Claudia sempre quis ser m�e, mas um problema cong�nito impedia a realiza��o do sonho: ela nasceu sem �tero. Um feito in�dito de pesquisadores brasileiros, por�m, permitiu que h� quase um ano a pequena Gisele viesse ao mundo.
A m�e foi submetida a um in�dito transplante de �tero a partir de uma doadora j� falecida, realizado por pesquisadores do Hospital das Cl�nicas. O estudo sobre o caso acaba de ser descrito na revista m�dica "The Lancet". Os nomes das duas s�o fict�cios a pedidos da fam�lia.
Antes dela, em todo o mundo dez outros beb�s j� haviam nascido ap�s serem gestados em �teros transplantados. O primeiro caso ocorreu na Su�cia, em 2013. Mas todos foram doados por mulheres vivas. A inova��o da equipe brasileira pode possibilitar que mais mulheres com problemas semelhantes possam ser beneficiadas.
O transplante de um doador morto � mais complexo. No caso brasileiro, por exemplo, se passaram 7h50 que o �rg�o ficou sem receber oxig�nio. Quando o transplante � intravivos, o tempo de transfer�ncia � de no m�ximo tr�s horas.
"Mas quando se usa um doador j� falecido, n�o h� o risco do procedimento para ele e o custo � bem menor. A desvantagem � que n�o se consegue programar quando o �rg�o estar� dispon�vel, e isso pode ocorrer num lugar diferente de onde est� o receptor, ent�o � preciso ter um esquema de comunica��o, de capta��o. O tempo � maior. Mas podemos favorecer muito mais pessoas", comenta Dani Ejzenberg, m�dico do centro de reprodu��o humana da USP, que liderou a pesquisa.
Segundo ele, estima-se que uma em cada 4 mil mulheres nasce sem �tero, conforme apontou uma outra pesquisa conduzida no HC. Se forem consideradas as mulheres em idade reprodutiva, somente em S�o Paulo, cerca de 1.500 podem ter essa condi��o.
"Se somarmos outros casos, como mulheres que tiveram de retirar o �tero por c�ncer ou ap�s o primeiro parto ou em uma cirurgia por mioma, por exemplo, chegamos a um n�mero consider�vel de mulheres que poderiam se beneficiar com a t�cnica", afirma.
A pesquisa brasileira tamb�m inovou em outros aspectos. A paciente passou por um processo de fertiliza��o in vitro, e o embri�o foi transferido para o �tero apenas sete meses depois do transplante. No caso sueco, isso tinha ocorrido depois de um ano. "Com isso, a paciente teve de tomar imunossupressores por menos tempo e o custo � menor", explica.
A forma de fazer a liga��o do �rg�o tamb�m foi diferente, com duas art�rias e quatro veias, em vez de duas art�rias e duas vezes, como nos casos anteriores. Com isso foi poss�vel melhorar o fluxo de sangue no �rg�o, diminuindo o risco de trombose.
Segundo Ejzenberg, a gesta��o ocorreu normalmente e o beb� nasceu saud�vel. "Ela j� est� com quase um ano e est� �tima, com desenvolvimento normal", conta.
Ap�s o nascimento, o �tero, que havia j� cumprido seu papel, foi retirado, para que a m�e n�o tivesse mais de tomar imunossupressores. O protocolo de pesquisa envolvia apenas uma gesta��o, para que fosse poss�vel realizar o trabalho com outras mulheres.
Desde ent�o, o transplante foi feito em outra paciente, mas o �rg�o teve de ser retirado porque ocorreu uma trombose. Agora duas pacientes, que tamb�m nasceram sem �tero, aguardam uma doadora.
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