Sorocaba, 16 - Mesmo com a liminar da Justi�a determinando a continua��o do tratamento, o jovem Jos� Humberto Pires de Campos, de 22 anos, de Trindade (GO), pode se negar a fazer a hemodi�lise, tratamento que o mant�m vivo. A decis�o do juiz �der Jorge, da 2� Vara C�vel, permite que a m�e o leve ao hospital , mas "sem qualquer tipo de coer��o f�sica". Para a advogada Dorvanir Fernandes de Matos, que entrou com a a��o a pedido da m�e, o rapaz est� se rebelando contra o tratamento obrigat�rio. "Ele fez a hemodi�lise ontem (quarta-feira) depois de muita insist�ncia da fam�lia, mas est� dizendo que n�o vai � pr�xima sess�o. Se isso acontecer, a m�e n�o poder� fazer nada para obrig�-lo", disse.
Jos� Humberto � portador de doen�a renal cr�nica e precisa passar regularmente pelas sess�es que depuram o sangue. Como decidiu abandonar o tratamento por consider�-lo doloroso e ineficaz, j� que n�o cura a doen�a, a professora Edina Maria Alves Borges, de 55 anos, recorreu � Justi�a para obrigar o filho a fazer o tratamento. A advogada considera importante que a a��o que pede a interdi��o do rapaz seja julgada rapidamente.
Na quarta-feira, 15, a subsec��o da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) nomeou o advogado George Alexander Neri de Carvalho para defender os interesses de Jos� Humberto. Alegando necessidade de estudar melhor o caso, o advogado n�o quis falar com a reportagem. Ele tem prazo at� a pr�xima ter�a-feira para contestar a interdi��o.
O juiz deve nomear uma junta especial com psiquiatra, psic�logo e m�dicos especialistas em nefrologia para avaliar as condi��es de sa�de e psicol�gicas do jovem. Dizendo-se indisposto por causa da hemodi�lise, Jos� Humberto n�o falou com a reportagem, mas mandou dizer que n�o mudou em nada em rela��o ao que j� havia manifestado. A pr�xima hemodi�lise ainda n�o est� marcada.
Sortudo
A presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Carmen Tzanno Branco Martins, manifestou preocupa��o com a resist�ncia de Jos� Humberto ao tratamento contra a doen�a cr�nica renal. O risco, segundo ela, � de estigmatizar uma terap�utica que funciona bem. "Hoje, no Brasil, temos 110 mil pacientes em programas de hemodi�lise e s�o feitos mais de cinco mil transplantes renais por ano. Temos mais de 1.500 crian�as em tratamento."
Segundo ela, seguindo o tratamento e a dieta corretamente, a pessoa pode ter boa qualidade de vida. "� normal, na idade dele, levar um susto com o diagn�stico da doen�a cr�nica e vislumbrar um horizonte sombrio. Nesse momento, � importante que ele seja levado a entender o que acontece, a compreender o problema e tomar, com a fam�lia e a equipe m�dica, uma decis�o compartilhada sobre o tratamento."
De acordo com a m�dica, embora sejam terapias recentes, a hemodi�lise e a di�lise peritonial, em que a pessoa pode fazer a depura��o do sangue em casa, at� dormindo, evolu�ram muito nos �ltimos anos. "O transplante tamb�m salva vidas no mundo todo.
Muitas pessoas nasceram sem um rim ou s�o doadoras e vivem com um rim s� de forma normal. O transplantado pode viver 20 ou 30 anos com o rim novo, desde que tome os medicamentos e os cuidados necess�rios. Se ainda assim perder o �rg�o, pode voltar para a hemodi�lise e seguir com a vida."
Doutora em nefrologia, a m�dica conta que at� a d�cada de 1960, a doen�a cr�nica renal n�o tinha tratamento e as primeiras pessoas a se submeterem � hemodi�lise eram chamadas de "sortudas" por terem acesso � inova��o. "Num mundo em que tantas vidas jovens se perdem em acidentes e viol�ncia, seria bom se a fam�lia e os profissionais que cuidam do caso convencessem o jovem a se adaptar � nova realidade e ver o lado bom da vida."
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Jovem pode recusar hemodi�lise mesmo ap�s decis�o a favor da m�e
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