S�o Paulo, 22 - O frio na barriga s� passou quando eu j� estava paramentado com as vestimentas do bom velhinho. Em pleno dezembro brasileiro, dentro daquela roupa, n�o h� ar condicionado suficiente. Sim, querido leitor: por uma tarde fui Papai Noel de shopping. Ho, ho, ho.
No dia 29 de novembro, estive frente � frente com Orlando Wohnrath Junior. Aos 67 anos, o seguran�a aposentado � quem eu queria ser - por uma tarde. Desde 2009, ele encarna o Papai Noel do Shopping P�tio Paulista, na regi�o central. Do in�cio de novembro at� a v�spera do Natal. Pedi a ele que me ensinasse os macetes da profiss�o. �Vou ensinar. E vou correr o risco de ganhar um concorrente, porque vai ser t�o gostoso que voc� vai querer ser Papai Noel mesmo.� Pronto, meu professor era a empatia encarnada e n�o se negou a passar nenhuma dica, tudo naquele vozeir�o t�pico.
�A crian�a acredita em voc�, disse. �Pergunte se ela se comportou, se escovou os dentes todos os dias. Pergunte o que ela quer ganhar. Mas, como voc� n�o sabe se o pai ou a m�e podem dar aquilo, responda sempre que vai tentar, que precisa ver se seus ajudantes v�o conseguir fabricar a tempo.�
S�o cerca de cem velhinhos, todos de barba branca e barriga avantajada (sempre naturais), que trabalham como em shoppings da cidade. S�o a elite da profiss�o, j� que os shoppings costumam ser mais exigentes do que outros empreendimentos, como supermercados. Trabalham do in�cio de novembro at� a v�spera do Natal. Os cach�s variam entre R$ 20 mil e R$ 50 mil pela temporada.
�Voc� est� magrinho�, disse Rafaela Moraes, respons�vel pelos figurinos do shopping enquanto eu provava a roupa. �Magrinho para um Papai Noel, quis dizer.� Acertamos que 7 de dezembro seria meu �grande dia�.
Um apertado quartinho nos fundos do frald�rio do shopping foi o camarim. Enquanto me vestia, j� come�ava a rogar pragas ao calor. Ao lado de minha noelete, Paloma Dantas, caminhei do frald�rio infantil at� o recinto central da decora��o natalina. Saboreei cada movimento. Batia o sino e todos olhavam. Eu era o Papai Noel.
Minha primeira intera��o com uma crian�a n�o foi bem sucedida. Chorou ao me ver. Voltei para o trono desolado. Paloma me consolou: �� assim mesmo�. Depois melhorou. Veio o Felipe, de 3 anos. E me pareceu que acreditou em mim. �Como voc� cresceu, Felipe�, eu disse, recebendo-o com um abra�o. Precisei perguntar tr�s vezes para entender o que ele queria ganhar: um videogame.
A prova maior de que Felipe realmente acreditou em mim foi quando estava voltando para o frald�rio para �alimentar minhas renas� - eufemismo usado para quando o Papai Noel tira uns minutinhos para ir ao banheiro. Ele me viu no corredor e veio. �Papai Noel, Papai Noel!�
Leite com chocolate
Mas preciso falar sobre Luiza, de 5 anos, que quer uma boneca que chora. Ela me cochichou que vai deixar um copo de leite para mim na noite de Natal. �Voc� gosta quente ou frio?� Respondi que quero morno. E com chocolate.
Luiza realmente acredita em Papai Noel. Ela realmente acreditou em mim. Fiquei comovido. Quando sa� de cena, ao contr�rio do que imaginava, n�o estava de saco cheio de ser Papai Noel. Apesar de reconhecer que tudo seria bem mais f�cil se barba e barriga fossem verdadeiras - aqueles fiapos na minha cara descolando ao suor e o estofamento na barriga cedendo aos movimentos, melhor esquecer. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
(Edison Veiga)