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Estado de Minas

Alunos repetem de ano mais de uma vez na maioria dos munic�pios do pa�s


postado em 01/04/2018 09:06

S�o Paulo, 01 - Em mais de 70% das cidades brasileiras, no m�nimo um em cada quatro alunos cursa o 1.� ano do ensino m�dio com muito atraso. Eles come�am essa etapa com 17 anos em vez de 15, a idade correta. Isso acontece basicamente porque os jovens repetiram de ano pelo menos duas vezes ao longo da vida escolar. Os dados mostram tamb�m que apenas 1,4% dos munic�pios do Pa�s tem 90% das crian�as na idade certa em todos os anos da educa��o fundamental e m�dia.

O resultado vai contra o senso comum de que n�o se reprova mais nas escolas p�blicas brasileiras. Especialistas em educa��o s�o contr�rios � repet�ncia porque sustentam que ela n�o melhora a aprendizagem. Al�m disso, afirmam, prejudica a autoestima do aluno e � uma das principais causas de abandono da escola. O ensino m�dio brasileiro tem evas�o considerada elevada, em torno de 12%.

O estudo in�dito foi feito com base no Censo Escolar 2016 pelo Interdisciplinaridade e Evid�ncias no Debate Educacional (Iede) e pelo QEdu, dois institutos que pesquisam e divulgam dados educacionais. Foi tabulada a chamada distor��o idade/s�rie de todos os anos do ensino fundamental e m�dio - o c�lculo inclui apenas alunos com dois anos ou mais de atraso. A s�rie em que h� mais munic�pios com grande diferen�a de idade � o 1.� ano do m�dio e, em seguida, o 6.� ano.

"Isso � reflexo de um sistema que n�o consegue garantir a qualidade da aprendizagem. A reprova��o precisa ser uma exce��o e n�o uma estrat�gia pedag�gica", diz o diretor do Iede, Ernesto Faria. Para ele, h� uma cultura da repet�ncia no Pa�s que est� ligada � rela��o conflituosa entre professor e aluno.

"Alguns professores alegam que, ao amea�ar um aluno de reprova��o, ele estuda. Se isso funcionasse, estaria todo mundo bem, com �tima aprendizagem", afirma o professor da Universidade de S�o Paulo (USP) Ocimar Alavarse. Resultados de avalia��es nacionais e internacionais mostram que alunos reprovados t�m desempenho inferior aos demais. Dados do Pisa, o maior exame de estudantes do mundo, indicam uma diferen�a de mais de 70 pontos entre os brasileiros que nunca repetiram de ano e os que foram retidos. Isso significa dois anos a mais de escolaridade. A tend�ncia se repete em todos os pa�ses participantes do Pisa.

A educadora da Universidade Federal de S�o Paulo (Unifesp) M�rcia Jacomini, que pesquisa reprova��o, diz que n�o v� "um s� aspecto positivo" na repet�ncia. "Ela leva � separa��o do grupo da classe, interfere na autoestima, tem custo alto e causa evas�o."

Victor Hugo, de 11 anos, est� fazendo o 4.� ano pela terceira vez numa escola p�blica de Senador Canedo, em Goi�s. A cidade � uma das que t�m altos �ndices de distor��o idade/s�rie no ensino m�dio. A m�e, a empregada dom�stica Jaciene Braz, de 30 anos, diz que o menino reclama que � muito maior que os colegas. Com 1,65 metro e quase 12 anos, j� deveria estar no 7.� ano, mas convive com crian�as de 8 e 9 anos. "Ele j� nem quer ir mais para a escola." Victor Hugo n�o sabe ler e escreve pouco. "No 1.� ano ele n�o foi alfabetizado", diz. Mesmo assim, Jaciene acha certo o filho repetir porque "iria para o 5.� ano sem saber nada".

Morador de Presidente Prudente (SP), Gabriel Gon�alves, de 19 anos, desistiu da escola regular no in�cio no ensino m�dio. J� havia repetido duas vezes, no 5.� ano e no 8.� ano. "Ficava triste, todo mundo ia para frente e eu, parado." Agora que � maior de idade, voltou a estudar na Educa��o de Jovens e Adultos (EJA) porque quer prestar concurso p�blico. "Acho que deveriam dar mais chances para a gente. Os anos que fiz de novo n�o aprendi nada e passei raspando."

Especialistas alertam que, se h� repet�ncia, as escolas precisam ter projetos para lidar com os reprovados. "N�o se pode trat�-los como se tivessem come�ando pela primeira vez aquele ano", afirma Alavarse.

Ciclos

Os dados da pesquisa mostram que h� Estados em que 100% dos munic�pios t�m graves problemas de distor��o idade/s�rie no ensino m�dio, como Par� e Distrito Federal. Procurados, ambos os governos informaram que t�m medidas para reduzir os �ndices, como parcerias e implementa��o de ciclos, quando a repet�ncia acontece s� em alguns anos. Roraima, Amap� e Amazonas n�o responderam �s solicita��es do Estado. S�o Paulo, que adota um sistema de ciclos, tem os �ndices mais baixos do Pa�s. Educadores dizem que h� problemas na implementa��o do sistema, que prev� uma avalia��o cont�nua do aluno - o que nem sempre ocorre -, mas a menor possibilidade de repet�ncia � positiva.

Professores que atuam nas escolas reclamam de salas cheias, dificuldade em se dedicar aos alunos com problemas de aprendizagem e pouca ajuda dos pais. "Depois do 3.� ano, os pais desistem de ir a reuni�es, n�o acompanham. A� a crian�a chega ao 5.� ano sem saber ler e n�o temos mais o que fazer", diz Nath�lia, professora da rede municipal de S�o Paulo, que preferiu n�o ter seu sobrenome publicado. "Acho que tem de repetir em todas as s�ries. Se voc� joga para frente, ele n�o vai acompanhar e vai se frustrar."

Educadores lembram que as escolas precisam fazer interven��es ao longo do ano, com acompanhamento do aluno e refor�o, para verificar se ele est� aprendendo. "O desafio � construir um sistema de ensino que prescinda da reprova��o." As informa��es s�o do jornal

O Estado de S. Paulo.

(Renata Cafardo)


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