
O corpo da atriz Mar�lia P�ra foi enterrado na tarde deste s�bado no Cemit�rio S�o Jo�o Batista, em Botafogo, zona Sul do Rio do Rio de Janeiro. A cerim�nia foi discreta e contou basicamente com a presen�a de familiares e amigos de Mar�lia, conhecida tamb�m por ser reservada.
Dama da dramaturgia brasileira, ela morreu no in�cio da manh�, em sua casa no Rio, aos 72 anos. Mar�lia P�ra passava por um tratamento para um desgaste �sseo na regi�o lombar, que a fez se afastar do trabalho por um ano e interromper sua participa��o nas grava��es na s�rie "P� na Cova", da TV Globo. Pessoas pr�ximas � atriz confirmaram que ela lutava h� anos contra um c�ncer no pulm�o, que tamb�m atingiu os ossos.
Mais cedo, o corpo de Mar�lia foi velado na sala que leva o nome dela, no Teatro do Leblon. Os filhos da atriz, Ricardo Gra�a Mello, Esperan�a Motta e Nina Morena, estiveram na casa dela, em Ipanema, mas n�o quiseram falar com a imprensa, pedindo reserva “nesse momento de dor”.
In�meros artistas e amigos se manifestaram no perfil de Mar�lia P�ra no Facebook. “Amava Mar�lia me dirigiu numa pe�a e era minha amiga! Arrasado”, comentou o ator Marcelo Serrado. Em nota divulgada por sua assessoria de imprensa, o prefeito Eduardo Paes disse que “o Rio de Janeiro perdeu hoje um dos seus maiores talentos art�sticos e eu, uma grande amiga. Mar�lia P�ra era uma das grandes damas da arte brasileira, uma artista completa. Uma carioca que sempre brilhou nos palcos e nas telas do cinema”. Ainda segundo o prefeito, que enviou condol�ncias aos parentes, amigos e f�s, “o Rio de Janeiro tem orgulho dessa estrela. Hoje, todos os aplausos s�o para ela. Seus personagens estar�o marcados para sempre em nossas mentes”.
Por sua vez, o governador Luiz Fernando Pez�o se manifestou em nota afirmando que Mar�lia P�ra expressou seu talento a dezenas de personagens marcantes. “Personagens que passaram a fazer parte da fam�lia brasileira. � com muita tristeza que recebo a not�cia de sua morte. Todos os nossos aplausos para essa atriz, que soube interpretar a vida de forma estupenda", disse o governador.
Dedica��o ao teatro
“O teatro � a minha vida", dizia Mar�lia. E n�o havia um pingo de clich� nisso. "Cria" da companhia de Henriette Morineau, a atriz frequentou uma escola de fazer inveja a artistas que hoje se formam na universidade. Cresceu assistindo a performances de Henriette – mestra da trag�dia – e de Dulcina de Moraes – mestra da com�dia.Respeitada pela cr�tica, essa atriz de opini�es firmes foi amada por seu povo.
Manoel n�o queria saber de filha artista, pois a profiss�o sempre imp�s sacrif�cio � fam�lia – sobretudo �s mulheres, obrigadas a lidar com o preconceito. Mas ele acabou incentivando a garota a estudar bal� cl�ssico. N�o teve jeito: Mar�lia passou a dan�ar – ao vivo – na TV. Atuou nos programas Espet�culos Tonelux, Grande Teatro Tupi, Teatrinho Troll e C�mera um. Dos 14 aos 21 anos, a jovem bailarina ganhava a vida em musicais.
Em 1959, ela se casou com o ator Paulo Gra�a Mello, mas a rela��o durou pouco. Aos 18, em 1961, j� excursionava por Brasil e Portugal com a pe�a Society em baby-doll, de Henrique Pongetti. Em 1962, atuou ao lado de Bibi Ferreira em Minha querida lady.
Mar�lia P�ra praticamente viu a Rede Globo nascer: a partir de 1965, integrou o elenco das novelas Rosinha do Sobrado, Padre Ti�o e A moreninha. Em 1968, l� estava ela marcando presen�a num cl�ssico da TV brasileira: a novela Beto Rockfeller, de Br�ulio Pedroso, transmitida pela Tupi.
