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Estado de Minas GERAL

Cuidador de idoso � a ocupa��o que mais cresce no Pa�s em uma d�cada


postado em 04/11/2018 07:56

Desde que se formou no ensino m�dio, Sheldon Patrick dos Santos, de 28 anos, sempre trabalhou com vendas ou eventos. H� um ano, insatisfeito com o tipo de trabalho que desempenhava e com a remunera��o, decidiu mudar o rumo da carreira. Matriculou-se em um curso de cuidador de idosos e se apaixonou pela �rea. "Sempre gostei de trabalhar com idosos e vi que essa profiss�o estava em alta", conta. A aposta deu certo. Santos j� saiu do curso empregado. Foi contratado por uma casa de repouso da zona sul da capital paulista.

A hist�ria do jovem vem se tornando cada vez mais comum no Pa�s. Com o envelhecimento da popula��o brasileira em ritmo acelerado, a ocupa��o de cuidador de idoso foi a que mais cresceu no Pa�s na �ltima d�cada entre 2,6 mil profiss�es pesquisadas pelo Minist�rio do Trabalho e Emprego (MTE).

O balan�o, feito pela Confedera��o Nacional do Com�rcio de Bens, Servi�os e Turismo (CNC), com base em dados do minist�rio, mostra que o n�mero de profissionais do tipo passou de 5.263 em 2007 para 34.051 em 2017, alta de 547%.

"Mesmo com o desempenho ruim da economia nos �ltimos anos, essa ocupa��o cresce porque h� cada vez mais idosos no Pa�s e porque � um servi�o de sa�de, os �ltimos a serem cortados em cen�rio de crise. As fam�lias sacrificam outro tipo de consumo, mas mant�m os cuidados com a sa�de", explica Fabio Bentes, economista-chefe do CNC. "Os dados do MTE n�o consideram trabalhadores informais, somente os com registro em carteira ou estatut�rios. Mas deve ter muita gente atuando nessa �rea na informalidade", opina o especialista.

Regulamenta��o

O crescimento e a formaliza��o desse mercado esbarram na falta de regulamenta��o e na ainda escassa capacita��o adequada dos profissionais. Como a ocupa��o ainda n�o foi regulamentada como uma profiss�o, n�o h� regras claras sobre a forma��o m�nima que deveria ser exigida nem qual seria o conte�do obrigat�rio dos cursos.

Um projeto de lei tramita na C�mara para criar e regulamentar a profiss�o de cuidador n�o s� de idosos, mas de crian�as e de pessoas com defici�ncia ou doen�a rara. Ele aguarda designa��o do relator. H� tamb�m um projeto de lei do Senado para determinar as atribui��es de quem desempenha essa fun��o.

Sem a regulamenta��o, as atribui��es e o perfil de quem desempenha essa tarefa est�o descritos apenas na Classifica��o Brasileira de Ocupa��es (CBO). A orienta��o � de que devem ser contratados maiores de idade, que fizeram cursos livres entre 80 e 160 horas e que demonstrem empatia e paci�ncia. Entre as atribui��es est�o ajudar nas atividades di�rias, observar o comportamento e estimular a independ�ncia.

"O cuidador deve ficar atento � alimenta��o e ao risco de queda e tem de saber lidar com situa��es da vida de um idoso, que pode estar confuso, ter dificuldade para caminhar. Ele n�o deve infantilizar o idoso. Pode ajud�-lo a se vestir, mas n�o assumir a fun��o", diz Carlos Andr� Uehara, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.

'Eu me sinto mais sossegado'

Muito ativo e com h�bitos saud�veis durante toda a vida, o representante comercial aposentado Joseph Cesar Sassoon, hoje com 93 anos, tentou manter, mesmo na terceira idade, a autonomia e a independ�ncia dos anos em que era mais jovem. Aos 90 anos, ainda dirigia, passeava pelas ruas do bairro onde mora e ia ao clube.

At� que, h� tr�s anos, o idoso sofreu uma queda em casa e, sem conseguir se levantar sozinho, ficou horas naquela situa��o, at� um familiar o encontrar. "Ele ficou l�, ca�do, sem conseguir pedir ajuda. Levamos para o hospital, ele acabou desenvolvendo uma pneumonia e ficou uma semana internado. Naquele momento vimos que n�o pod�amos mais deix�-lo sozinho", conta o engenheiro Cesar Sassoon, de 62 anos, filho de Joseph.

Foi a partir da� que o aposentado passou a contar com cuidadores 24 horas por dia. Eles o auxiliam nas refei��es, no banho, na hora de tomar rem�dios e nos passeios pelo bairro. "Eu gosto muito de passear, gosto de caminhar no sol. Se eu n�o tivesse algu�m para ir comigo, eu n�o poderia caminhar sozinho e ficaria s� dentro de casa. Eu me sinto mais sossegado por eles estarem aqui", comenta o aposentado.

