Rio, 22 - A atua��o das For�as Armadas na seguran�a p�blica n�o ajuda na redu��o da viol�ncia nas grandes cidades brasileiras. A conclus�o est� no mais recente relat�rio da Anistia Internacional, "O Estado dos Direitos Humanos no Mundo 2017/2018", divulgado nesta quarta-feira, 21, na primeira semana da interven��o federal na seguran�a do Rio de Janeiro.
O relat�rio mostra que embora os militares venham cumprindo cada vez mais fun��es policiais e de manuten��o de ordem p�blica, o n�mero de homic�dios no Brasil em 2016 foi recorde: 61.619 pessoas, a maior parte delas por armas de fogo.
"Nosso levantamento mostra que a presen�a militar n�o resultou em melhora dos indicadores de viol�ncia", afirmou a diretora da Anistia Internacional no Brasil, Jurema Werneck. "O governo federal j� tinha anunciado um plano de seguran�a p�blica no in�cio do ano passado, que n�o foi colocado em pr�tica. A atual interven��o (no Rio) me parece uma medida inadequada e extrema que coloca em risco os direitos humanos da popula��o, sobretudo da popula��o mais pobre, das favelas e das periferias."
De acordo com o relat�rio, entre janeiro e novembro do ano passado, 1.035 pessoas foram mortas no Rio de Janeiro durante opera��es policiais. As a��es da pol�cia em favelas costumam ser muito violentas, altamente militarizadas, de confronto e, por isso, causam milhares de mortes todos os anos, inclusive de policiais no exerc�cio da fun��o. Especialistas temem que, com a presen�a maci�a das For�as Armadas, o quadro se agrave ainda mais.
"A pol�tica de seguran�a p�blica ainda insiste na chamada 'guerra �s drogas' e na militariza��o", disse Jurema. "Sem uma mudan�a de estrat�gia, o resultado continua o mesmo: mortes e viola��es dos direitos humanos em sua maior parte contra a popula��o negra e perif�rica." A Anistia Internacional recha�ou o uso da express�o "guerra" para se referir aos conflitos envolvendo fac��es criminosas no Rio de Janeiro.
"Vivemos um quadro de crescente viol�ncia, em que o crime organizado exibe poder de for�a letal, de crise profunda na seguran�a p�blica. Mas n�o estamos em guerra, n�o podemos aceitar essa narrativa", explicou a assessora de direitos humanos da Anistia Internacional, Renata Nader. "Porque, numa guerra, o objetivo n�o � proteger as pessoas, mas sim, eliminar o outro. E quem � o outro? Em geral, o jovem negro e favelado."
Mais viol�ncia
Gl�ucia dos Santos, moradora da comunidade do Chapad�o, um complexo de favelas na zona norte do Rio, cujo filho de 17 anos foi morto pela pol�cia com um tiro de fuzil, teme pelo recrudescimento da viol�ncia. A comunidade foi uma das primeiras a serem ocupadas por militares.
"N�s n�o estamos em guerra, mas est�o tentando criar uma guerra nas favelas: muitos soldados s�o tamb�m moradores das comunidades", afirmou. "E vai ter essa interven��o aqui na zona sul? Em Copacabana? Nos apartamentos? Ou s� nas favelas?", questionou.
(Roberta Jansen)