Livro traz experi�ncia com barriga de aluguel

S�o Paulo, 18 - Dizem que curiosidade mata. Neste caso, ajudou a nascer. Foi muito por curiosidade que a jornalista Tet� Ribeiro quis ser m�e: "N�o tem como saber o que �, a n�o ser vivendo". Foi tamb�m por curiosidade que ela quis conhecer a barriga de aluguel de suas filhas: "Queria descobrir de que lugar f�sico vinham meus beb�s, quem lhes deu � luz". Entre uma inquieta��o e outra, surgiu o livro Minhas Duas Meninas (Companhia das Letras, R$ 39,90), que ser� lan�ado em 12 de julho.

Tet� Ribeiro � editora da revista Serafina, da Folha de S.Paulo. Por sete anos, ela e o marido, S�rgio D�vila, editor executivo do jornal, tentaram engravidar por m�todos caros e invasivos, alguns com t�cnicas experimentais. A quest�o era que os �vulos dela tinham boa qualidade, mas o �tero carecia de ader�ncia. Cansados do "purgat�rio da infertilidade", entraram com a papelada para a ado��o. Em 2013, a tal curiosidade de Tet� foi agu�ada pelas barrigas de aluguel da �ndia, onde a pr�tica � legalizada desde 2002.

O casal entrou em contato com a dra. Nayana Patel, dona de uma cl�nica em Anand, 90 km ao sul de Ahmedabad, ex-capital da �ndia. A m�dica � famosa: j� saiu com destaque em mat�rias da BBC e da Forbes. Por interm�dio da dra. Nayana, mais de 1 mil beb�s vieram ao mundo via "gravidez por substitui��o". Os candidatos a pais chegam da pr�pria �ndia e de v�rios cantos do mundo, distribu�dos mais ou menos na seguinte propor��o: 40% locais, 30% indianos que vivem em outros pa�ses e 30% estrangeiros.

Tet� e S�rgio entraram na lista de espera, interessados na estrutura do lugar, na tecnologia avan�ada e no valor mais em conta que em alguns Estados americanos, na Tail�ndia e no M�xico, onde a pr�tica tamb�m � permitida. No total, pagariam US$ 25 mil. Se a gravidez fosse gemelar, a quantia subia para US$ 31,5 mil. Somente mulheres casadas, entre 21 e 45 anos, e que tenham pelo menos um filho podem colocar sua barriga � disposi��o. Vanita, a escolhida pela dra. Nayana, tinha 28 anos � �poca e um filho, Aarav, de 5.

O maior dilema - a m�e de aluguel se arrepender e decidir ficar com o beb� - � resolvido por um contrato. Ela n�o tem nenhum direito sobre a crian�a, que ganha a nacionalidade dos pais biol�gicos. "A legisla��o indiana e a brasileira, at� este momento, t�m um encaixe perfeito para as barrigas de aluguel", escreve Tet�. "A maior preocupa��o do governo da �ndia � que Rita e Cec�lia n�o sejam cidad�s indianas; a do Brasil � que n�o tenham dupla cidadania."

Informa��es.

O que n�o se encaixou t�o perfeitamente foi o jeito indiano de editar e divulgar as informa��es. � compreens�vel que, por lei, os obstetras indianos n�o possam revelar o sexo dos beb�s durante a gravidez. Entre a classe m�dia e m�dia baixa do pa�s, � comum o aborto provocado quando se sabe que uma menina est� abrigada no �tero.

Acontece que, crente de que acompanharia o parto, Tet� chegou um m�s antes do previsto. S� no dia seguinte soube que suas crian�as estavam "um pouquinho nascidas". A ces�rea tinha acontecido tr�s dias antes. Rita e Cec�lia estavam bem, precisavam apenas engordar at� os 3 quilos, quando ganhariam o selo "fit to fly", prontas para voar de volta. N�o era por isso que lhe negaram um e-mail ou um telefonema avisando do nascimento. "Para aqueles indianos com quem convivi, a vers�o contada � aquela que eles sup�em que voc� deva saber."

Tet� quer que suas filhas conhe�am todo o processo. O casal fez um �lbum com as fotos do primeiro m�s de vida na �ndia e o deixa � m�o das garotas. "Elas t�m s� 2 anos, ainda s�o pequenas para formular qualquer pergunta, vou deixar que a curiosidade delas guie a informa��o."

Em tempo: Tet� troca fotos das crian�as com Vanita por WhatsApp. Com o dinheiro que lhe coube na oferta da barriga, US$ 8 mil, a indiana pagou d�vidas. A fam�lia, por�m, continua em dificuldade. Vanita n�o pode ser m�e de aluguel de novo, j� que fez duas cesarianas. Quer ser cuidadora em Israel, de idosos ou beb�s. As informa��es s�o do jornal

O Estado de S. Paulo.