", disse Bianca. No per�odo sem aulas, as jovens afirmaram ter ficado em casa estudando por conta pr�pria. Al�cia j� pensa em trocar uma faculdade de Psicologia por um curso t�cnico de Inform�tica.
Ainda que a greve termine, as estudantes falam em ano perdido, porque ser� mais dif�cil absorver todo o conte�do das aulas repostas. "Eu n�o tenho no��o nenhuma de Matem�tica neste ano", reclamou Amanda, que desaprova a paralisa��o. "N�s fomos prejudicadas. Quero prestar o Enem. E a�, como fica? Cad� as mat�rias?", criticou. "Os professores daqui s�o �timos. Eles nos deram satisfa��o sobre a greve e sempre nos apoiam, por que eu n�o deveria apoi�-los?", discordou Al�cia.
A paralisa��o dos professores corre o risco de terminar sem avan�os. Enquanto os docentes reivindicam reajuste salarial de 75,33%, o governo Geraldo Alckmin (PSDB) j� afirmou que n�o vai negociar reajuste at� julho. Em nota, a Secretaria Estadual da Educa��o informou que n�o houve suspens�o das aulas, mas n�o disse quantos professores tempor�rios foram recrutados. A pasta ressaltou que "n�o pactua com a atua��o dos grevistas, que de maneira absurda t�m solicitado que os pais n�o enviem seus filhos �s aulas". As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.