Genebra e Itaquaquecetuba, 26 - Os ciganos no Brasil enfrentam discrimina��o, principalmente no que se refere ao acesso � educa��o. O alerta foi feito por Rita Izs�k, relatora especial sobre o Direito de Minorias da Organiza��o das Na��es Unidas (ONU), que critica a situa��o em acampamentos do Pa�s. "Muitos n�o t�m eletricidade, �gua pot�vel e saneamento, apesar de fam�lias viverem ali por mais de 20 anos", diz a entidade em relat�rio oficial.
Segundo a ONU, cerca de 500 mil ciganos vivem no Brasil, mas o pr�prio governo admite que os dados sobre essa parcela da popula��o s�o "incipientes". Uma das �nicas refer�ncias � a da Associa��o Internacional Mayl� Sara Kali (AMSK), que analisou os dados da Pesquisa de Informa��es B�sicas Municipais de 2011 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE) e constatou que existem no Brasil 291 munic�pios com acampamentos ciganos, em 21 Estados. As maiores concentra��es est�o em Minas Gerais (58), Bahia (53) e Goi�s (38). Desses 291 munic�pios, 40 afirmaram desenvolver pol�ticas p�blicas para povos ciganos.
De acordo com o levantamento divulgado pelo Comit� de Direitos Humanos e pelo Comit� de Elimina��o da Discrimina��o Racial da ONU, h� uma generaliza��o dos casos de discrimina��o, "incluindo casos de racismo e da n�o aplica��o da lei nacional correspondente, nos casos em que as v�timas s�o ciganas".
Outra preocupa��o apontada pelo relat�rio � a dificuldade de acesso � escola e a alta taxa de analfabetismo. "O preconceito � um obst�culo para o ingresso em escolas p�blicas", indicou o informe. A ONU destaca ainda que, nos �ltimos dez anos, pouco mudou a situa��o dessa popula��o no que se refere � educa��o, apesar de iniciativas pontuais de governo.
Testemunho
"As pessoas s� querem saber de amores e de morte", conta a cigana e vidente Simone Bulh�es, de 32 anos. Ela l� as m�os de quem passa na S� e no Br�s, na regi�o central de S�o Paulo, a troco "do que podem pagar".
Mora com o marido, que trabalha como camel�, e duas filhas, uma de 6 e outra de 13 anos. Dividem um barraco colorido, com cortinas azuis na entrada, tapetes e decora��o por toda a parte, em um terreno invadido h� mais de 20 anos em Itaquaquecetuba, regi�o metropolitana de S�o Paulo. O acampamento � da etnia Calon, a que tem mais representantes no Pa�s.
Com o dinheiro que recebem, pagam �gua e luz, ambos puxados em forma de "gato" de um com�rcio pr�ximo. Pelo "empr�stimo" dos insumos, pagam R$ 100 por m�s. Fios el�tricos e longas mangueiras s�o comuns n�o s� no barraco de Simone, mas nos de toda a comunidade. A estrutura dos barracos do acampamento � prec�ria: n�o h� saneamento b�sico no local e todas as instala��es s�o improvisadas. O mato � alto em todo o terreno e, quando chove, formam-se po�as d��gua em todo o per�metro do local. E banheiro? "A gente faz no mato mesmo", revelou Simone.
Tradi��es
"Cigano � que nem pol�cia, todo mundo tem medo", disse a dona de casa Rosimar Moreira, de 35 anos. A filha mais velha, Lindaiara, de 17, deixou os livros, analfabeta como a m�e. A jovem engravidou de um rapaz da comunidade, de 18 anos. Casou-se e agora moram no barraco ao lado do da m�e. O enlace foi combinado antes mesmo de os noivos terem se conhecido. "Descubro o marido depois que casei. � da nossa tradi��o", contou.
Algumas tradi��es n�o se perdem. Simone, assim como as filhas, veste saias longas. Outros costumes, no entanto, n�o s�o restritos ao Calon. A filha Jussara, de 13 anos, por exemplo, v� novela - em TV de 42 polegadas - e ouve sertanejo universit�rio. "Ser cigana � ser livre", disse a menina, que como os familiares divide a rotina entre acampamento, afazeres dom�sticos e viagens pelo Brasil.
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ONU critica Brasil por discriminar ciganos
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