S�o Paulo, 08 - Na semana em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, a ministra C�rmen L�cia, presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justi�a, se reuniu com cinco delas e ouviu relatos emocionados de quem j� encarou de perto a viol�ncia. "Eu quis ouvir a dor das mulheres que passaram por experi�ncias traum�ticas, que s�o compartilhadas por todas as mulheres do mundo", afirmou a ministra.
As informa��es foram divulgadas no site do Supremo pela Ag�ncia CJN de Not�cias. Sandra Batista foi uma das mulheres que atendeu ao convite da ministra.
Em 2016, uma de suas filhas, a estudante Louise Ribeiro teve a vida interrompida aos 20 anos por um colega da Universidade de Bras�lia, que a asfixiou e queimou parte do seu corpo porque ela n�o quis continuar um relacionamento amoroso.
"Hoje, revivi tudo o que aconteceu com a minha filha, mas a gente n�o pode fugir. Temos que unir a nossa dor, nossa for�a, nossas hist�rias. A vida continua, e essa uni�o mostra que n�o estamos sozinhas", disse Sandra.
A fisioterapeuta Cristina Lopes, 52 anos, teve 85% do corpo queimado h� tr�s d�cadas pelo marido. O agressor foi condenado a 13 anos e 10 meses de pris�o. A puni��o � refer�ncia no combate � viol�ncia dom�stica no Brasil.
"A Lei Maria da Penha foi um marco na hist�ria brasileira, pois um crime que n�o � punido � permitido", observa. Ela se formou em fisioterapia, tem especializa��o no tratamento de queimados e � vereadora em Goi�nia.
O �dio de um ex-companheiro tamb�m motivou a agress�o sofrida pela advogada Let�cia Pereira, 30 anos, outra convidada da ministra.
Moradora de Juiz de Fora (MG), em fevereiro de 2015 Let�cia foi espancada pelo homem com quem namorou por dois anos. "Ainda sou ref�m do medo, mas acho importante essa postura de humaniza��o do Poder Judici�rio. Tivemos uma reuni�o muito emocionante com C�rmen L�cia", afirmou.
O caso de Let�cia foi o primeiro em Minas a ser enquadrado na Lei Maria da Penha e a ir a j�ri popular. O agressor da advogada foi condenado a 10 anos e 8 meses de pris�o por tentativa de feminic�dio duplamente qualificado - motivo torpe e sofrimento desnecess�rio � v�tima.
Let�cia teve afundamento de cr�nio, fraturas no bra�o direito e na m�o esquerda. Ela ficou 14 dias internada e, desde ent�o, precisou fazer sete cirurgias.
"Ainda vivo com medo, e iniciativas como essa ajudam a amenizar esse sentimento", diz.
At� hoje, como consequ�ncia do espancamento, a advogada tem fortes dores de cabe�a, vive com acompanhamento psicol�gico e psiqui�trico e se submete a tratamento para recuperar o movimento das m�os e dos bra�os.
A ju�za Tatiane Moreira de Lima, que atua justamente em uma vara de viol�ncia dom�stica em S�o Paulo, se viu v�tima de um drama em 2016. Um homem que era parte em processo sob sua responsabilidade invadiu seu gabinete no F�rum de Pinheiros, zona Oeste da cidade, e amea�ou tocar fogo em seu corpo.
O trauma causado pelo epis�dio acabou superado, e a magistrada passou a difundir um programa de recupera��o de homens que agridem mulheres e a fazer palestras sobre o assunto, segundo a Ag�ncia CNJ de Not�cias.
O homem que tentou matar a ju�za foi condenado a 20 anos de pris�o por tentativa de homic�dio e c�rcere privado. "Esse encontro promovido pela ministra promoveu o fortalecimento de todas as mulheres, para que elas n�o se calem e consigam superar a viol�ncia. Juntas, percebemos que somos muito mais fortes", afirmou Tatiane.
Um desentendimento entre a cantora e atriz Mariene de Castro, 39 anos, e seu ent�o companheiro tamb�m acabou em viol�ncia dom�stica, em 2012. A baiana, que tem um filho com seu agressor, prestou queixa por les�o corporal e amea�a e ainda aguarda o fim do processo em curso na Justi�a.
Mariene pede mais mobiliza��o das pessoas, homens e mulheres. "Nessa semana dedicada � mulher, um encontro como esse s� pode repercutir positivamente. Acho que foi uma grande oportunidade para mulheres falarem de suas dores e de suas hist�rias, com muita verdade, muita entrega e muita sinceridade. Clamamos por um pa�s sem viol�ncia, de homens mais generosos, de pessoas mais humanas", ressaltou Mariene.
Para C�rmen L�cia, ouvir o relato dessas mulheres foi uma oportunidade de dar voz a quem teve a vida marcada pela viol�ncia.
"O Estado, que assumiu a responsabilidade de fazer a justi�a no sentido humano, no plano do Estado-Juiz, tem que dar espa�o para que essas pessoas falem, para que possamos dar � sociedade a oportunidade de contribuir com as mudan�as e tamb�m mudar a estrutura estatal que garanta que haja puni��o. Eu quis me reunir com pessoas que t�m o que falar e querem ser ouvidas", disse a presidente do STF e do CNJ.
(Julia Affonso e Fausto Macedo)