(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Hospital quebra protocolo e mant�m casal de idosos em mesmo quarto

Sebastiana Coelho de Matos, de 101 anos e Francisco Fernandes de Alencar, 103, foram acomodados lado a lado no Hospital de Samambaia. Hist�ria de amor deles ultrapassa os 80 anos


postado em 20/04/2018 10:45 / atualizado em 20/04/2018 11:52

(foto: Matheus Oliveira/Agência Saúde)
(foto: Matheus Oliveira/Ag�ncia Sa�de)

“Sebastiana, j� comeu?”, pergunta Francisco � mulher, que, da cama, consente acenando a cabe�a. O marido observa o gesto com um pouco de dificuldade, virando-se levemente para o lado. Ela, um pouco mais fragilizada, de vez em quando, tamb�m confere se ele continua ali. E, assim, deitados lado a lado em leitos do Hospital Regional de Samambaia, no Distrito Federal, d�o continuidade � hist�ria de amor que ultrapassa 80 anos.

Sebastiana Coelho de Matos tem 101 anos. Francisco Fernandes de Alencar, 103. E desde a juventude s�o insepar�veis. Na segunda-feira, ela precisou ser internada por causa de complica��es causadas pelo diabetes. A dist�ncia parece ter abalado o apaixonado marido. No dia seguinte, foi ele quem deu entrada no hospital sofrendo de insufici�ncia nos rins.

“Quando o estabilizaram, ele come�ou a perguntar por minha av�. O tempo todo. Isso sensibilizou quem estava ao redor”, conta Jane Ester Alencar, 42 anos, neta do casal. A equipe da unidade de sa�de se viu em um impasse. Na emerg�ncia, onde os dois estavam, a ala destinada � Sebastiana era a amarela, mas Francisco deveria permanecer na vermelha. E os 15 metros que os separavam tinham se transformado em um abismo para eles. Conversa daqui, conversa dali, o amor — e tamb�m a aten��o ao bem-estar dos pacientes — falou mais alto do que o protocolo hospitalar. Francisco foi instalado ao lado de Sebastiana, como queria, onde tamb�m havia outros pacientes. Ontem � noite, o casal foi transferido para um quarto s� para os dois.

Pensar e falar na morte n�o � problema para os dois, revela Miriam Ara�jo, 66 anos, uma das filhas. O assunto � discutido sem medos. O �nico receio deles � que um deixe o outro para tr�s. “Eles sempre falam que um n�o vai embora na frente do outro. Meu pai diz que sempre ora para que minha m�e n�o morra antes dele, para ele n�o ficar sozinho e para que ele n�o v� antes dela, para n�o a deixar s�”, conta Miriam, concordando com a contradi��o da frase.


O come�o



Essa hist�ria de amor insepar�vel come�ou na d�cada de 1930, no interior de Goi�s. Francisco havia sa�do do Maranh�o com quase nada na mochila. Era um menino pobre em busca de sobreviv�ncia nas fazendas goianas, quando conheceu Sebastiana. Morena, bonita, rica, filha de fazendeiros. N�o estava ao seu alcance, Francisco pensou. Talvez por isso, no come�o, os dois ficaram apenas na t�mida troca de olhares.

Vez ou outra, quando cansava da lida com a enxada, ele entrava na cozinha da casa grande para beber um pouco de �gua do pote de barro. Nesses momentos, Sebastiana dava um jeito de aparecer na cozinha tamb�m. “Mas ele achava que era imposs�vel se casar com ela. ‘Como podia uma menina rica querer um menino pobre de saco nas costas’, era o que ele repetia”, lembra a ca�ula, Ana Ara�jo, 56.

Sebastiana, no entanto, correspondia � paix�o do garoto. Quando o amor entre os dois ficou claro, ela n�o hesitou em enfrentar o pai para se casar com homem da sua vida. Com a ajuda de uma tia dela, numa quarta-feira, fugiram juntos da fazenda. No s�bado, estavam casados.

N�o foi f�cil. Sobreviveram a vida toda da lavoura, moraram em muitos interiores do Brasil e assim criaram os 12 filhos. S�o os patriarcas de uma fam�lia enorme: quase 80 netos e oito bisnetos. Depois de tanto andar e tanto realizar, Francisco diz ter um s� desejo: mais tempo para viver ao lado da sua amada. Por qu�? “Casar com ela foi a melhor coisa”, responde. E volta-se de novo para a companheira de vida: “Bastiana, voc� sabe que eu te amo, n�?”


receba nossa newsletter

Comece o dia com as not�cias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)