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Estado de Minas GERAL

Vidas Secas, 80 anos: Os sertanejos do s�culo 21


postado em 26/08/2018 13:45

O romance Vidas Secas, do escritor Graciliano Ramos (1892-1953), acaba de completar 80 anos de publica��o. Ao longo das d�cadas, a obra tornou-se universal e manteve-se atual. O interior que sofre mergulhado na seca, a falta de oportunidades em um Pa�s desigual, as injusti�as sociais que se perpetuam e o sonho de imigrar em busca de uma vida melhor permanecem - e n�o apenas no Brasil. � procura de outras vidas secas, o jornal O Estado de S. Paulo trilhou 450 quil�metros no interior dos Estados de Alagoas e Pernambuco.

O sert�o sem nomes de Graciliano � onde se mora sob taipa e, fac�o a tiracolo, o vaqueiro pisa em ossada de boi. Os sertanejos enganam-se nas contas do patr�o e sonham em ter cama de vara. Para comer, aproveitam na panela o papagaio que j� morreu de fome. Agora, o sert�o � de Pel� e Branca, agricultores, resistentes da seca. De gente que anuncia passagem para viajar para fora, mas se v� obrigada a permanecer. De sertanejos que foram embora, de outros que voltaram. Mas, diga-se, o percurso n�o � s� de seca. Faixas de terra cobriram-se de verde. �s margens de rodovias asfaltadas, casas formam um mar de cisternas e antenas parab�licas, boa parte com Wi-Fi. Nas cidades, ainda muito cat�licas, h� cafeterias gourmet e academias de jiu-j�tsu. Com agricultura e pecu�ria protagonistas da economia, no entanto, a regi�o segue ref�m das chuvas.

S�o os personagens que traduzem a atualidade da obra de Graciliano. A vida na ro�a, a viol�ncia, os programas sociais, a baixa escolariza��o, a gravidez precoce e a quest�o da terra misturam-se � seca, � falta de oportunidades, �s injusti�as e ao sonho de imigrar. As hist�rias tamb�m contam como a mem�ria de Graciliano � (ou n�o) preservada, nos munic�pios onde ele nasceu, viveu a inf�ncia e trabalhou, tanto pela popula��o como pelos governos locais.

Para comentar o legado de Vidas Secas para a literatura, o jornal entrevistou o pesquisador Ricardo Ramos Filho, neto de Graciliano. "Se vivo, seria uma voz que continuaria gritando, ressaltando e colocando em foco as mazelas da vida brasileira, que s�o muitas e v�m se acentuando", afirma.

'Sentido'

Vidas Secas, a obra que consolidou a imagem de Graciliano Ramos como escritor e intelectual, foi publicada no primeiro trimestre de 1938. Oitenta anos e 137 edi��es depois, o escritor Ricardo Ramos Filho, neto de Graciliano que se tornou pesquisador da vida e da obra do av� na Universidade de S�o Paulo (USP), afirma que Vidas Secas � muito mais do que um romance regionalista e que classific�-lo dessa forma � diminuir o seu valor.

O que Graciliano n�o teve a chance de retratar quando escreveu Vidas Secas?

Por ser um profundo conhecedor da regi�o, Graciliano escreveu um texto decisivo. Poucas coisas deixaram de ser abordadas. Com olhar do presente, o texto continua atual: esse Nordeste e esse sert�o n�o mudaram. Tudo que Graciliano falou continua fazendo sentido: a realidade � a mesma.

Muita gente associa o livro a um retrato da seca, e claro que ele tem essa marca, mas voc� acredita que essa era a quest�o central para ele?

Classificar Graciliano como regionalista � diminuir o valor da obra do Velho. Vidas Secas � um livro com tema de fundo da migra��o, da necessidade de sair de um lugar e procurar uma vida melhor, � um drama que acontece em muitos lugares, inclusive na Europa de hoje. Nesse aspecto, a obra continua atual. Como pano de fundo, a seca serviu para que Graciliano pudesse trazer � tona sua preocupa��o com a opress�o do ser humano, com a injusti�a de um sistema social que n�o se preocupa em dar garantias de subsist�ncia � popula��o. O drama da seca perdura.

Qual � a falta que um olhar como o do Graciliano Ramos faz para o Brasil de hoje?

Graciliano, se vivo, seria uma voz que continuaria gritando, ressaltando e colocando em foco as mazelas da vida brasileira, que s�o muitas e v�m se acentuando. Certamente ele seria muito cr�tico com o governo atual, com a dificuldade que a Justi�a tem de ser justa.

As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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