S�o Paulo, 01 - Pauliana da Silva Souza tinha 15 anos quando largou a escola e foi morar com o namorado, de 18, em uma casa de um bairro pobre do Recife. No ano seguinte, acabou engravidando. A adolescente que h� pouco havia sa�do da inf�ncia tinha, a partir da�, a miss�o de cuidar de uma crian�a. O desafio mostrou-se ainda maior ap�s o nascimento da pequena �gatha, mais uma v�tima da epidemia de microcefalia, que foi declarada emerg�ncia internacional pela Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) h� exatamente um ano.
A emerg�ncia foi suspensa em novembro, mas, assim como Pauliana, 767 brasileiras com menos de 20 anos deram � luz crian�as com a m�-forma��o em apenas um ano, conforme dados in�ditos do Minist�rio da Sa�de obtidos pelo jornal O Estado de S. Paulo por meio da Lei de Acesso � Informa��o. Pela classifica��o da OMS, todas ainda estavam na adolesc�ncia.
O n�mero equivale a um de cada quatro (24%) dos 3,1 mil casos confirmados da m�-forma��o registrados pelo governo federal de novembro de 2015 a setembro de 2016 e incluem registros de microcefalia provocada por todas as causas, n�o s� pelo v�rus zika.
Desse total, 35 jovens tinham entre 10 e 14 anos, dado ainda mais preocupante, segundo especialistas. "� uma estat�stica assustadora porque isso � estupro presumido. Quando vemos meninas sendo m�es nessa idade, alguma coisa para essa popula��o falhou. � um momento muito precoce, que vai causar um impacto para a vida toda", diz a antrop�loga D�bora Diniz, professora da Universidade de Bras�lia (UnB) e pesquisadora do Anis Instituto de Bio�tica.
Vulnerabilidade.
Os n�meros do minist�rio tamb�m indicam que a gravidez na adolesc�ncia � mais prevalente entre m�es de beb�s com microcefalia do que na popula��o em geral, na qual o �ndice de gestantes entre 10 e 19 anos � de 18%. Outros dados sobre o perfil das mulheres afetadas pela epidemia da m�-forma��o tamb�m mostram que as crian�as nascidas com microcefalia parecem estar em fam�lias com maior situa��o de vulnerabilidade.
Al�m do alto porcentual de adolescentes, quase metade (48%) das m�es de beb�s com microcefalia � solteira, ante 40% na popula��o em geral, e 76% dessas mulheres s�o pretas ou pardas, enquanto no restante da popula��o, esse mesmo �ndice � de 59%.
"Por mais que o Aedes aegypti possa estar em toda parte, � muito claro que as consequ�ncias da prolifera��o do mosquito est�o mais presentes onde h� mais vulnerabilidade social", afirma a antrop�loga. H� desigualdades tamb�m no perfil das m�es por Estado. No Amazonas e em Alagoas, por exemplo, o �ndice de mulheres que deram � luz beb�s com microcefalia antes dos 20 anos chega a 40%.
Apesar de o Minist�rio da Sa�de n�o ter divulgado os dados de renda das m�es de beb�s com microcefalia, uma pesquisa feita pela Secretaria de Justi�a e Direitos Humanos de Pernambuco, Estado com o maior n�mero de casos da m�-forma��o, mostra que 90% das fam�lias de crian�as com o problema tinham renda per capita de at� R$ 220, conforme revelou o jornal O Estado de S. Paulo em 6 de novembro. A pesquisa foi feita com 211 fam�lias cadastradas em um n�cleo estadual de apoio.
Dificuldades.
Pauliana, hoje com 17 anos, n�o gosta quando relacionam sua idade ao fato de j� ser m�e. "N�o � porque sou jovem que n�o tenho responsabilidade, mas tamb�m n�o vou dizer que � f�cil. � uma situa��o que a beb� fica dependente de mim, eu que tenho que lev�-la para as terapias e n�o posso deix�-la com ningu�m por causa do problema dela", conta.
Na maioria das vezes, a adolescente enfrenta sozinha a rotina de tratamentos da menina. "Dependendo de onde � a terapia, tenho de pegar dois �nibus para chegar e �s vezes tenho de ir em p� porque ningu�m d� o lugar", conta. O companheiro de Pauliana costuma passar o dia trabalhando. "Foi muito dif�cil esse primeiro ano porque a gente brigava muito. Cheguei at� a me separar dele e voltar para a casa da minha m�e quando a �gatha estava com 6 meses, mas voltamos quatro meses depois." Hoje, a beb� est� com 1 ano e 4 meses.
Contando apenas com a renda de pedreiro do rapaz, o casal tem enfrentado dificuldades para custear todas as despesas. "Ainda bem que tenho conseguido doa��es. Pego leite, fraldas em uma associa��o de m�es de beb�s com microcefalia. Sen�o, a situa��o estaria pior." As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.