Rio, 18 - Com medo de perder a clientela e n�o afastar estrangeiros assustados com o surto da dengue e zika, o guia tur�stico de favelas Paulo C�sar Martins, conhecido como Amendoim, adotou um procedimento que, afirma, afasta o mosquito Aedes aegypti. A primeira etapa do roteiro de visitas que promove inclui a coloca��o de galhos de arrudas nas orelhas, dentro de bolsos e meias dos visitantes.
Nas favelas cariocas, o saneamento e a coleta de lixo costumam ser prec�rios, o que facilita a forma��o de criadouros do inseto transmissor do zika e da dengue. A crendice popular assegura que arruda � uma planta que afasta o mau olhado e o azar. Amendoim, que cobra R$ 75 reais por turista, avisa em ingl�s, italiano, franc�s e espanhol, antes do in�cio do passeio, que a arruda tamb�m afasta o mosquito.
Os italianos Silvia Di Giorgio e Andrea Carlet, de 26 e 39 anos, obedeceu ao guia e circulou de manh� desta quinta, 18, pela favela da Rocinha, em S�o Conrado, zona sul, com galhos de arrudas no corpo. No caminho, moradores pegavam com Amendoim os galhos que sobraram, para tamb�m pendur�-los na orelha. Em sua p�gina no Facebook, o guia exibe fotografias com e estrangeiros com a planta e a seguinte legenda: "Esses turistas est�o livre do v�rus da zika, arruda neles! � o melhor rem�dio, venha voc� tamb�m". Amendoim � ex-participante do programa No Limite, exibido na TV Globo em 2000.
Outros guias que costumam promover tours na Rocinha afirmam que n�o tomaram provid�ncias para proteger os clientes contra o Aedes nem os advertem para a necessidade de usar repelentes. Luiz Henrique Shulze, que nesta quinta, 18, liderava um grupo de oito franceses na favela, explicou a raz�o de omitir o problema dos clientes: "N�o temos as informa��es necess�rias para passar para eles. Cada hora, uma institui��o fornece um dado diferente. Mas, quando perguntam algo sobre a dengue, eu respondo e os tranquilizo. Duas pessoas j� me perguntaram", disse.
O juiz aposentado franc�s Jean Marrie, de 67 anos, n�o reclamou da falta de informa��o. "Sei de todos os riscos. Passei repelente antes de vir. A Fran�a tem ilhas no Caribe que tiveram problemas com a dengue, j� vimos isso", disse. O franc�s afirmou que desconhece quais os locais com mais incid�ncia de dengue no Rio. "O que fa�o � evitar visitar locais de p�ntano", acrescentou.
Empregados das vans que levam turistas ao Cristo Redentor disseram que o uso de repelentes tem sido muito comum. S�o tantos os turistas com repelentes que as vans ficam com o cheiro dos produtos, contaram. Um dos passageiros, o italiano Nicola De Togni, de 37 anos, preferiu trazer um repelente da Europa. "O Cristo fica perto de uma floresta, que atrai muitos mosquitos. N�o sei se tem dengue l�, mas, na d�vida, achei melhor passar", afirmou.
O casal Paola Gomes e Jonatan Barquez, de 26 e 25 anos, passava repelente na fila do trem para o Corcovado, pela manh�. "N�o � uma doen�a distante da gente. J� tivemos dois casos na Argentina. Gr�vida, n�o viria de jeito nenhum" admitiu a estudante.
O presidente da Sociedade de Infectologia do Estado do Rio, Alberto Chebabo, disse que n�o h� fundamento cient�fico no uso de arruda contra o mosquito. "Nunca ouvi falar que a arruda sirva para isso. Nem andar com citronela, andiroba, cravo da �ndia. Os �leos destas plantas s� t�m efeito de 15 a 20 minutos, e n�o s�o 100% eficazes. Comparado com outros pernilongos, o mosquito da dengue � o que tem mais resist�ncia a essas subst�ncias", disse.