RESPLENDOR (MG), 16 - Desde a sexta-feira passada, �ndios da etnia Krenak ocupam a linha f�rrea da mineradora Vale no munic�pio de Resplendor, no leste do Estado de Minas. Com a cultura e a subsist�ncia dependentes do Rio Doce, o povo ind�gena resolveu protestar contra a polui��o do rio pela lama de rejeitos proveniente do rompimento das barragens em Mariana. Eles pedem amplo apoio da Vale para a recupera��o da regi�o e, a curto prazo, �gua pot�vel.
No fim da semana passada, a linha foi ocupada por galhos de �rvores em chamas e desde ent�o impedem a passagem de vag�es da mineradora na linha que liga a regi�o metropolitana de Vit�ria a Belo Horizonte. A linha chegou a ser ocupada em diferentes pontos nos �ltimos tr�s dias, mas foi desocupada ap�s ordens judiciais favor�veis � Vale. No Esp�rito Santo, o movimento foi liderado pela prefeitura de Baixo Guandu, que colocou tratores da administra��o p�blica nos trilhos.
O movimento dos �ndios, por�m, n�o arrefeceu. Na tarde desta segunda-feira, 16, centenas deles, com muitas crian�as, permaneciam no local acampados sob lonas pl�sticas pretas e em barracas de camping na expectativa do resultado de uma reuni�o com a mineradora em busca de um acordo. Lideran�as relataram que est�o conseguindo manter �gua no local somente por meio de doa��es.
"Nossa exist�ncia est� profundamente ligada ao rio. Quando soubemos da lama, a aldeia entrou em choque. Nossa subsist�ncia vem dele, a pesca e todos os rituais. O momento � desesperador", disse a professora Shirley Krenak, de 36 anos, uma das cerca de 760 integrantes da aldeia.
Segundo ela, um caminh�o-pipa chegou a ser enviado para a regi�o, mas a �gua n�o tinha condi��es de potabilidade. "N�o temos �gua nem para beber. S� estamos aqui por causa das doa��es que est�o chegando." Shirley disse que a ocupa��o permanecer� ocorrendo at� que o problema seja resolvido. "N�o queremos apoio de quatro meses, como j� foi proposto a n�s. Queremos a revers�o do problema no rio, nossa vida de volta."
Barqueiro h� 29 anos, Jos� Damasceno, o Zez�o, de 62 anos, atravessa de uma margem a outra do Rio Doce diariamente. Nesta segunda, remava devagar enquanto relatava a tristeza da sua nova rotina sobre o rio cor de laranja. "O pessoal vem na beira rio, senta e chora. � muito triste ver o rio que voc� aprendeu a nadar e que voc� queria ensinar seus netos a nadar dessa forma. Vou te contar que eu tamb�m n�o aguento", disse.
Na margem, aponta para peixes e camar�es que se acumulam em estado de decomposi��o na margem. "Tem um pessoal mais antigo aqui que n�o aceita a situa��o, n�o consegue entender. J� vimos gente se banhando no rio mesmo com lama. Eles n�o gostam de chuveiro", contou.
A reportagem fez questionamentos � Vale sobre um eventual acordo com os �ndios e como a empresa est� encarando o protesto, mas n�o houve resposta at� a noite desta segunda.