S�o Paulo, 29 - Os atendimentos a mulheres v�timas de viol�ncia sexual, f�sica ou psicol�gica em unidades do Sistema �nico de Sa�de (SUS) somam, por ano, 147.691 registros - 405 por dia, ou um a cada quatro minutos. A maior procura por servi�os de sa�de ap�s casos de agress�o se d� entre adolescentes de 12 a 17 anos, faixa et�ria das duas v�timas de estupro que ganharam repercuss�o na semana passada, no Rio e no Piau�. Especialistas apontam para a necessidade de se encerrar a "l�gica justificadora" que tenta lan�ar para as v�timas a culpa pelos crimes.
Os dados integram o Mapa da Viol�ncia - Homic�dio de Mulheres, um dos mais respeitados anu�rios de viol�ncia do Pa�s. As estat�sticas foram reunidas com base no Sistema de Informa��o de Agravos de Notifica��o (Sinan), do Minist�rio da Sa�de, que registra os atendimentos na rede do SUS. O relat�rio mostra que Mato Grosso do Sul, Acre, Roraima, Tocantins e Minas lideram a lista de Estados com as maiores taxas de procura por atendimento.
O registro mais recente do Sinan cont�m dados de 2014 - o estudo foi conclu�do no fim de 2015. O c�njuge da v�tima aparece como o agressor mais frequente, respons�vel por 22,5% das ocorr�ncias; outras pessoas pr�ximas de adolescentes e mulheres tamb�m s�o apontadas como respons�veis por ataques, como namorado, ex-namorado, irm�o, pai e padrasto. Em s� 13% dos casos, a agress�o � cometida por uma pessoa desconhecida. No caso do Rio, um dos suspeitos � ex-namorado da v�tima de 16 anos que diz ter sido atacada por mais de 30 homens no Morro da Bar�o.
"A normalidade da viol�ncia contra a mulher no horizonte cultural do patriarcalismo justifica, e mesmo 'autoriza', que o homem pratique essa viol�ncia, com a finalidade de punir e corrigir comportamentos femininos que transgridem o papel esperado de m�e, esposa e dona de casa", aponta o Mapa da Viol�ncia - Homic�dio de Mulheres. "Culpa-se a v�tima pela agress�o, seja por n�o cumprir o papel dom�stico que lhe foi atribu�do, seja por 'provocar' a agress�o dos homens nas ruas ou nos meios de transporte, por exibir seu corpo."
Ao Estado, Julio Jacobo Waiselfisz, coordenador da pesquisa e da �rea de estudos sobre viol�ncia da Faculdade Latino-Americana de Ci�ncias Sociais (Flacso), refor�a a tese e diz ver uma rea��o conservadora � tentativa de amplia��o de direitos pelas mulheres. "Na medida em que se criam condi��es sociais de prote��o, mais violento se torna o agressor. � uma rea��o conservadora do patriarcalismo machista que persiste no Brasil", diz Waiselfisz. "E, hoje, estamos assistindo a uma cultura em que est� permitindo esse tipo de viol�ncia."
Reincid�ncia
Os dados do Mapa da Viol�ncia mostram tamb�m que s�o as mulheres jovens as que mais voltam para novos atendimentos no SUS ap�s outros casos de viol�ncia. "A viol�ncia contra a mulher � mais sistem�tica e repetitiva do que a que acontece contra os homens. Esse n�vel de recorr�ncia da viol�ncia deveria ter gerado mecanismos de preven��o, o que n�o parece ter acontecido", diz Waiselfisz.
Para a secret�ria nacional de Direitos Humanos, Fl�via Piovesan, "� fundamental trabalhar em educa��o e capacita��o dos operadores da seguran�a p�blica e da Justi�a para que entendam que a viol�ncia contra a mulher � grav�ssima viola��o contra os direitos humanos".
Ao Estado, ela afirmou tamb�m que s�o necess�rias tr�s linhas de enfrentamento do problema. "Precisamos adotar medidas eficazes no que se refere ao dever do Estado de investigar, processar e punir essas viola��es sob a perspectiva de g�nero; adotar todas as medidas para dar total e integral apoio e assist�ncia �s v�timas; e adotar medidas preventivas, fomentando educa��o com par�metros n�o sexistas e igualit�rios. Isso � o mais dif�cil", diz Fl�via.
Para a promotora paulista especialista em combate � viol�ncia dom�stica Silvia Chakian, a solu��o passa pelo combate � impunidade dos agressores, mas tamb�m exige medidas educativas. "Os criminosos merecem uma puni��o exemplar, e essa puni��o tem de ser divulgada para a sociedade para combater a sensa��o de impunidade."
Silvia destaca que o crime do Rio foi seguido por compartilhamentos de v�deos na internet por pessoas que faziam "piadas machistas e julgamento moral". "Que sociedade � essa que um sujeito compartilha a prova do crime e se gaba dela? E quem s�o as milhares de pessoas que viram e compartilharam esse material, ajudando a perpetuar esse sofrimento?", questiona. As informa��es s�o do jornal
O Estado de S. Paulo.