'Agora s� pelos livros', diz bi�grafo da fam�lia imperial sobre Museu Nacional

Exatos 196 anos antes de ser acometido por um inc�ndio, o antigo Pal�cio de S�o Crist�v�o, que hoje abriga o Museu Nacional, foi local de um dos epis�dios mais marcantes da hist�ria brasileira. Naquele 2 de setembro de 1822, a princesa Leopoldina, ent�o princesa regente, era a primeira mulher a governar o Brasil. Na ocasi�o, presidiu uma reuni�o com o conselho do pr�ncipe regente Dom Pedro II, que resultou na recomenda��o da independ�ncia do Brasil.

"Eu n�o me conformo de ter sido no 2 de setembro. � meio ic�nico", diz o historiador Paulo Rezzutti, autor dos livros "D. Pedro: A hist�ria n�o contada" (Editora Leya) e "Domitila - A Verdadeira Hist�ria da Marquesa de Santos" (Gera��o Editorial).

Em processo de escrita de um livro sobre Dom Pedro II, Rezzutti iria participar de uma palestra sobre a Imperatriz Leopoldina no Museu Nacional neste feriado da Independ�ncia do Brasil. "A decad�ncia do pr�dio era gritante. Logo na entrada voc� via que a constru��o n�o tinha um bom cuidado, pelo lado de fora mesmo, antes de entrar", conta.

Durante as pesquisas para seus livros, Rezzutti chegou a visitar locais que "n�o tinham condi��es de ter p�blico". "Escrevi sobre duas gera��es que moravam l� dentro. Se tivesse come�ado agora, n�o teria ideia de como foi o pr�dio. Mesmo hoje fico pensando no meu leitor, que ter� essa refer�ncia agora s� pelos livros", conta. "� triste, agora est� tudo perdido. O que me d�i mesmo � a parte das cole��es", lamenta.

Dentre os itens, est�o m�mias eg�pcias que seriam originalmente vendidas em Buenos Aires. Como a Argentina estava em guerra, contudo, o navio que transportava as pe�as atracou no Rio de Janeiro, not�cia que chegou a Dom Pedro I, que resolveu comprar os itens. "S�o as primeiras m�mias que se tem not�cia na Am�rica Latina", relata o historiador.

O acervo reunia tamb�m pe�as arqueol�gicas retiradas de escava��es nas antigas cidades de Herculano e Pompeia, doadas pela imperatriz Teresa Cristina. De origem italiana, foi no jardim do entorno do museu, ent�o Pal�cio de S�o Crist�v�o, que ela ensinou as filhas, princesa Isabel e princesa Leopoldina, a fazerem os primeiros mosaicos noticiados no Brasil. As pe�as foram criadas com conchas e peda�os de porcelana quebrada.

Rezzutti tamb�m lembra que foi no Pal�cio, situado dentro da Quinta da Boa Vista, que nasceu o imperador Dom Pedro II e morreu a imperatriz Leopoldina. "Quando vinha gente de fora, nobres estrangeiros, a recep��o era dada em uma mesa de jantar colocada no antigo gabinete da Imperatriz Leopoldina para mostrar as pe�as mineral�gicas da cole��o."

Depois, com a queda da monarquia, foi l� que se realizou a primeira assembleia constituinte da era republicana, de 1891. "A ci�ncia tamb�m � muito ligada � fam�lia imperial. Foi Dom Jo�o VI que criou o museu (ent�o chamado de Museu Real)", lembra o historiador. Originalmente na regi�o da Pra�a da Rep�blica, no centro, o Museu se mudou para a Quinta da Boa Vista ap�s a proclama��o da rep�blica.

"A �nica coisa que nos resta hoje � ter esperan�a. Sensa��o � de que hoje estamos vivendo um processo de luto", desabafa. "N�o sei, a partir do momento em que assassina uma vereadora eleita (Marielle Franco) e voc� n�o tem um resultado. Se a vida humana � tratada desse jeito, uma pe�a de museu n�o � nada."

Para Rezzutti, museus ligados a institui��es educacionais s�o alguns dos que mais t�m car�ncias no Brasil. "� o caso tamb�m do Museu do Ipiranga, que n�o acontece desgra�a maior porque est� fechado. Precisou algu�m ver que o pr�dio iria desabar para ser fechado. N�o existe investimento preventivo."

"S�o dois problemas no Brasil: a Educa��o e a Cultura. O investimento � muito pouco, � rid�culo perto de outros lugares", ressalta. "O que tem de gente lamentando o que aconteceu e nem sabe o que �, que morador do lado do Museu e nunca foi. O brasileiro quer conhecer o Louvre, n�o o que tem em casa, quer conhecer a modinha."