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Estado de Minas

Morador do DF est� preso h� 11 meses suspeito de integrar o Estado Isl�mico

Preso h� 11 meses, Isac Pinheiro dos Santos s� falou a com m�e, duas vezes, por meio de videoconfer�ncia


postado em 04/06/2017 11:08

(foto: Daniel Ferreira/CB/D.A Press )
(foto: Daniel Ferreira/CB/D.A Press )

Sem uma condena��o, Isac Pinheiro dos Santos, morador do Entorno do Distrito Federal, est� preso h� quase um ano, incomunic�vel. Passou nove meses na Penitenci�ria Federal de Campo Grande (MS), a 1.100km da fam�lia. E s� falou com um parente duas vezes, por meio de videoconfer�ncia. A m�e nem sequer sabe onde ele est�. O rapaz de 29 anos depende dos servi�os de um defensor p�blico, que nunca esteve com ele pessoalmente. O caso tramita sob segredo de Justi�a. Mas por que tanto mist�rio?

Isac � acusado de integrar um grupo de brasileiros que organizava uma c�lula terrorista e planejava um atentado nos Jogos Ol�mpicos de 2016. Policiais federais rastrearam redes sociais, sites acessados e mensagens trocadas entre os suspeitos pelo aplicativo Telegram, e verificaram intensa comunica��o, conclamando interessados a prestar apoio ao Estado Isl�mico (EI), com treinamento no Brasil. A investiga��o resultou na Opera��o Hashtag, deflagrada em  julho de 2016.

Federais prenderam 15 pessoas em nove estados e as encaminharam a Campo Grande. Alguns noticiaram a realiza��o do “batismo” ao Estado Isl�mico, conhecido como bayat — juramento de fidelidade exigido pela organiza��o terrorista a novos integrantes. Agentes tamb�m identificaram mensagens de celular (inclusive com di�logos sobre como fabricar bombas caseiras) relacionadas � possibilidade de um ato terrorista na Rio-2016.

Dois acusados deixaram o pres�dio, em 17 de setembro, usando tornozeleiras eletr�nicas. No entanto, h� tr�s semanas, o juiz Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara Federal de Curitiba, condenou oito. Isac ficou de fora da senten�a, mas teve a pris�o prorrogada por mais 30 dias. O magistrado enviou o caso � Justi�a Federal em Bras�lia, que o remeteu a An�polis (GO), comarca � qual est� subordinada �guas Lindas (GO), cidade do Entorno onde Isac morava com a m�e.
Rejei��o do pai

Isac nasceu em Parna�ba (PI), em 1988. Ainda no primeiro ano de vida, a m�e, Maria de Jesus Machado Normanda, mudou-se para o DF. Assim que arrumou trabalho como diarista, buscou o menino. Pai, m�e e filho moraram juntos por dois anos. Com a separa��o, Maria decidiu voltar � terra natal. O pai continuou em Bras�lia, onde come�ou a trabalhar como cinegrafista em uma emissora de tev�. Casou-se de novo, teve mais dois filhos e nunca mais, segundo os parentes, quis ter contato com Isac.

Desempregada, Maria retornou � capital federal com Isac, quando ele tinha 10 anos. Os dois se estabeleceram em Ceil�ndia, onde moravam parentes. Entre eles, Ananias Pinheiro, tio paterno de Isac. “Sempre comprei o que ele precisava e ele me procurava para ouvir conselhos. Convivia com os meus filhos, era estudioso. Mudou o comportamento quando foi para �guas Lindas. L�, ele se juntou a m�s companhias”, conta Ananias. Vivendo de di�rias, Maria trocou o DF pelo Entorno em busca de um aluguel mais barato.

M�e e filho ainda voltaram a Ceil�ndia, mas, tamb�m por causa do valor do aluguel, fixaram-se em �guas Lindas. Isac passou a consumir maconha e coca�na. Com 18 anos rec�m-completados, ap�s discutir em um jogo de futebol, deixou a quadra e voltou com um rev�lver. Atirou no desafeto, filho de um policial militar, que sobreviveu. Poucos minutos depois, PMs prenderam Isac na porta do col�gio, em Ceil�ndia. Ele tentou esconder a arma na mochila de uma adolescente. Acabou condenado por tentativa de homic�dio, porte ilegal de arma e corrup��o de menor.

Da Papuda � religi�o

Nos dois anos no Complexo Penitenci�rio da Papuda, Isac decorou a B�blia. Mas, ao sair da cadeia, converteu-se ao isl�. Seguidor do islamismo h� 30 anos, o tio Ananias o levou � mesquita da 912 Norte. “Ele estudava muito, fazia as ora��es. Fez muitos amigos”, conta Ananias. Um desses amigos, de 16 anos, apresentou Isac ao EI. “Eles ficavam vendo v�deos disso (EI), que n�o tem nada a ver com a religi�o”, ressalta.