Na d�cada de 1960, Mar�lia atuou em montagens emblem�ticas para a cultura brasileira. Se correr o bicho pega (Oduvaldo Vianna Filho e Ferreira Gullar), A �pera dos tr�s vint�ns (Bertold Brecht e Kurt Weill) e Roda viva (Chico Buarque de Holanda) foram apenas algumas delas. Em 1969, foi premiada por sua atua��o em Fala baixo sen�o eu grito, de Leilah Assump��o, que tamb�m produziu. Em 1973, a produtora e atriz conquistou cr�ticos e p�blico em Apareceu a Margarida, de Roberto Athayde, dirigida por Aderbal Freire-Filho. Em 1978, estreou como diretora em A menina e o vento, de Maria Clara Machado.
Mar�lia tomou a frente de espet�culos memor�veis: em 1981, atuou e produziu, em parceria com Marco Nanini, Doce deleite, com textos de Alcione Ara�jo, Mauro Rasi, Vicente Pereira e Jos� M�rcio Penido, sob dire��o do mineiro Alcione Ara�jo. Em 1984, ganhou o Pr�mio Moli�re por Brincando em cima daquilo, com textos de Dario Fo e Franca Rame. Em 1986, dirigiu, coreografou e produziu um megassucesso: O mist�rio de Irma Vap, de Charles Ludlam, estrelado por Marco Nanini e Ney Latorraca. Deslumbrou os franceses como Coco Chanel em Mademoiselle Chanel (2004).O guarda-roupa, vindo da Fran�a, contou com pe�as originais.
Cinema
Mar�lia P�ra atuou em tr�s dezenas de filmes. Seu papel mais marcante foi como a prostituta Suely em Pixote, a lei do mais fraco (1981), longa dirigido por Hector Babenco, que lhe rendeu um pr�mio da cr�tica norte-americana. Antes, havia contracenado com Paulo Jos� em Rei da noite (1975), tamb�m de Babenco. Fez a sens�vel Ana, em Bar Esperan�a (1983), de Hugo Carvana; foi Irene, a amiga de Isadora (Fernanda Montenegro), em Central do Brasil (1998), de Walter Salles; e, no papel de dona Gra�a, deu uma for�a aos mineiros Ilvio Amaral e Maur�cio Cangu�u na adapta��o para as telas de Acredite, um esp�rito baixou em mim (2006), dirigida por Jorge Moreno. Em 2008, foi dirigida pelo amigo Miguel Falabella em Polaroides urbanas, no papel das g�meas Magda e Magali. Em 1996, o cineasta Cac� Diegues lhe deu um presente: o papel da rabugenta Perp�tua, a irm� da esfuziante protagonista vivida por S�nia Braga em Tieta do agreste.
Musicais
Cantora afinada, a atriz carioca participou de v�rios musicais: foi Carmen Miranda nos espet�culos A pequena not�vel (1966) e Mar�lia P�ra canta Carmen Miranda (2005). "Incorporou" Dalva de Oliveira em A estrela Dalva (1987) e Maria Callas em Master class (1996).
Televis�o
Mar�lia P�ra era uma das atrizes mais queridas de seu povo. Boa parte da carreira se deu na na Rede Globo. Em 1971, conquistou o pa�s com sua Shirley Sexy na novela O cafona, de Br�ulio Pedroso, fazendo par com o gal� Francisco Cuoco. Em Bandeira 2, de Dias Gomes, fez o papel de uma taxista – sem saber dirigir. Em 1974, protagonizou Supermanoela, de Walther Negr�o. A atriz participou de outro marco da televis�o brasileira: a miniss�rie feminista Quem ama n�o mata (1982), dirigida por Daniel Filho, inspirada no assassinato da socialite mineira �ngela Diniz pelo companheiro, o playboy Doca Street.
Em 1987, Cassiano Gabus Mendes escreveu para ela a Rafaela Alvaray em Brega e chique. Mar�lia foi vov� maluquete em Come�ar de novo (2004), a aristocrata Gioconda em Duas caras (2007) e Maruschka Lemos de S� em Aquele beijo (2011). Nas miniss�ries, atuou em O primo Bas�lio (1988), na qual julgava ter feito seu melhor papel na TV, o da vil� Juliana. Outros trabalhos foram Os maias (2001) e JK (2006), de Maria Adelaide Amaral, como a primeira-dama Sara Kubitschek.
O �ltimo papel de Mar�lia na TV foi como Darlene, a maquiadora de defuntos do seriado P� na cova, na Rede Globo, ao lado de seu amigo Miguel Falabella, atualmente em cartaz.
Com ag�ncias