Um grupo de cientistas internacionais est� propondo a cria��o de uma esp�cie de "arca de No�" de micr�bios cujo objetivo � proteger a sa�de da Humanidade a longo prazo. Essa sele��o de germes ben�ficos para o homem seria coletada ao redor do mundo, especificamente em popula��es que n�o foram expostas a antibi�ticos, comidas processadas e outras amea�as da sociedade moderna - que v�m contribuindo para uma perda significativa de diversidade microbiana e, consequentemente, para o aumento de v�rias doen�as.
A microbiota humana � formada por trilh�es de micr�bios que habitam nosso corpo e nosso organismo, contribuindo para a (boa) sa�de das mais diversas maneiras. Os pesquisadores, que divulgaram sua proposta na edi��o desta quinta-feira, 4, da revista Science, contam que se inspiraram no Cofre Global de Svalbard, na Noruega, a maior cole��o de sementes do mundo, criada para preservar a diversidade da agricultura em caso de uma cat�strofe natural ou mesmo produzida pelo homem.
"Estamos enfrentando uma crescente crise global da sa�de, que demanda a captura e a preserva��o da diversidade da microbiota humana enquanto ela ainda existe", explicou a principal autora do manifesto, Maria Gloria Dominguez-Bello, dos departamentos de Bioqu�mica e Microbiologia e tamb�m de Antropologia da Universidade de Rutgers, em seu artigo. "Esses micr�bios evolu�ram com os humanos ao longo de milhares de anos. Eles nos ajudam a digerir a comida, fortalecem nosso sistema imunol�gico, nos protegem contra germes invasores. Ao longo das �ltimas gera��es, vemos uma perda significativa dessa diversidade microbiana relacionada ao aumento global de problemas imunol�gicos e outras desordens."
Dominguez-Bello e seus co-autores - Rob Knight, da Universidade da Calif�rinia; Jack Gilbert, da Universidade de Chicago, e Martin Blaser, da Universidade de Nova York - defendem a ideia de que um dia ser� poss�vel prevenir doen�as com a reintrodu��o de alguns desses micr�bios perdidos. Mas isso s� poder� ser feito se os pesquisadores conseguirem coletar esses germes "do bem" em popula��es que vivem isoladas em �reas remotas do planeta e que, por isso, mant�m sua microbiota original, sem os efeitos nocivos da vida nas grandes metr�poles.
Pessoas que vivem em sociedades urbanizadas j� perderam uma parte substancial da diversidade da microbiota. A diversidade dos germes da flora intestinal da maioria dos americanos, por exemplo, est� reduzida � metade quando comparada � de popula��es ca�adoras-coletoras de �reas remotas da Amaz�nia. Um grande esfor�o internacional seria necess�rio para coletar e armazenar os micr�bios em um reposit�rio global. As sementes de Svalbard, por exemplo, ficam dentro de um cofre localizado no arquip�lago noruegu�s, sob grandes camadas de gelo.
Desde o in�cio do s�culo XX, explicam os especialistas, doen�as e dist�rbios como obesidade, asma, alergias e autismo v�m aumentando significativamente - inicialmente nos pa�ses ricos e, mais recentemente, nos pa�ses em desenvolvimento. Uma crescente cole��o de ind�cios cient�ficos relacionam os problemas � redu��o da diversidade da microbiota ainda na inf�ncia e as consequentes anomalias metab�licas como um dos principais fatores. Os cientistas lembram ainda que o custo de tratamento apenas para obesidade e diabetes nos Estados Unidos j� ultrapassou US$ 1 trilh�o ao ano, o que leva os autores a comparar a perda global de micr�bios ao aquecimento global em termos de risco para o futuro da Humanidade.
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