Osasco, 28 - A defesa do policial militar Victor Cristilder, acusado de participar da maior chacina da hist�ria do Estado de S�o Paulo, em 2015, chamou para depor como testemunha no j�ri um advogado que atuou na bancada de defesa de outro r�u, o soldado das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) Fabr�cio Eleut�rio. Com o processo desmembrado, Eleut�rio foi julgado antes, em setembro, e condenado a 255 anos, 10 meses e sete dias de pris�o em regime fechado.
Desta vez arrolado como testemunha, Charles dos Santos Cabral Rocha confirmou em plen�rio que trabalha para o escrit�rio da advogada Fl�via Artilheiro, representante legal de Eleut�rio, e que esteve presente no julgamento anterior. Ele chegou a guardar o resultado do Conselho de Senten�a dentro do tribunal.
Na ocasi�o, al�m de Eleut�rio, o PM Thiago Heinklein e o guarda civil de Barueri S�rgio Manhanh� foram considerados culpados e receberam pena de 247 anos, 10 meses e 7 dias e 100 anos e 10 meses, respectivamente. Todas as defesas recorreram da senten�a e o resultado do j�ri de Cristilder pode impactar na apela��o dos r�us j� condenados.
Na tarde desta quarta-feira, 28, a ju�za �lia Kinosita Bulma, que preside o j�ri, preferiu n�o fazer perguntas a Rocha. "Vou passar para o defensor porque nem sei o que voc� tem para falar", disse.
Aos jurados, ele se apresentou apenas como o primeiro advogado de Cristilder, respons�vel por acompanhar o reconhecimento do r�u por uma testemunha protegida, a "Beta", no Departamento de Homic�dios e de Prote��o � Pessoa (DHPP) e na Corregedoria da Pol�cia Militar.
Rocha s� abdicou formalmente da fun��o de advogado de Cristilder nesta quarta, quando j� estava no plen�rio. Aos jurados, ele narrou supostas irregularidades no processo de reconhecimento de Cristilder na fase policial. Segundo relatou, a testemunha "Beta" estaria "tranquila" quando disse n�o reconhecer o PM como o autor dos disparos que matou Michael do Amaral Ribeiro, de 27 anos, em Carapicu�ba, uma semana antes dos ataques. Ap�s confronto de bal�stica, as investiga��es apontaram que a mesma muni��o desse homic�dio foi usada em parte dos ataques da chacina.
Em plen�rio, o delegado Jos� M�rio de Lara, do DHPP, afirmou que a testemunha teria se sentido intimidada pela presen�a do advogado e que, mais tarde, afirmou para ele que tinha reconhecido Cristilder. Rocha, no entanto, afirmou n�o ter sido avisado dessa mudan�a quando o delegado formalizou o reconhecimento.
Por sua vez, o promotor Marcelo Alexandre de Oliveira, respons�vel pela acusa��o, mostrou ao advogado o documento, assinado por ele pr�prio, em que "Beta" reconhece Cristilder e narra que a testemunha estava "nervosa" e "suou frio". "Sim, reconhe�o minha assinatura", disse Rocha.
"� algo meio in�dito para mim, principalmente quando esse mesmo advogado atuou no escrit�rio do advogado do Cristilder e, neste processo, ele atua em favor do Fabr�cio, j� condenado pelo Tribunal do J�ri de Osasco", afirmou o promotor. "� evidente que tem interesse na absolvi��o do Cristilder para que interfira de alguma maneira no convencimento do Tribunal de Justi�a na an�lise dos recursos."
Questionado, o advogado Jo�o Carlos Campanini, que defende Cristilder, negou que tenha havido conflito de interesse em arrolar Rocha no processo. "Voc� pode valorar sua prova, at� que ponto essa testemunha est� falando a verdade ou n�o. O promotor vai dizer que ela est� mentindo porque tem interesse. A defesa vai dizer que ela est� falando a verdade", disse. "Quem vai poder valorar isso a� e acreditar ou n�o na testemunha s�o os jurados."
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Tamb�m houve o depoimento de quatro policiais militares que trabalharam com Cristilder na For�a T�tica do 20.� Batalh�o do Metropolitano (BPM/M), entre eles o comandante do pelot�o. As testemunhas refor�aram que o r�u estava na sede no momento da chacina, estudando para o concurso de sargento da PM. "Ele estava nessa rotina havia dois, tr�s meses", disse o tenente Lu�s Alberto Balsa, superior direto.
Os policiais confirmaram que n�o havia registro de entrada e sa�da no local, mas que seria "imposs�vel' Cristilder deixar a sede sem ser visto. "N�o tem como ele ter sa�do e matado gente", afirmou o soldado Marcos C�sar Dias.
O capit�o reformado do Ex�rcito Brasileiro S�rgio Rodrigues afirmou que foi chefe do PM entre os anos 2003 e 2008, quando Cristilder servia �s For�as Armadas, no batalh�o log�stico. "Era meu bra�o direito", disse a testemunha.
Para a defesa, o testemunho de Rodrigues interessa porque as muni��es usadas em Carapicu�ba e na chacina de Osasco foram extraviadas do Ex�rcito - o que refor�a a suspeita sobre o r�u. Em plen�rio, entretanto, o capit�o afirmou nunca ter sumido nenhuma muni��o no per�odo em que ele esteve l�. Foram ouvidos ainda o gerente de supermercado da regi�o (onde supostamente Cristilder fazia "bico", segundo uma testemunha"), a m�e de uma v�tima de homic�dio (que n�o � julgado neste processo) e um vizinho do PM.
Mais tr�s testemunhas est�o previstas para depor no F�rum Criminal de Osasco, na Grande S�o Paulo, nesta quinta-feira, 1.�. Neste dia, o r�u tamb�m deve passar por interrogat�rio. A expectativa � que a fase de debates, a Sala Secreta e a leitura da senten�a saiam na sexta-feira, 2.
(Felipe Resk)