Recife, 07 - Equipes sanit�rias de Pernambuco est�o � procura de beb�s com suspeita de microcefalia que nunca chegaram a hospitais de refer�ncia, onde deveriam confirmar o diagn�stico e iniciar o tratamento. Em boa parte, s�o mulheres de baixa escolaridade, pouca renda e moradoras de regi�es menos desenvolvidas, que saem da maternidade para casa e n�o fazem mais nenhuma consulta m�dica. O governo estadual admite fazer busca ativa para encontrar essas m�es, mas diz n�o existir uma estimativa oficial de quantas s�o.
O balan�o mais recente aponta que h� 1.159 casos sob investiga��o de beb�s nascidos com per�metro cef�lico menor do que o considerado normal em Pernambuco. O dado inclui tanto crian�as que nunca receberam aux�lio m�dico quanto as que foram encaminhadas para unidades de sa�de e aguardam resultados de exames para confirmar a microcefalia. Para especialistas que atuam na for�a-tarefa do Estado, entretanto, ao menos metade desses rec�m-nascidos n�o passou por procedimento m�dico depois que saiu da maternidade.
O n�mero de casos confirmados em Pernambuco saltou de nove, em m�dia, por ano, para 153 em seis meses. No in�cio, as suspeitas eram encaminhadas para o Hospital Universit�rio Oswaldo Cruz, no Recife, que acompanha ao menos 300 beb�s. Tamb�m h� atendimento em Caruaru e Garanhuns, no agreste, Serra Talhada e Petrolina, no sert�o, e em outras duas unidades na capital.
Suspeita
Moradora do interior, a jovem Valqu�ria Cristiane dos Santos abandonou os estudos na 6� s�rie, casou-se aos 12 e n�o aparenta ter mais do que os seus 18 anos, mesmo depois de tr�s gesta��es. Vive com o marido em uma casa com ch�o de cimento batido e telhado sem forro, em um bairro pobre e violento de Goiana, cidade com 29 notifica��es de microcefalia.
Valqu�ria n�o trabalha para poder cuidar dos filhos, o mais velho de 3 anos. J� a mais nova, Sophia Vit�ria, nasceu de parto normal no dia 14 de novembro, com pouco mais de dois quilos e 30 cent�metros de per�metro cef�lico.
A m�e n�o sabe, mas Sophia faz parte das estat�sticas de casos suspeitos de microcefalia. Desde dezembro, s�o notificadas todas as crian�as com no m�ximo 32 cent�metros de per�odo cef�lico - e n�o mais com at� 33, a antiga medida. Para ter a confirma��o, � preciso fazer um exame de imagem que permite ao m�dico detectar m�s-forma��es provocadas por algum agente infeccioso, como nos casos associados ao zika v�rus, citomegalov�rus e toxoplasmose. Se o exame n�o apontar problema, o caso � descartado.
"Olhei ela dos p�s � cabe�a, mas n�o achei nenhuma anormalidade. S� nasceu um pouco magrinha", conta a jovem. "Eu pedia para Deus mandar ela perfeita para mim. E Ele mandou."
Valqu�ria teve febre no s�timo m�s de gesta��o, mas diz n�o ter sido diagnosticada com nenhuma doen�a espec�fica. Segundo conta, ficou tr�s dias internada na maternidade e nenhum funcion�rio a alertou sobre a chance de a filha ter algum tipo de m�-forma��o. Ela tamb�m n�o foi procurada nem passou por um m�dico depois disso. Em compara��o com os irm�os, Sophia parece ter a cabe�a um pouco menor nas laterais, mas para Valqu�ria a filha est� bem. "Ela � mais calma do que os outros. S� chora para tomar banho e mamar."
Motivos
Segundo especialistas, m�es e crian�as deixam de receber acompanhamento por v�rios fatores: falta de recurso para ir ao hospital e se hospedar em outra cidade, de orienta��o, o intervalo para agendar a primeira consulta e at� mesmo por acreditar que o filho � saud�vel. A rotina m�dica, com duas ou tr�s consultas por semana, tamb�m torna a situa��o mais dif�cil para mulheres que precisam trabalhar.
A infectologista pedi�trica Angela Rocha, coordenadora do setor no Oswaldo Cruz, conta que j� ouviu pacientes dizerem que por pouco n�o desistiram da consulta. "O que est� se notando � que, com algumas crian�as do interior, a m�e acha o menino 'meio normal', porque ele est� ganhando peso, se alimentando bem e n�o est� muito irritado", diz.
M�dicos relatam que chegam a receber pacientes pela primeira vez quatro meses depois do nascimento da crian�a. E a demora pode comprometer a recupera��o do beb�. "Quanto mais r�pido ele for encaminhado para tratamento, mais cedo recebe est�mulos e melhor s�o os resultados", diz o m�dico Carlos Brito, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e membro do Comit� T�cnico de Arboviroses do Minist�rio da Sa�de.
Procura
A funcion�ria de limpeza Ana Paula da Silva, de 29 anos, m�e de Alexia Vict�ria, de 3 meses, mora em uma casa perto do centro de Goiana. A constru��o � colada a outras moradias de um beco, onde pilhas de lixo atraem mosquitos.
A crian�a tamb�m nasceu com 30 cent�metros de per�metro cef�lico. "Ela dorme bem e come certinho, mas � muito chorona", diz a m�e de outros quatro filhos. Choro cont�nuo do beb� � uma reclama��o comum entre os pais de filhos com microcefalia. "O m�dico achou que ela nasceu pequena, mas ningu�m disse nada, n�o."
"S�o essas pessoas que estamos procurando", diz Patr�cia Ismael, diretora-geral de Informa��es e A��es Estrat�gicas em Vigil�ncia Epidemiol�gica, da Secretaria de Sa�de de Pernambuco. "H� uma parte da popula��o que � carente de informa��o, pela baixa escolaridade."