
“Est� dif�cil falar com voc�, mas vou tentar”, avisa Marta (nome fict�cio), 34 anos, emocionada ao contar que sobreviveu a duas sess�es de tortura nas m�os de um grupo de policiais militares, entre eles tr�s oficiais, em Minas Gerais. “Eles me agrediram s� porque sou homossexual, me abordaram em plena avenida, na cidadezinha onde eu morava, e apreenderam minha motocicleta. Depois me agrediram, abusaram de mim sexualmente, de todas as maneiras poss�veis, e colocaram algo quente nos meus ouvidos que me queimou. Eu n�o ou�o bem do ouvido esquerdo e, at� hoje, n�o me recuperei totalmente”, conta.
De acordo com Marta, ela s� n�o foi morta devido � interven��o de um dos policiais. “Ele disse que n�o teria como explicar a minha morte, j� que � uma cidade pequena e todos me conheciam. Eles me levaram ao hospital, e o m�dico perguntou o que tinha acontecido. Por ordem deles, respondi que foi um acidente de moto. Era isso ou eu morreria”, prossegue. “O m�dico viu minhas m�os cortadas pelas algemas, n�o acreditou e perguntou v�rias vezes se tinha sido mesmo acidente de moto. Ele viu que a moto estava intacta. Os policiais disseram que, se eu abrisse a boca, eles iam assassinar minha fam�lia.” A brasileira diz que o grupo � chamado de “Quadrilha da morte”.
Temor
O medo de sofrer novas agress�es encorajou Marta a fugir para os Estados Unidos com a ajuda de um coiote, como � chamado o traficante de pessoas que querem entrar ilegalmente em outro pa�s. Em certo ponto da viagem, o grupo em que estava foi abandonado pelo coiote, e ela caminhou por tr�s dias no deserto, passou fome, at� ser detida pela pol�cia de imigra��o americana, “para meu al�vio”, frisa. A brasileira pagou US$ 5,5 mil de fian�a e hoje responde a processo de deporta��o em liberdade. Apavorada com a possibilidade de ser mandada de volta ao Brasil, pediu asilo h� um ano e nove meses. Com a ajuda de uma advogada de imigra��o, conseguiu cart�o social e permiss�o de trabalho.
Outro brasileiro, Armando (nome fict�cio), 36 anos, � um ex-policial. Ele viajou tr�s vezes aos Estados Unidos, todas de forma legal. A primeira, para visitar parentes; a segunda, com intuito de ficar longe da viol�ncia e melhorar o ingl�s. Em abril deste ano, decidiu deixar o Brasil de vez, ap�s sofrer dois atentados.
“Sofri amea�a de morte por duas vezes, assim como dois atentados contra minha vida, decorrentes da fun��o policial. O autor � membro de um grande grupo criminoso organizado, conhecido como PGC (Primeiro Grupo Catarinense), atuante em Santa Catarina e em v�rios estados adjacentes. Mesmo um ano ap�s a primeira amea�a, os membros desse grupo ainda est�o interessados em ceifar a minha vida”, conta. “Apesar de ter tentado um recome�o no Brasil, o prec�rio sistema de seguran�a p�blica n�o � capaz de garantir minha vida e a dos meus”, critica ele, que abriu uma empresa de seguran�a em territ�rio americano.
Tamb�m jurado de morte, Josias (fict�cio), 29 anos, foi integrante de uma quadrilha de tr�fico de pessoas, mas passou a sofrer amea�as depois de deixar o grupo. Ele entrou ilegalmente nos EUA em 2007. “Fiz uma grande besteira na minha vida, me arrependo at� hoje por ter me envolvido nesse grande problema, que � a m�fia do tr�fico de pessoas. Um dos integrantes foi deportado para o Brasil, e eu consegui ficar, tirar minha licen�a de motorista”, afirma. “Mas soube por uns amigos que os membros da quadrilha acham que eu colaborei com a pol�cia americana e, por isso, querem me matar. Com isso, tenho muito medo de voltar ao Brasil. N�o quero morrer.”
J� Diego (fict�cio), 35 anos, entrou legalmente nos Estados Unidos em novembro de 2016, pois, segundo diz, estava sofrendo amea�as do sindicato dos trabalhadores da empresa que mantinha no Brasil. Ele relata que temeu ser morto ou ter mulher e filhas sequestradas. “Pedi aux�lio ao Minist�rio P�blico brasileiro, a um vereador da minha cidade e � Junta Comercial, por�m ningu�m tinha condi��es de garantir nossa seguran�a”, ressalta.
"Apesar de ter tentado um recome�o no Brasil, o prec�rio sistema de seguran�a p�blica n�o � capaz de garantir minha vida e a dos meus"
Armando (nome fict�cio), ex-policial
"Pedi aux�lio ao Minist�rio P�blico brasileiro, a um vereador da minha cidade e � Junta Comercial, por�m ningu�m tinha condi��es de garantir nossa seguran�a"
Diego (nome fict�cio), empres�rio