A companhia das caminhadas di�rias � a cuidadora do per�odo diurno, Luciana Silvia de Souza Nery, de 35 anos, que trabalha na casa de Joseph h� um ano. "Uma das coisas mais importantes � tentar manter o idoso ativo, conversar bastante com ele, entender os gostos e manias. Tem de saber ouvir", diz ela.

Para os filhos de Joseph, que moram na regi�o, mas que n�o podem ficar em per�odo integral com o pai por compromissos profissionais, a presen�a de um cuidador de confian�a na casa do pai traz tranquilidade. "Apesar de ele n�o ter nenhuma doen�a s�ria e estar l�cido, ele tem limita��es de locomo��o e defici�ncia auditiva. Ent�o n�s tamb�m ficamos mais sossegados de saber que tem algu�m dando esse apoio", diz Cesar.

Bra�o direito

Mesmo sentimento tem a professora Maria Luiza Camargo Fleury de Oliveira, de 59 anos, que contratou cuidadoras para a m�e, Therezinha, de 88. "Elas s�o meu bra�o direito. Sabem tudo da rotina da minha m�e, mandam mensagem para a geriatra quando t�m d�vidas, est�o sempre em contato comigo e com os meus irm�os. Se aparecer uma manchinha nova no corpo da minha m�e, elas v�o saber", conta Maria Luiza, que optou pelo servi�o tamb�m por n�o ter disponibilidade integral para os cuidados que a m�e necessitava.

"Minha m�e perdeu a vis�o por causa do diabete e tem Alzheimer e Parkinson. Meu irm�o mora fora de S�o Paulo e eu e minha irm� trabalhamos o dia inteiro. N�o daria para deix�-la sozinha nessas condi��es", relata ela, que diz que � preciso analisar com cuidado o perfil do profissional a ser contratado. "J� tivemos outras cuidadoras que n�o deram certo. Uma delas maltratava a minha m�e. As que est�o conosco agora vieram por indica��o de outras pessoas e j� est�o aqui h� quatro anos. Agora tenho tranquilidade e confian�a."

Com capacita��o, maioria sai empregada

Com a demanda crescente por cuidadores, tem aumentado tamb�m o n�mero de pessoas que buscam cursos na �rea. A Central Nacional Unimed come�ou a oferecer curso gratuito de cuidador em 2014, com 22 vagas. Em 2018, o n�mero de postos oferecidos saltou para mais de 600 e, mesmo assim, a expans�o n�o foi suficiente.

"Foram 5 mil inscritos. Ofertar esse curso � necess�rio porque h� muitas pessoas trabalhando na �rea sem a capacita��o adequada. Entre nossos participantes, 30% j� atuavam na �rea mesmo antes do curso", diz Alexandre Ruschi, presidente da entidade. "No sistema Unimed, temos promovido mudan�as na assist�ncia para oferecer mais a��es de preven��o e promo��o de sa�de e a capacita��o do cuidador vai nessa linha." Segundo Ruschi, 70% dos alunos saem do curso empregados.

No Senac-SP, a demanda tamb�m � grande. Desde 2009, 9 mil profissionais j� se formaram. A montagem da grade levou em considera��o as orienta��es contidas na Classifica��o Brasileira de Ocupa��es (CBO), do Minist�rio do Trabalho e Emprego (MTE). Embora o cuidador n�o possa realizar procedimentos invasivos, como aplicar inje��es, a parte de sa�de tamb�m � inclu�da no curso.

"Precisa dar conta das quest�es de sa�de e emocionais e trabalhar para que o idoso seja inserido no contexto social, com atividades que ele gosta. Tem de ajudar, mas desenvolvendo a independ�ncia", diz a geront�loga Karen Elise de Campos, professora do Senac-SP.

Na Cruz Vermelha de S�o Paulo, o n�mero de formados quase quadruplicou nos �ltimos dez anos, passando de 102 em 2008 para 401 neste ano. "A sensibiliza��o � importante para o cuidador entender por que o idoso age daquele forma. O curso � pertinente para quem quer atuar na �rea e para a fam�lia", conta M�rcio Jos� da Silva, especialista em gerontologia e coordenador do curso.

Na avalia��o de Karen, o perfil de interessados pela forma��o mudou. "Antes, eram mulheres de meia idade, que estavam voltando para o mercado. Hoje, recebemos pessoas com p�s-gradua��o, assistentes sociais, estudantes de Enfermagem e de Fisioterapia."

Dados do MTE mostram que, de fato, os cuidadores hoje t�m n�vel de escolaridade maior do que h� dez anos. Em 2007, 63,2% deles n�o tinham nem ensino m�dio completo. No ano passado, esse �ndice caiu para 25,1%. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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