S�o Paulo, 06 - N�o � dif�cil observar que as pessoas, � medida que se tornam mais velhas, dormem menos e acordam cada vez mais durante a noite. Para entender as causas desse fen�meno, um grupo de pesquisadores dos Estados Unidos analisou uma s�rie de estudos cient�ficos e concluiu que, ao envelhecer, se perde gradualmente a capacidade de ter um sono profundo e restaurador - o que provoca consequ�ncias f�sicas e mentais negativas, acelerando o pr�prio envelhecimento.
Ter dificuldade para pegar no sono e acordar diversas vezes � noite fazem parte da rotina da aposentada Edith Avellar, de 82 anos. "J� vou dormir tarde, mas, mesmo assim, fico virando na cama e demoro para dormir. Quando durmo, o sono acaba ficando picado. Qualquer barulho j� me acorda. Quando era mais jovem, parece que era mais f�cil ter um sono mais profundo", comenta ela.
A idosa diz que, com a m� qualidade do sono, acaba ficando indisposta no dia seguinte. "N�o consigo fazer o servi�o de casa, fico sonolenta, cansada, �s vezes durmo no sof� � tarde. E isso acaba desregulando ainda mais os hor�rios porque, se eu durmo � tarde, a� � que n�o tenho mesmo sono � noite", diz.
O sono muda com o envelhecimento, mas o que os cientistas descobriram � que essas mudan�as podem tamb�m ser ponto de partida para explicar o pr�prio envelhecimento, segundo Matthew Walker, um dos autores do estudo, publicado ontem na revista cient�fica Neuron.
Diretor do Laborat�rio de Sono e Neuroimagem da Universidade da Calif�rnia em Berkeley, nos Estados Unidos, Walker afirma que um dos principais problemas ligados ao envelhecimento e agravados pela perda do sono � a dem�ncia. "Cada uma das principais doen�as que est�o nos matando nos pa�ses desenvolvidos - como diabete, obesidade, Alzheimer e c�ncer -, tem uma forte rela��o causal com a falta de sono. � medida que ficamos mais velhos, a probabilidade de todas essas doen�as aumentam consideravelmente, especialmente a dem�ncia", afirma.
Segundo Walker, a perda do sono entre as pessoas mais velhas n�o � causada por uma agenda cheia nem por necessidade menor de sono. O que ocorre � que, conforme o c�rebro envelhece, os neur�nios e os circuitos nas �reas que regulam o sono se degradam lentamente, resultando em um tempo cada vez menor nos est�gios do chamado sono n�o-REM.
Segundo os cientistas, o sono REM (movimento ocular r�pido, na sigla em ingl�s), que ocorre com mais frequ�ncia na segunda metade da noite de sono, � caracterizado por uma atividade cerebral r�pida - quando ocorrem os sonhos - e um relaxamento total do corpo. Enquanto isso, os est�gios de sono n�o-REM s�o caracterizados por uma atividade cerebral lenta, que garantem um sono restaurador. Com menos horas nesses est�gios de sono profundo, os idosos sofrem sequelas.
Segundo outro dos autores, Bryce Mander, tamb�m da Universidade da Calif�rnia em Berkeley, o envelhecimento leva a um decl�nio de quase todas as medidas usadas para avaliar o sono. "Quanto mais se envelhece, a dura��o do seu sono � reduzida, fica mais fragmentado e o tempo gasto em cada um dos est�gios � reduzido. O principal � que o tempo gasto nos est�gios mais profundos - em especial no sono profundo n�o-REM - � reduzido dramaticamente. Mesmo a passagem de um est�gio a outro se torna menos previs�vel e mais desorganizada", explica.
Estudos no Brasil
Estudo de cientistas do Instituto do Sono, ligado � Universidade Federal de S�o Paulo (Unifesp), publicado em 2014 na revista Sleep Medicine, chegou a conclus�es semelhantes. Um dos autores, o geriatra Ronaldo Piovezan, professor de Biologia e Medicina do Sono na Unifesp, a pesquisa foi feita com mais de mil pessoas na cidade de S�o Paulo.
De acordo com Piovezan, o est�gio mais profundo do sono n�o-REM � fundamental para a recupera��o corporal. "Nessa fase do sono h� libera��o de alguns horm�nios, como o do crescimento - que acreditamos ser muito importante para a regula��o do funcionamento muscular. A perda do sono pode ent�o estar ligada � perda de massa muscular na velhice, o que pode levar � dificuldade de locomo��o e aumentar o risco de quedas", afirma.
A fragmenta��o, com o idoso acordando muito mais durante a noite, reduz a qualidade do sono. "Isso diminui a concentra��o e a aten��o, prejudica a mem�ria e aumenta o risco de dem�ncia", afirma o pesquisador da Unifesp. As informa��es s�o do jornal
O Estado de S. Paulo.