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Estado de Minas

Caetano Veloso d� bronca em v�deo e ensina a usar a crase

Equipe que gerencia as redes sociais do cantor escreveu "homenagem � Bituca", em uma refer�ncia a Milton Nascimento


postado em 24/06/2015 07:12 / atualizado em 24/06/2015 07:18

Na defini��o do dicion�rio, a crase � a contra��o ou fus�o de duas vogais id�nticas (dois 'as') em uma s�. Esse sinal min�sculo foi respons�vel por um grande ru�do ontem. Um acento grave fora de lugar num post publicado no dia 11 no Facebook de Caetano Veloso sobre um encontro dele e Milton Nascimento no encerramento de um show da banda D�nica, provocou a ira do m�sico baiano em rela��o � equipe que cuida de suas redes sociais. O emprego incorreto da crase ocorreu na express�o “homenagem � Bituca (sic)”, que se refere ao apelido do mineiro, e foi corrigido na segunda-feira.


Numa grava��o em v�deo, Caetano deu uma aula de como usar a contra��o de preposi��o e artigo e chamou seus assistentes � responsabilidade. “Levamos uma bronca do professor Caetano! Kkkkk. Prometemos estudar mais portugu�s!”, revelaram os integrantes da equipe, sem dar margem a m�goa.

A declara��o do autor de Sampa e Odara no mundo virtual repercutiu � exaust�o. A grande maioria aprovou o pux�o de orelhas em sua produ��o. “No m�nimo, levanta uma discuss�o sobre a nossa l�ngua. � muito bacana ver um coment�rio como esse e n�o deixa de ser uma contribui��o interessante”, opina o cantor, compositor e escritor Vitor Ramil, em entrevista ao Estado de Minas. O m�sico ga�cho tem um livro sobre o assunto, A primavera da pontua��o (Cosac & Naify), no qual a crase � uma das personagens – e � gaga.

� do imortal Ferreira Gullar a afirma��o de que “a crase n�o foi feita para humilhar ningu�m”. Mas o m�sico mineiro Pablo Castro apoia a atitude de Caetano, por julgar que corrigir um erro n�o � demonstrar superioridade, mas sim uma maneira de valorizar a l�ngua e o pa�s. Pablo se lembra de um caso curioso ocorrido no come�o do ano, durante o concurso das marchinhas de carnaval de Belo Horizonte, quando sua can��o, que ficou em 5º lugar, quase foi mal-interpretada justamente pelo uso da crase. “A letra falava: 'O Carnaval vai tirar do desespero a alegria', sem crase, e o pessoal come�ou a colocar a crase, achando que era ‘do desespero � alegria’. Tinha um sentido completamente diferente. Olha como um mero detalhe muda tudo.”

Na opini�o de Castro, o fato de as pessoas n�o saberem utilizar a crase n�o � fruto apenas da desvaloriza��o do ensino, mas tamb�m de n�o terem um contato mais profundo com a l�ngua, seja atrav�s da leitura de livros e jornais ou da pr�pria escrita. “Acho que apenas 15% dos alfabetizados sabem utiliz�-la, e isso � muito grave. A gente v� esse tipo de erro at� em placa de museu. Se est� errado, temos que reclamar, igual fez o Caetano.”

J� o cantor e compositor carioca Pedro Lu�s acredita que h� um certo descuido com a l�ngua na internet e, consequentemente, erros acabam acontecendo. “Cria-se uma linguagem cifrada. Procuro usar o portugu�s da maneira mais adequada, mesmo no Twitter, no Face, at� porque a l�ngua � um elo de perman�ncia de uma cultura.” Com rela��o � crase, Pedro diz que j� teve problemas em textos nas redes sociais e artigos. Ele brinca que, no caso do post no Facebook de Caetano, acabaram transformando Bituca, um substantivo masculino, numa guimba de cigarro. “Nesse caso, Bituca era um nome pr�prio de um homem, Milton Nascimento, e n�o poderia ter crase de jeito nenhum”, explica.

BOSSA NOVA Para o pesquisador Ricardo Cravo Albin, o erro no uso da crase era muito comum, especificamente, na m�sica popular dos anos 1930 aos 1950. “A partir da Bossa Nova � que come�aram a surgir preocupa��es com a escrita na �rea, especialmente com a entrada em cena de Vinicius de Moraes, poeta especializado na l�ngua portuguesa”, afirma o pesquisador. Segundo avalia, os erros de portugu�s continuam comuns na chamada m�sica kitsch, mais descompromissada com o uso da norma culta. “S�o erros normais, comuns principalmente no rap”, diz.

De acordo com Cravo Albin, foi a partir da entrada em cena do n�cleo essencial da Bossa Nova, que reunia Tom Jobim, Vinicius de Moraes e Jo�o Gilberto, que passou a existir um zelo maior com a l�ngua na m�sica. “Vinicius, em especial, era uma ex�mio conhecedor e manejador da l�ngua portuguesa”, afirma. Para ele, Caetano Veloso tem “toda raz�o” ao cobrar uma escrita aprimorada do portugu�s. “Primeiro, porque cuidar da l�ngua � uma obriga��o de quem escreve. Depois, porque isso � uma demonstra��o cultural.”

“Caetano escreve magistralmente, conforme provam n�o apenas as letras de m�sica de sua autoria, mas, principalmente, os livros que publicou”, diz Ricardo Cravo Albin. O pesquisador avalia que o uso da crase em Bituca, que desatou a ira de Caetano, � produto do automatismo em que vivemos, j� que a palavra, embora feminina, na ess�ncia � um apelido masculino, no caso, de Milton Nascimento.

Encontro de "as"

A crase ocorre “quando a preposi��o a encontra o artigo definido a ou a inicial dos pronomes demonstrativos aquele, aquela, aquilo (…). Excluindo-se esse caso, s� haver� crase antes de palavra feminina, clara ou subentendida”, ensina a professora Dad Squarisi, que ainda d� a dica para evitar trope�os: substituir a palavra feminina por uma masculina. Se aparecer ao, � sinal de acento grave. Exemplo: Fui a cidade. Com ou sem crase? Se trocarmos cidade por teatro, teremos fui ao teatro. Logo, fui � cidade.


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