Genebra, 05 - Uma em cada cinco mulheres com menos de 18 anos no mundo j� foi v�tima de estupro ou abuso sexual. Os dados integram um raio X produzido pela Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) para alertar sobre o fen�meno da viol�ncia como um problema de sa�de. O relat�rio tra�a a estimativa com base em estudos feitos entre 2011 e 2015 e compila informa��es de 133 pa�ses.
A entidade aponta que uma em cada tr�s mulheres j� "experimentou viol�ncia f�sica e/ou sexual por parte de seus parceiros". Al�m disso, 7% das mulheres foram alvo de viol�ncia sexual por desconhecidos e 50% delas se envolveram em uma disputa f�sica com seus companheiros.
Para os especialistas da OMS, os dados revelam o car�ter rotineiro da viol�ncia contra a mulher. "Trata-se de algo muito comum e muito mais regular do que imaginamos", diz Berit Kieselbach, uma das respons�veis pelo plano de enfrentamento da entidade. Ela diz ainda que o fen�meno da viol�ncia contra a mulher n�o � novo. "O que � novo � a capacidade de come�ar a coletar dados sobre o tema", explica. Berit lembra que dezenas de pa�ses n�o t�m sistemas para identificar causas de mortes nem para medir a viol�ncia.
Ao lado da estrat�gia para identificar os autores de crimes, a OMS tenta lidar com o impacto para a sa�de, como depress�o, ansiedade, estresse p�s-traum�tico, suic�dios, gravidez indesejada, resultados adversos nos beb�s, transmiss�o de infec��es e aids.
Professora do Departamento de Sa�de Materno-Infantil da Faculdade de Sa�de P�blica da Universidade de S�o Paulo (USP), Carmen Simone Grilo Diniz explica que, como preconiza a OMS, o abuso sexual durante a inf�ncia e a adolesc�ncia implica problemas f�sicos e ps�quicos que podem perdurar para o resto da vida. "Uma experi�ncia como essa pode provocar quadros de estresse p�s-traum�tico, depress�o, comportamento autoagressivo, al�m do risco de se contrair doen�as sexualmente transmiss�veis", diz.
Trauma
Julia (nome fict�cio), de 24 anos, � um exemplo de mulher que precisou de ajuda psicol�gica para superar os traumas causados pelo abuso sexual. Aos 11 anos, ela se tornou uma v�tima e entrou nas estimativas.
A jovem conta que foi abusada por um funcion�rio da loja de seu tio, onde costumava ficar e brincar ap�s as aulas. Com a chegada do novo atendente de 19 anos, a garota pensara ter ganhado um companheiro de brincadeiras. Todos os dias, jogavam forca e jogo da velha, mas, quando o tio sa�a, uma regra era imposta. "Ele dizia que, se eu perdesse, tinha de pagar uma prenda. E a prenda era me levar para um canto da papelaria e passar a m�o em mim, no meu corpo, na minha vagina", conta.
Ela sentia desconforto, mas era levada a acreditar que tudo fazia parte da brincadeira. "S� fui perceber que era algo muito errado quando contei para a minha m�e."
Por um tempo, a jovem pensou que n�o conseguiria mais se relacionar com ningu�m, mas, com acompanhamento psicol�gico, diz ter superado o problema. "O que eu sinto hoje � raiva quando vejo outros casos de abuso, porque o homem sabe que a crian�a n�o entende muito bem o que est� acontecendo e se aproveita desse poder", diz.
De acordo com Marina Ganzarolli, advogada e cofundadora da Rede Feminista de Juristas, se a maior parte dos casos de abuso contra mulheres � praticada por conhecidos da v�tima, no caso de crian�as e adolescentes, isso � ainda mais comum. "O chamado 'estupro de beco', em que um estranho violenta uma mulher, � o menos frequente. Geralmente, os abusos acontecem em espa�os privados, cometidos por pais, padrastos, tios, amigos da fam�lia", afirma ela, assim como aconteceu com Julia.
