Genebra, 19 - Gastos com sa�de, ci�ncia e tecnologia n�o s�o gastos, mas investimentos. Quem faz o alerta � a nova presidente da Funda��o Oswaldo Cruz, N�sia Trindade Lima. Primeira mulher a comandar a funda��o em 116 anos de hist�ria, a gestora est� nesta semana em Genebra para encontros na Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS). Em meio ao debate sobre cortes or�ament�rios no governo de Michel Temer, N�sia sai em defesa da manuten��o do Sistema �nico de Sa�de e de pol�ticas que possam permitir ao Brasil desenvolver ci�ncia, principalmente no campo m�dico.
Em entrevista, ela ainda admitiu que a febre amarela n�o justifica uma corrida pela vacina��o. Mas aponta que, de forma progressiva, a vacina contra a doen�a ter� de entrar na carteira de vacina��o e dever� ser inclu�da na pol�tica nacional de imuniza��o. Para ela, por�m, a inova��o tem de ocorrer paralelamente ao tratamento de esgoto e a uma pol�tica de saneamento nacional.
Eis os principais trechos da entrevista:
Doen�as tropicais como dengue, febre amarela e outras continuam a afetar o Brasil. O que pode ser feito para agir de forma mais eficiente?
Trata-se de um problema complexo que precisa ser respondido em v�rias frentes. A dengue afeta o Brasil h� 30 anos e � uma das grandes preocupa��es. Mas precisamos associar uma pol�tica de saneamento, que � fundamental, com novas tecnologias de controle dos vetores. A pol�tica de saneamento � um dos grandes problemas enfrentados pelo Brasil. O que � ainda muito importante � um diagnostico preciso e nisso a Fiocruz tem liderado.
O Brasil pediu para usar estoque. Vacinar a popula��o toda � uma boa solu��o ou deve ser um ato mais focado?
Alguns especialistas t�m dito j� h� algum tempo o foco geogr�fico est� progressivamente sendo revisto. Essa que � a quest�o. N�o � uma emerg�ncia sanit�ria, pela pr�pria caracter�stica da doen�a. Os focos s�o silvestres. N�o se d�o em �rea urbana, o que levaria a uma a��o mais focada. Mas o fato � que hoje h� uma grande circula��o entre ambientes e h� uma mudan�a nas �reas de matas. O desmatamento provoca uma consequ�ncia nas popula��es de macacos. Portanto, � um conjunto de fatores que exige um monitoramento permanente. A chave � adequando as estrat�gias de vacina��o a isso. A tend�ncia � que aquela faixa da popula��o que ficava fora do campo de vacina��o cada vez seja mais estreita. N�o � uma pol�tica de emerg�ncia e n�o justifica um p�nico, uma corrida em massa para a vacina��o. Mas todos os especialistas e o Minist�rio da Sa�de � para uma amplia��o progressiva da vacina��o.
Mas na avalia��o da senhora seria bom uma vacina��o da popula��o inteira de alguns Estados?
N�o � uma medida necess�ria e v�rios especialistas apontam isso. Mas o que se prop�e tamb�m � uma progressiva amplia��o da carteira de vacina��o e incluir a vacina da febre amarela na pol�tica de imuniza��o.
Mas o Brasil tem a capacidade de produzir vacina para abastecer suas necessidades? O governo acaba de recorrer aos estoques da OMS.
Historicamente, tivemos essa capacidade. N�o apenas atend�amos ao Brasil, mas export�vamos. Nesse aumento, com o aumento da demanda, o que estamos fazendo � aumentar de maneira muito intensa essa produ��o e estamos em discuss�o com Minist�rio da Sa�de para ampliar a produ��o atual. Hoje, j� praticamente o dobro de uma capacidade que existia h� dois anos. Foi algo muito intenso e a ideia � de que possamos produzir 70 milh�es de doses, contra um total hoje de 30 milh�es. Isso pode ser feito at� 2018.
As limita��es or�ament�rias impostas pelo governo afetam a Fiocruz e esses planos?
� muito importante um or�amento assegurado para as a��es de sa�de. No caso da febre amarela, o compromisso do Minist�rio da Sa�de � com continuidade do financeiro, dada a import�ncia nacional. Mas eu diria que essa � a resposta desse momento. � importante tamb�m pesquisas que permitam o pr�prio aperfei�oamento da vacina e tamb�m suporte para a atividade de pesquisa para o conjunto de problemas que afetam o Brasil, tanto as doen�as negligenciadas, como outros problemas. Tudo isso requer recursos e, por isso, n�s na Fiocruz, sempre temos uma linha de afirmar a import�ncia de que as popula��es n�o sejam negligenciadas e tamb�m que tenhamos uma vis�o do gasto em ci�ncia e tecnologia, do gasto em pol�tica social n�o como gasto, mas como investimento para o Pa�s.
Mas a senhora a est� preocupada com eventuais cortes no setor da Sa�de?
Sim, com certeza. Temos trabalho na linha da defesa, n�o apenas da institui��o, mas do Sistema Unido de Sa�de e da pol�tica de ci�ncia e tecnologia.
A senhora esteve com a diretora-geral da OMS, Margaret Chan. O que existe entre a Fiocruz e a entidade para o futuro?
Podemos refor�ar a colabora��o para o futuro, tanto na �rea de doen�as tropicais como pensando na resist�ncia microbiana. Discutimos muito o fortalecimento do papel do Brasil e da Fiocruz no sistema de inova��o global e a coopera��o com os pa�ses africanos.