Bel�m e S�o Paulo, 24 - Um barco que saiu de Santar�m rumo a Vit�ria do Xingu, no Par�, com mais de 70 pessoas a bordo, afundou no Rio Xingu - entre os munic�pios de Porto de Moz e Senador Jos� Porf�rio -, na madrugada desta quarta-feira, 23. At� o in�cio da noite, os dados oficiais eram de 10 mortos, 15 sobreviventes e cerca de 40 desaparecidos. A embarca��o Capit�o Ribeiro n�o tinha registro na Ag�ncia Estadual de Regula��o e Controle de Servi�os P�blicos (Arcon).
Segundo a Arcon, a embarca��o pertence � empresa Almeida e Ribeiro Navega��o e realizava "transporte clandestino de usu�rios". Embora tivesse sido notificada pela fiscaliza��o da ag�ncia no dia 5 de junho deste ano para que providenciasse a regulariza��o, nenhum diretor da empresa compareceu ao �rg�o p�blico.
Ap�s sair de Santar�m, a embarca��o faria escala nos munic�pios de Monte Alegre e Prainha e teria como destino final Vit�ria do Xingu, em uma �nica viagem. De acordo com o governo do Par�, at� 40 pessoas, sobretudo idosos, teriam embarcado em Porto de Moz.
Segundo o DJ e animador de festas em Altamira Bruno Costa, de 32 anos, um dos sobreviventes do acidente, ao notar a possibilidade de naufr�gio, 25 pessoas decidiram nadar at� a margem do rio, no meio da escurid�o. Ele conta que os sobreviventes ficaram cerca de seis horas nadando sem saber onde estavam e conseguiram chegar � margem apenas �s 3 horas.
"Gra�as a Deus, estou muito bem, mas tive momentos terr�veis em minha vida. Era por volta de 21h30 (de ter�a-feira, 22), quando come�ou uma tempestade muito forte. De repente, o barco come�ou a estalar e a afundar", relatou Costa. Segundo ele, a lona amarrada em uma parte da embarca��o para que a �gua da chuva n�o molhasse as pessoas impediu muita gente de sair do barco, provocando p�nico entre os passageiros.
Costa relata que conseguiu pegar uma crian�a de 2 anos, embora estivesse sem colete salva-vidas, quando outro passageiro, na agonia de escapar, projetou-se sobre ele, rasgando suas roupas. "Eu fui para o fundo com a crian�a nesse momento, mas ao voltar � superf�cie vi v�rias pessoas perto de mim, gritando. Peguei um colete e me mantive na superf�cie, conseguindo tamb�m salvar a crian�a. Mas outras pessoas n�o tiveram a mesma sorte. Agrade�o a Deus por estar vivo."
�s 20horas desta quarta, ainda havia informa��es desencontradas. O governo do Par� falava em 15 sobreviventes, mas outros �rg�os apontavam at� 25.
Entre os dez mortos confirmados, h� seis mulheres, dois homens e duas crian�as. As v�timas do naufr�gio est�o sendo levadas para o hospital municipal de Porto de Moz. Equipes do Instituto M�dico-Legal (IML) de Altamira est�o se deslocando para a localidade para tentar identificar os corpos.
De acordo com o Comando do 4� Distrito Naval da Marinha, no Estado do Par�, no ano passado, aconteceram 22 naufr�gios. Em 2017, at� agora, houve 7. O trecho do Xingu onde aconteceu o naufr�gio � conhecido por fortes correntezas e tem profundidade de at� 30 metros.
Resgate
O Capit�o Ribeiro foi i�ado do fundo do rio no come�o da tarde de ontem e o trabalho se concentrou na entrada dos mergulhadores para fazer uma varredura na tentativa de localizar pessoas presas dentro de compartimentos da embarca��o. Al�m disso, lanchas e barcos procuram sobreviventes �s margens do rio. As buscas devem ser retomadas na manh� de hoje.
A pol�cia abriu inqu�rito e come�ou a ouvir os sobreviventes. "Os bombeiros foram comunicados do naufr�gio somente sete horas depois do acidente", segundo informou ao Estado o subcomandante-geral da corpora��o, coronel Augusto Lima.
Em nota, a Marinha do Brasil disse que enviou o navio-patrulha Bocaina e a Lancha Balizadora de Mar Aberto Marco Zero ao local para realizar buscas e coletar informa��es preliminares. "Um inqu�rito administrativo foi instaurado para apurar causas, circunst�ncias e responsabilidades do acidente", diz o �rg�o. A Marinha diz, ainda, que a embarca��o que naufragou est� inscrita na Capitania Fluvial de Santar�m e se solidariza com as fam�lias das v�timas.
Precariedade
Para o engenheiro naval Pedro Lameira, a seguran�a da maioria dos 60 mil barcos que navegam pelos rios amaz�nicos � problem�tica porque essas embarca��es possuem "prec�rias condi��es para suportar um r�pido alagamento" durante um acidente. Al�m disso, segundo ele, o excesso de carga e passageiros "compromete a estabilidade".
"Os rios na Regi�o Norte s�o como ruas", complementa o consultor Frederico Bussinger, ex-secret�rio de Transportes de S�o Paulo, especialista em transportes hidrovi�rios. "Os rios ali s�o usados, centenariamente, para todos os deslocamentos, seja de pessoas, mercadorias ou combust�veis."
Como principal e �s vezes �nica forma de acesso a diversas comunidades instaladas nas beiras dos rios, as embarca��es se apresentam nas mais diversas formas. "H� catamar�s de alt�ssima qualidade e portos bem estruturados", afirma ele. "Mas h� tamb�m o transporte clandestino e portos que s�o trapiches instalados em barrancos nas beiras dos rios", afirma Bussinger. "O transporte se intensificou mais nos �ltimos anos com a chamada �sa�da norte�, o transporte de mercadorias de Mato Grosso e Goi�s, para os portos do Norte". U
(Carlos Mendes, especial para a AE, e Bruno Ribeiro)