As den�ncias de abuso sexual contra Jo�o de Deus transformaram a rotina da pequena Abadi�nia, cidade goiana a 115km de Bras�lia onde o m�dium mais famoso do Brasil faz seus atendidmentos e curas espirituais. Os moradores do munic�pio e seguidores de Jo�o demonstram um misto de preocupa��o e raiva, com a maioria deles dizendo n�o acreditar nas acusa��es, que vieram � tona neste s�bado (8/12). Por meio de sua assessoria, o m�dium recha�ou as den�ncias.
"Tenho certeza de que est�o tentando fazer alguma arma��o contra ele", disse uma admiradora, que pediu para n�o ter o nome revelado. Ela estava na Casa Dom In�cio de Loyola, centro erguido por Jo�o na cidade e local dos atendimentos espirituais que realiza. O movimento no local era bastante pequeno, embora no fim de semana costume ser mesmo um pouco menor (as sess�es de cura acontecem de quarta a sexta-feira). "Fiquei chocada, porque aqui � um lugar com uma energia muito boa. Eu n�o acredito que algo ruim aconte�a aqui", disse outra mulher, que tamb�m n�o quis se identificar.
Uma das poucas que aceitou falar abertamente ao Correio � a manicure Dulce Santana, 46 anos, moradora da cidade desde 1988. Ela tamb�m se mostra c�tica diante das den�ncias. "J� trabalhei com ele e nunca fui desrespeitada ou maltratada. Pelo contr�rio, ele sempre foi uma boa pessoa, que d� emprego a todo mundo e j� fez muitas curas", contou.
Policiais armados
A Casa Dom In�cio recebe visitantes de todo o mundo, que procuram paz espiritual. Dulce diz que h� �pocas do ano em que o lugar recebe mais de 3 mil pessoas num s� dia. Neste s�bado, um incomum clima de tens�o dominava o lugar. Viaturas da Pol�cia Militar de Goi�s come�aram a chegar a partir das 14h, com policiais de arma em punho. Eles disseram que a cidade estava tranquila, mas estavam na casa para prevenir algum tipo de ocorr�ncia ap�s a repercuss�o do caso.
Nem Jo�o de Deus nem qualquer funcion�rio administrativo estava no local. Uma das poucas salas abertas era a biblioteca, onde os atendentes se recusaram a comentar qualquer assunto sobre o m�dium. A orienta��o partiu de um homem de camisa social e gravata que chegou �s 15h e percorreu o lugar com pressa, mas n�o quis falar o que estava fazendo ali: "N�o posso conversar, estou trabalhando", finalizou logo.
Comerciante, Leandro Dias, 39 anos, diz que "at� Chico Xavier foi muito perseguido", ao comentar as acusa��es. O morador de Abadi�nia s� tem bons relatos de Jo�o de Deus. "Minha tia mesmo foi atendida por ele porque n�o conseguia mais andar. Ela chegou l� na Casa de t�xi e voltou caminhando."
Leandro diz que Deus vai falar pelo m�dium e que as coisas ser�o esclarecidas. Enquanto isso, a cidade continua com um sentimento ruim, como se toda ela tivesse sido atingida. "Ele � um l�der daqui e j� fez muito por todos n�s", diz.

Preocupa��o com o futuro
As pessoas que conversaram com o Correio demonstram apreens�o tamb�m com o futuro do m�dium e da cidade, cuja economia hoje toda se baseia nas atividades da Casa Dom In�cio de Loyola. Pens�es e com�rcios atendem milhares de devotos que chegam sem parar ao munic�pio.
Jo�o de Deus abriu o espa�o em Abadi�nia em 1976, ap�s ser , durante as d�cadas de 1950, 1960 e 1970, denunciado diversas vezes por falso exerc�cio da medicina. Por isso, sempre gostou de mostrar � imprensa recomenda��es de delegados, ju�zes e pol�ticos atestando a idoneidade, a efic�cia, a compaix�o e a generosidade de suas cirurgias espirituais, oferecidas sem qualquer pagamento.
O m�dium morou em Bras�lia nos tempos pioneiros da cidade, primeiro na Cidade Livre e, em seguida, no Cruzeiro. Conheceu o ent�o presidente Juscelino Kubistchek, que era m�dico, mas sempre se interessou por tratamentos espirituais e prestigiou Jo�o. Apresentou o m�dium a pessoas influentes, que permitiram que Jo�o trabalhasse com mais tranquilidade.
Em raz�o das press�es de padres da igreja cat�lica, Jo�o de Deus cogitou mudar a sede para outra cidade, em 1983. No entanto, ele foi convencido a permanecer gra�as a um bilhete do m�dium Chico Xavier, que reafirmou Abadi�nia como lugar ideal para o centro: “Prezado Jo�o, caro amigo, Abadi�nia � o aben�oado recinto de sua iluminada miss�o e de sua paz”.