S�o Paulo, 25 - Al�m da microcefalia, o v�rus zika parece ser capaz de causar tamb�m anomalias fora do sistema nervoso central em beb�s gestados por m�es infectadas pelo v�rus. Um estudo de caso divulgado nesta quinta-feira, 25, por pesquisadores brasileiros e americanos refor�a uma suspeita que j� vem sendo aventada - de que o zika cause uma s�ndrome cong�nita -, e aponta para uma potencial rela��o com o ac�mulo de l�quido generalizado no corpo do beb� e morte do feto.
O trabalho relata o caso de uma menina nascida morta em Salvador com uma condi��o conhecida como hidranencefalia (em que os hemisf�rios cerebrais desaparecem e a cavidade � preenchida por l�quido cefalorraquidiano), calcifica��es intracranianas e diversas outras les�es. O beb� apresentou ainda uma outra condi��o que at� ent�o n�o tinha sido relacionada com zika: a hidropsia, que se caracteriza por ac�mulo de l�quido e incha�o sob a pele, o perit�nio (membrana que reveste a parte interna da cavidade abdominal) e a pleura (membrana que envolve o pulm�o). Aut�psia revelou a presen�a do v�rus zika no c�rtex cerebral, na medula e no l�quido amni�tico.
"Resolvemos relatar o caso em revista cient�fica porque apresenta uma evid�ncia adicional de que o zika pode, al�m da microcefalia e de doen�as oftalmol�gicas, estar ligado a ocorr�ncia de hidropsia e � morte do feto", disse ao jornal O Estado de S.Paulo Antonio Raimundo de Almeida, diretor do Hospital Geral Roberto Santos, de Salvador, que acompanha hoje com pelo menos uma centena de crian�as nascidas com microcefalia desde 31 de outubro do ano passado.
Ele assina o trabalho na revista PLOS Neglected Tropical Diseases junto com o m�dico fetal Manoel Sarno, que fez o acompanhamento da m�e na gravidez, e com pesquisadores americanos da Universidade Yale e do Texas. Os autores relatam que a m�e, de 20 anos, tinha iniciado o cuidado pr�-natal na 4� semana de gesta��o, quando foi testada negativamente para HIV, hepatite, toxoplasmose, rub�ola e citomegalov�rus, e a gravidez se desenvolvia sem problemas. No ultrassom da 14� semana, por exemplo, a avalia��o foi normal.
No exame da 18� semana, por�m, se observou que o feto estava com o peso bem abaixo do normal, e os ultrassons seguintes, na 26� e na 30�, constataram a microcefalia e o desaparecimento dos hemisf�rios cerebrais, que se liquefizeram. O feto acabou morrendo logo depois e um parto foi induzido na 32� semana.
A hidranencefalia � diferente da hidrocefalia, que se caracteriza por um crescimento maior da cabe�a. Nesse caso tamb�m h� um ac�mulo de l�quido, mas o tecido cerebral ainda existe. Na hidranencefalia, n�o. O que � imcompat�vel com a vida.
Assintom�tica
Dois pontos chamaram a aten��o dos pesquisadores. Primeiro a ocorr�ncia da hidropsia, sugerindo que o zika pode ter uma a��o que n�o � exclusiva ao sistema nervoso central. Segundo, o fato de que a m�e contou n�o ter sentido nenhum sintoma de zika ou de qualquer outra infec��o viral em nenhum momento da gravidez. Ela disse que tampouco algum familiar foi infectado. Em geral, em outros casos de microcefalia que est�o sendo associados ao zika, as m�es relatam terem sentido sinais da infec��o. "� um caso bem at�pico em todos os sentidos", afirma Sarno.
Apesar de ela ter ficado assintom�tica, como foi detectado o crescimento anormal do feto na 18� semana, os pesquisadores suspeitam que houve uma infec��o intrauterina anterior a isso, provavelmente no primeiro trimestre da gesta��o. O grupo alerta, diante deste caso, que os m�dicos precisam estar atentos a casos assintom�ticos. Eles afirmam tamb�m que um s� caso � insuficiente para falar que esses outros problemas podem mesmo ter sido causados pelo zika e sugerem que m�dicos fiquem atentos para investigar outros casos de aborto e beb�s natimortos para tentar descobrir se pode haver essa liga��o.