
Bras�lia dorme cedo. Bares e restaurantes come�am a fechar a partir das 22h, mas, independentemente do hor�rio, o movimento nos estacionamentos 1 e 2 do Parque da Cidade Sarah Kubitschek, pr�ximos ao Pavilh�o de Exposi��es, nunca para. O Correio visitou esses locais durante tr�s semanas para acompanhar a rotina no local. Encontrou pessoas em busca de prazer, aventurando-se dentro de ve�culos ou entre as �rvores da regi�o apelidada de Floresta dos Sussurros. O p�blico se mostra diversificado, mas a maioria � homem. Engravatados, com roupas de malhar, brancos, negros, casados, solteiros, jovens e idosos. Todos est�o l� por um motivo em comum: sexo r�pido e sem compromisso.
A menos de 6km da Pra�a dos Tr�s Poderes, as rela��es ocorrem ao ar livre e sem rodeios. Ali, a reportagem conversou com 20 homens, que n�o ter�o os nomes divulgados para preserv�-los. A pr�tica n�o se trata de prostitui��o, e ningu�m � obrigado a fazer nada que n�o deseje, apesar da exposi��o � inseguran�a e a doen�as. “Voc� est� aqui a trabalho ou divers�o?”, questiona o primeiro homem a puxar conversa com a reportagem. Sem dar tempo para uma resposta, o senhor, por volta dos 60 anos e ao volante de um ve�culo luxuoso, completa: “Posso ver seu corpo?”.
O estacionamento pr�ximo � Floresta dos Sussurros � iluminado. V�rios buracos e uma pista desgastada denunciam o tr�nsito intenso. Em menos de duas horas, cerca de 30 carros passaram pela regi�o. Boa parte dos frequentadores n�o cobra pelas atividades sexuais. Por�m, homens mais velhos e com condi��es financeiras costumam oferecer dinheiro para os jovens a fim de convenc�-los a fazer o que quiserem na hora do sexo. “Tem certeza de que n�o quer entrar no meu carro? Vira e mexe encontram um corpo aqui. � mais seguro comigo”, argumenta.
"O meu emprego fica na Asa Sul. Passei aqui rapidinho para me divertir antes de come�ar o dia. E voc�? Curte o qu�?"
Morador do Noroeste, flagrado no local
Entre as �rvores, o ambiente muda. Fica mais escuro. N�o se consegue ver direito o rosto dos parceiros, fora os momentos em que um ve�culo manobra e direciona os far�is, iluminando a “floresta”. Nesse momento, muitos se escondem, protegendo os olhos da luz ou tentando manter a identidade oculta. As abordagens s�o r�pidas. Algu�m se aproxima, cumprimenta e solta um r�pido: “Curte o qu�?”. A pergunta tem como objetivo descobrir se os homens s�o compat�veis sexualmente, mais especificamente, se s�o ativos ou passivos.
Caso tenha uma combina��o, a rela��o se inicia. Poucas vezes trocam beijos, v�o direto ao sexo. E nada fica restrito a um casal. Quem passa por ali pode chegar perto, mostrar o corpo e, se aceito, participar do ato. Rapidamente, formam-se grupos de cinco ou mais. Ao redor, outros se masturbam enquanto assistem �s cenas. Aqueles em busca de privacidade acabam se aprofundando na Floresta dos Sussurros ou seguem para um carro no estacionamento. Apenas duas mulheres apareceram no local durante as tr�s semanas de reportagem e, diferentemente dos homens, elas aparentavam ser moradoras de rua.
No fim da madrugada, o p�blico na Floresta dos Sussurros muda. �s 6h, muitos passam no local antes de seguir para o trabalho. Usam roupas formais, como terno e blazer, e trabalham na �rea central de Bras�lia. “O meu emprego fica na Asa Sul. Passei aqui rapidinho para me divertir antes de come�ar o dia. E voc�? Curte o qu�?”, questiona o morador do Noroeste, de meia-idade. Ele revela que, quando sente vontade, sai mais cedo de casa para passar no Parque da Cidade. Dirige um ve�culo 0km. Com pressa e desinibido, ele circula pelo lugar e aborda alguns dos 15 autom�veis estacionados. “N�o tenho medo. Vim aqui v�rias vezes, � tranquilo”, afirma.
Por volta das 9h, o movimento diminui. Nesse hor�rio, a intera��o ainda ocorre, mas de forma t�mida, e o p�blico muda outra vez. Agora, no lugar dos engravatados, gente com roupas esportivas toma conta dos estacionamentos pr�ximos ao Pavilh�o de Exposi��es. Salta de um ve�culo para outro e d� in�cio � rela��o sexual em plena luz do dia. Aqueles a p� ou de bicicleta tamb�m abordam os motoristas com ve�culos parados no local. A partir das 11h30, o n�mero de pessoas volta a aumentar. Muitos usam o hor�rio de almo�o e o intervalo do servi�o em busca de prazer. (Pedro Grigori - Especial para o Correio , Walder Galv�o - Estagi�rio sob supervis�o de Guilherme Goulart)

Pega��o
As hist�rias e os mist�rios nos estacionamentos do Parque da Cidade ocorrem, no m�nimo, desde os anos 1990. Em sites de d�vidas, f�runs e at� em grupos nas redes sociais, s�o encontrados t�picos com pessoas questionando o motivo de haver tantos carros em movimento pelo local. Atualmente, a regi�o � mais conhecida pelos frequentadores como Pega��o. O termo � uma g�ria usada para identificar qualquer local onde ocorra sexo casual e f�cil.
Mem�ria
Rela��es em �reas p�blicas
Pr�ticas de sexo gay em locais p�blicos ocorrem h� pelo menos dois s�culos. Elas tiveram in�cio quando os atos sexuais entre homens come�aram a ser recriminados, fazendo com que ficassem marginalizados. No in�cio, esse tipo de rela��o era mais comum com homens que, apesar de homossexuais, se casavam com mulheres. Com o passar das d�cadas, esses espa�os p�blicos viraram pontos de paquera onde gays poderiam se encontrar longe da viol�ncia e da homofobia. Em 2013, a pr�tica inspirou o filme franc�s Um estranho no lago, que narra a hist�ria de um local na Europa onde gays se encontravam para manter rela��es sexuais pr�ximo a um lago. No Brasil, al�m de Bras�lia, alguns pontos conhecidos de pega��o s�o o Parque Trianon, em S�o Paulo; a Praia do Phil, em Vit�ria (ES); e a Floresta dos Gatos, no Arpoador (RJ). Fora do pa�s, ocorre no Central Park, em Nova York, e nos banheiros p�blicos de Bethnal Green, Hyde Park e Carnaby Street, em Londres.