Um novo estudo apontou a rela��o entre o sistema imunol�gico e o desenvolvimento de depress�o p�s-parto ap�s estresse durante a gesta��o. Pesquisadores da Universidade Estadual de Ohio constataram sinais de inflama��o em �reas do c�rebro respons�veis pela regula��o do humor e evid�ncias de altera��es no funcionamento das c�lulas imunol�gicas existentes no �rg�o. Os resultados podem ajudar na elabora��o de futuros tratamentos para o problema, que pode atingir at� 15% das mulheres ap�s o parto, segundo a pesquisa.
O estudo, apresentado nesta ter�a-feira, 6, durante a reuni�o anual da Sociedade de Neuroci�ncia, observou f�meas de ratos submetidas a estresse durante a gesta��o, tendo em vista que o quadro j� � um fator de risco reconhecido para o dist�rbio. Os cientistas constataram que, assim como ocorre com as mulheres, as cobaias come�aram a apresentar diminui��o na aten��o com seus filhotes, al�m de sinais de depress�o e de ansiedade ao realizar tarefas.
Ao contr�rio do que acontecia com os animais n�o submetidos ao estresse, as f�meas tamb�m tinham n�veis mais elevados de marcadores inflamat�rios em seus tecidos cerebrais.
A pesquisa apontou ainda evid�ncias de que o estresse pode modificar o funcionamento de c�lulas do sistema imunol�gico que atuam no c�rebro, conhecidas como microglia. Os pesquisadores observaram o c�rtex pr�-frontal medial, regi�o do c�rebro relacionada com o humor ligada a casos de depress�o p�s-parto.
"A depress�o p�s-parto � pouco estudada e, como resultado, permanece pouco compreendida" diz a professora associada de psicologia da universidade Benedetta Leuner, autora principal da pesquisa. "Ter um melhor entendimento dos fatores que contribuem para esse dist�rbio s�rio e prevalente ser� a chave para encontrar meios para melhor ajudar mulheres que est�o lutando (contra o problema)."
Dificuldade de criar la�os com o beb� e fadiga excessiva est�o entre os sintomas da depress�o p�s-parto. "Com a gesta��o, a mulher fica muito mais sujeita � quest�o da depress�o, porque � um per�odo de muito estresse, de desafios e mudan�as. A apatia e o 'fazer nada' s�o uma parte do quadro, que leva a muito sofrimento. A mulher pode ficar chorosa ou agressiva e isso n�o pode ser ignorado. O diagn�stico deve ser o mais precoce poss�vel para resgatar o relacionamento do beb� com a m�e", explica o ginecologista e obstetra do Hospital S�o Luiz do Itaim Alberto Guimar�es.
Um dos criadores do programa Parto Sem Medo, ele diz que nem todo sentimento de apatia ou tristeza est� ligado � depress�o. "No p�s-parto imediato, � normal a mulher ter o 'baby blues' ou 'blues puerperal', mas � passageiro."
Pesquisas anteriores sobre o tema tiveram como foco, principalmente, explica��es hormonais para o problema, embora j� tenham sido realizados estudos abordando o sistema imunol�gico, onde os cientistas observaram sinais de inflama��o no sangue, algo que n�o apareceu nesta pesquisa.
"Foi especialmente interessante que n�o encontramos evid�ncias de aumento da inflama��o no sangue, mas observamos nesta �rea do c�rebro, que � importante para a regula��o do humor. Estamos realmente animados, porque isso sugere que a inflama��o no c�rebro pode contribuir para a depress�o p�s-parto ", diz Kathryn Lenz, coautora do estudo e tamb�m professora assistente de psicologia na universidade.
Kathryn avalia que o achado pode ajudar a estabelecer um alvo para o tratamento, seja ele por meio de medicamentos ou t�cnicas como medita��o, dieta e redu��o do estresse.
"A depress�o p�s-parto � debilitante e pode afetar negativamente toda a fam�lia. Estamos esperan�osos de que esta e futuras pesquisas melhorem as vidas das mulheres e das pessoas � sua volta", conclui Benedetta.
Casos
Nos Estados Unidos, segundo a autora principal do estudo, estima-se que ao menos meio milh�o de mulheres sofrem, anualmente, com o problema. E, na avalia��o de Benedetta, o n�mero relatado pode ser inferior ao �ndice real de casos.
No Brasil, uma pesquisa realizada com 23.896 mulheres no per�odo de seis a 18 meses ap�s o nascimento do beb� apontou que 26,3% das mulheres apresentavam sintomas de depress�o p�s-parto.
O levantamento foi feito pela Escola Nacional de Sa�de P�blica S�rgio Arouca da Funda��o Oswaldo Cruz (Ensp/Fiocruz) e publicado em 2016.
"Muitas mulheres consideram que ter depress�o p�s-parto significa que s�o m�es m�s e elas temem o julgamento de que s�o incompetentes. Uma das grandes barreiras ao acesso ao tratamento � o estigma", avalia M�rcia Baldisseroto, psic�loga perinatal e doutoranda do Programa de Epidemiologia da Ensp/Fiocruz.
Quem est� ao redor da nova m�e deve n�o s� observar sinais de seu sofrimento, mas oferecer suporte.
"� muito importante que quem est� ao redor d� suporte sem julgamento para tirar esse lugar da maternidade de ser s� felicidade. Um dos grandes estresses � a pr�pria cobran�a da mulher por causa da idealiza��o da maternidade. Essa press�o, muitas vezes, causa muito estresse."
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