O tio diz ter feito de tudo para convencer o sobrinho de que aquilo era errado. “Falei que o Estado Isl�mico � formado por mercen�rios, financiado por pa�ses interessados em desestabilizar o Oriente M�dio. Mas Isac sempre foi rebelde. Muito provavelmente por causa da aus�ncia do pai”, comenta Ananias, dono de uma pequena empresa de dedetiza��o, com loja na Asa Norte. “Isac trabalhou aqui. Mas, depois de preso, s� vinha para ver clipes de rap na internet. M�sicas que falam de viol�ncia”, conta o tio.

Ananias n�o tem dinheiro para pagar um advogado para o sobrinho. Nem a m�e de Isac, que, aos 52 anos, ganha R$ 1,1 mil mensais, fruto de uma aposentadoria engordada pelo bico como diarista em uma loja. Ela recebe o benef�cio desde que teve c�ncer de colo do �tero, em 1999. Cria uma neta de 7 anos, com quem mora em um barrac�o, que divide um lote com outros tr�s.

A esse endere�o, policiais civis do DF chegaram em junho de 2016, com um mandado de pris�o contra Isac. Informaram que ele n�o havia cumprido a pena pela tentativa de homic�dio. O juiz havia errado a conta e mandado solt�-lo antes do tempo. “Isac n�o estava, mas os policiais entraram e vasculharam a casa toda. Quando um viu a roupa dele do isl�, o tapetinho em que rezava e um Cor�o, falou assim: ‘Olha s�, al�m de bandido, � terrorista!’”, relata Maria de Jesus.

Dias depois, dois homens se apresentando como policiais federais apareceram na casa de Maria de Jesus. Perguntaram por Isac. O rapaz n�o estava, mas a m�e autorizou a entrada dos estranhos. “Eles levaram todas as coisas da religi�o dele (do filho)”, lembra a mulher. Isac j� havia se entregado � Pol�cia Civil. Estava preso na Papuda, cumprindo a antiga pena.

Sem saber do desencadeamento da Hashtag, Maria de Jesus foi visitar o filho no pres�dio brasiliense. Mas, ao chegar l�, um funcion�rio a comunicou que ele havia sido levado pela PF para Campo Grande, em 25 de julho. “Disseram que era s� para uma averigua��o, que ele logo voltaria. Mas nunca voltou. Desde ent�o, n�o durmo, fico igual zumbi”, comenta a m�e do acusado.

Falta de comunica��o

Sem nunca terem recebido qualquer comunica��o da PF ou da Justi�a Federal, Maria de Jesus e Ananias come�aram uma peregrina��o em busca do paradeiro de Isac, at� descobrirem a Defensoria P�blica da Uni�o. “Eles me disseram que Isac tinha direito a uma visita por m�s, l� em Campo Grande. Preenchi um tanto de papel, um tanto de vez, mas nunca consegui ver o meu filho. Sempre alegavam que ele estava muito nervoso”, conta Maria de Jesus.

Assim como os demais presos na Hashtag, Isac foi colocado no Regime Disciplinar Diferenciado (veja O que diz a lei). “Ele ficou l� nove meses. Nesse tempo, s� nos falamos duas vezes, por v�deo. Na primeira conversa, estava tranquilo, mas, na segunda, s� disse que estavam acontecendo coisas ruins”, recorda-se a m�e. Ningu�m tamb�m avisou que Isac foi levado de Campo Grande para outra cidade. “Soube por um acaso. Quando liguei para a DPU no Paran�, me disseram que o caso havia sa�do de l� e ido para An�polis”, diz Maria de Jesus.

A mulher foi a An�polis h� nove dias. L�, contaram a ela que o filho estava na penitenci�ria de Aparecida de Goi�nia (GO). “Mas me disseram que eu n�o poderia visit�-lo e que, em breve, ele seria transferido para Bras�lia, por ordem de um juiz”, concluiu a diarista. Na sexta-feira, ela esteve na Vara de Execu��es Criminais de Bras�lia, mas tamb�m n�o teve informa��o sobre o filho. O mist�rio continuava ontem.

S� um seguidor do isl�

No pedido pela renova��o da pris�o preventiva dos acusados, aceito por um juiz federal, dois delegados destacaram que, sobre Isac, valia destacar, naquele momento, “aspectos da sua personalidade que comprovam sua tend�ncia � pr�tica de crimes violentos”. Por�m, como destacam os policiais, n�o foi apreendido computador na casa do suspeito, nem celular, pois ele n�o tinha esses.

Nomeado advogado de Isac pelo juiz federal respons�vel pelo caso, Constantino Lopes garante ter feito uma “excelente defesa”. “N�o h� prova contra ele. O r�u � s� um seguidor do isl�. � uma quest�o de op��o religiosa”, destaca. O processo aguarda a senten�a do magistrado, o que n�o tem prazo.


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