Bras�lia, 10 - Depois de surpreender autoridades e cientistas ao apresentar em novembro os primeiros exames que identificaram a infec��o do v�rus zika em beb�s com microcefalia, a obstetra Adriana Melo voltou a provocar alvoro�o. Em janeiro, publicou em parceria com a pesquisadora da Funda��o Oswaldo Cruz Ana Bispo um estudo que aponta poss�vel rela��o entre zika e outra m�-forma��o rara, a artogripose, uma doen�a que se caracteriza por graves defici�ncias nas articula��es. Os achados, considerados valiosas pistas no quebra-cabe�a que se transformou a epidemia, foram resultado do inconformismo da m�dica, que nunca gostou de ficar com uma d�vida sem resposta.
A inquieta��o tomou conta da obstetra quando recebeu em seu consult�rio duas gestantes que apresentavam embri�es com defici�ncias na forma��o do c�rebro, em Campina Grande, onde mora e trabalha. "Em 17 anos de experi�ncia, nunca havia visto nada parecido, era diferente de outras m�-forma��es", conta. O cerebelo, respons�vel pelo equil�brio e capacidade motora, era praticamente inexistente.
Pediu para pacientes voltarem. Em outro exame, identificou a presen�a de calcifica��es no c�rebro - uma rea��o geralmente encontrada em processos infecciosos. Dias depois, recebeu em um grupo de Whats App informa��es sobre aumento do n�mero de crian�as com microcefalia e uma poss�vel liga��o com zika. Era o que faltava para fechar o c�rculo."Achava que a coisa mais natural seria pesquisar a presen�a do v�rus nos embri�es. Cheguei a sugerir, mas n�o recebi resposta." Diante de sua impaci�ncia, um colega sugeriu: "Seu papel � apenas notificar, aguarde as pesquisas".
Adriana n�o aceitou. "Nunca deixei paciente sem resposta."Diante de seu inconformismo, ela foi apresentada a uma m�dica paraibana que trabalha na Fiocruz e, da�, foi um passo at� chegar a Ana Bispo. "Ficamos duas horas conversando. Ela disse como devia proceder para enviar o material", recorda. As m�es toparam, o material foi coletado, congelado e despachado para a Fiocruz."
Neste intervalo, Adriana aproveitou um curso que faria em S�o Paulo sobre medicina fetal, levou os casos para discutir com o m�dico Gustavo Malinger, da Universidade de Tel Aviv. Ao ver os casos, foi feita a sugest�o de que m�es fossem examinadas pela equipe. A prefeitura de Campina Grande pagou as passagens, as gestantes aceitaram e, durante o fim de semana, v�rias discuss�es e an�lises foram realizadas. O resultado saiu dias depois, deixando aturdidos especialistas e Minist�rio da Sa�de.
Criticada por pares de que pesquisas n�o s�o suficientes, Adriana fala com tranquilidade. "Estou apenas trazendo para todos achados que considero importantes."
Perguntas e respostas
Depois disso, sua vida profissional mudou."Fico sempre pensando: ser� que hoje terei de dar diagn�stico para alguma m�e?" Embora essa tenha se transformado numa tarefa cada dia mais comum, ela diz que n�o se acostuma com o peso emocional.
"� todos os dias como se puxasse o tapete da paciente. Hoje, no consult�rio h� um clima de terror. Vejo nos olhos delas o pensamento: �Ser� que sou a pr�xima v�tima?�" A cl�ssica pergunta "� menino ou menina?" foi trocada para "qual o tamanho da cabe�a?"
Por enquanto, a �nica ajuda que conseguiu na pesquisa foi o empr�stimo de uma m�quina de diagn�stico. "H� ainda muitas perguntas a serem respondidas. Enquanto tiver ideias de formas sobre como tentar solucion�-las, vou pesquisar."
As informa��es s�o do jornal
O Estado de S. Paulo.