Imagine a quantidade de energia el�trica consumida por resid�ncias, com�rcio e ilumina��o p�blica em toda a cidade de S�o Paulo. Essa � aproximadamente a quantidade de eletricidade gasta para produzir a moeda virtual bitcoin, de acordo com um novo estudo.
De acordo com a pesquisa realizada com uma nova metodologia pelo economista holand�s Alex de Vries, especialista em bitcoins do Experience Center da PwC na Holanda, a rede de computadores envolvida na produ��o de bitcoins consome no m�nimo 2,55 gigawatts por hora - um valor semelhante ao da energia el�trica consumida na cidade de S�o Paulo, ou em um pa�s como a Irlanda.
Especialistas t�m manifestado preocupa��o com a enorme quantidade de energia el�trica necess�ria para o processo industrial envolvido na emiss�o da moeda virtual bitcoin, mas at� agora, esse consumo n�o havia sido medido por nenhum estudo cient�fico rigoroso.
Com a crescente valoriza��o do bitcoin, o autor afirma que esse consumo dever� crescer de forma expressiva at� o fim de 2018, alcan�ando 7,7 gigawatts - cerca de 0,5% do consumo mundial de energia el�trica. A pesquisa teve seus resultados publicados nesta quarta-feira, 16, na Joule, a revista cient�fica do grupo Cell dedicada a estudos sobre energia.
"Temos visto muitos c�lculos improvisados, mas n�s precisamos de uma discuss�o mais cient�fica sobre o rumo dessa rede. Neste momento, de forma geral, a informa��o dispon�vel tem qualidade bastante baixa. Por isso espero que esse artigo seja utilizado como fundamento para mais pesquisas", disse De Vries ao jornal
O Estado de S. Paulo
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O economista, que � fundador do blog Digiconomist, dedicado a fornecer informa��es usu�rios de "criptomoeadas", afirma que uma �nica transa��o com bitcoin consome tanta eletricidade como a m�dia de uma resid�ncia holandesa durante um m�s. Se at� o fim do ano o consumo subir mesmo para 7,7 gigawatts, ele ser� equivalente ao de um pa�s como a �ustria.
"Para mim, 0,5% j� � bastante chocante. � uma diferen�a extrema em compara��o ao sistema financeiro convencional e essa demanda crescente de eletricidade definitivamente n�o vai nos ajudar a alcan�ar nossas metas clim�ticas", afirmou De Vries.
De acordo com o economista, se o pre�o do bitcoin continuar a crescer da maneira como os especialistas est�o prevendo, a rede poder� chegar a consumir nos pr�ximos anos algo em torno de 5% da eletricidade do mundo. "Isso seria terr�vel", afirmou.
Embora o bitcoin seja uma moeda virtual, sua produ��o causa problemas bastante concretos como a emiss�o de carbono na atmosfera. Na China, pa�s que concentra o maior n�mero de "mineradores" de bitcoins, a maior parte da energia el�trica � produzida pela queima do combust�vel f�ssil. "A eletricidade com base em carv�o est� dispon�vel na China com taxas muito baixas e pa�s concentra mais da metade das 'minas' de bitcoin", disse De Vries.
Um estudo feito por ele em dezembro de 2017 em uma "mina" de bitcoins na Mong�lia - onde a matriz energ�tica tamb�m se baseia no carv�o - estimou que uma �nica transa��o com o bitcoins pode ter uma "pegada de carbono" semelhante � de um passageiro voando por uma hora em um Boeing 747. "Pelos nossos c�lculos, s�o emitidas mais de 440 quilos de carbono para cada transa��o com o bitcoin."
Energia para "minera��o"
Os bitcoins s�o criados por um processo complexo no qual supercomputadores processam continuamente c�lculos matem�ticos de alta complexidade, em mil�simos de segundos, por meio de um software espec�fico.
A cada 10 minutos, o software lan�a uma equa��o matem�tica diferente. Ligados em uma esp�cie de rede paralela na web, os computadores competem pela chance de desvendar essas equa��es, para criar a pr�xima cadeia de transa��es. O usu�rio do comutador que decifrar primeiro os c�digos � premiado com um lote de 12,5 bitcoins. Esse processo � conhecido como "minera��o".
"Voc� est� gerando n�meros o tempo todo e as m�quinas que s�o usadas para isso gastam eletricidade. Se voc� quiser uma fatia maior do bolo, vai precisar aumentar seu poder computacional. Com isso, h� um grande incentivo para que as pessoas aumentem seus gastos em computadores e em eletricidade", explica De Vries.
Metodologia
A metodologia de estimativa do gasto de energia utilizada por De Vries se baseia em calcular em que momento o incentivo deixa de ser economicamente vi�vel. Os princ�pios econ�micos, segundo ele, sugerem que toda a rede de bitcoins em determinado momento alcan�ar� um equil�brio no qual os custos dos computadores e da eletricidade utilizados na minera��o chegar�o a igualar o valor do bitcoin produzido. A partir da obten��o desse dado, ele consegue quantificar a eletricidade que a rede utilizar� at� alcan�ar o ponto de equil�brio.
Outros pesquisadores j� haviam utilizado o mesmo princ�pio em estudos anteriores, mas De Vries foi mais longe. Ele utilizou as informa��es do Bitmain, o maior fabricante de m�quinas de minera��o de bitcoins, para estimar quanto dos custos de minera��o est�o associados aos gastos com hardware, excluindo a eletricidade.
Embora De Vries tenha confian�a em suas estimativas, ele afirma que o problema de seu m�todo � que os fabricantes dos computadores s�o extremamente sigilosos com seus dados. "�s vezes a melhor informa��o que temos � um relato inst�vel de testemunhas oculares. � com esse problema que temos que trabalhar a partir de agora."
Segundo De Vries, fazer uma boa estimativa do consumo de eletricidade pelo bitcoin � importante para determinar a sustentabilidade das criptomoedas e para ajudar a formular as pol�ticas relacionadas a elas. Ele afirma que, nos Estados Unidos, alguns estados j� come�aram a impor restri��es � minera��o de bitcoins.
"Mas � preciso que essas pol�ticas tenham fundamento em estudos s�rios. Acredito que meu m�todo � importante nesse aspecto, porque ele permite olhar para frente. O seu foco n�o � o que fazemos agora, mas para onde estamos indo. Acho que isso � algo que realmente precisamos conhecer para poder tra�ar pol�ticas sobre o assunto", disse.
De Vries afirma, por�m, que seus resultados deixam espa�o para discuss�es sobre o m�todo. "Acho que todos concordar�o com os n�meros que obtivemos sobre o consumo m�nimo de energia utilizada para a produ��o do bitcoin. Mas as estimativas futuras realmente deixam grande espa�o para discuss�o. De fato, n�o temos uma abordagem consensual, neste momento, para estimar o consumo de eletricidade no futuro. Espero que meu trabalho abra essa discuss�o. Eu estou fazendo essa pesquisa, mas tem muita gente que tamb�m deve estar estudando isso", declarou.
(F�bio de Castro)