"No final do ano passado, a minha m�e desconfiou do meu padrasto. At� ent�o a gente n�o tinha nenhum tipo de desconfian�a, porque ele sempre foi uma pessoa que mostrava uma boa conduta, uma boa �ndole. A gente nunca imaginava que uma pessoa de tanto tempo de conv�vio ia fazer uma coisa desse tipo."
"Minha v� tem 101 anos. A gente n�o costumava e n�o costuma deixa-la sozinha at� hoje. Minha irm� estuda em tempo integral, e eu trabalho o dia todo. Fica a minha m�e, meu padrasto e ela."
"Um certo dia, no ano passado, minha m�e veio a uma ag�ncia banc�ria em Vit�ria de Santo Ant�o. Eu vim com a minha m�e, ficou minha v� e meu padrasto em casa. Quando minha m�e voltou, ela notou diferen�a, porque minha v� estava de banho tomado e a calcinha dela estava lavada."
"Minha v� n�o toma banho sozinha, algu�m tem de ir com ela, porque ela pode cair e se machucar. �s vezes ela n�o consegue nem ficar em p� sozinha. Essa foi a primeira desconfian�a."
"No dia 4 de janeiro, minha m�e fez uma viagem para a casa de uma amiga de mais de 20 anos que estava se mudando. Era a despedida dela. A cidade fica a mais de 200 quil�metros, � distante. Minha m�e teria que dormir na casa dela para voltar no outro dia. Nesse dia que minha m�e saiu, s� ficou minha irm�, meu padrasto, que � pai dela, e minha av�."
"Nesse dia, minha irm� flagrou o pai dela no quarto de minha av� �s 3h da manh� s� de cueca, ela sem calcinha e triste. Ele se escondeu atr�s da porta. Minha irm� tentava fechar e ele puxava para que permanecesse aberta para que n�o visse que ele estava atr�s da porta."
"Nesse dia, a minha m�e teve uma desconfian�a maior e conversou com a fam�lia, eu, meu esposo e minha irm�, e decidiu colocar a c�mera de seguran�a. Colocou no quarto e na casa toda. Minha m�e pediu as c�meras no dia 1.� de janeiro. Como foi pela internet, demorou um pouco para chegar. Chegou no final de fevereiro, s� que ele permanecia muito em casa e n�o tinha como instalar sem que ele visse."
"A gente esperou um dia que ele saiu para colocar as c�meras para que quando ele chegasse, ele n�o notasse a diferen�a. Eram microc�meras. A gente conseguiu instalar no domingo de carnaval. At� ent�o, minha v� n�o ficava sozinha com ele de jeito algum, porque a desconfian�a estava grande."
"Na ter�a-feira de carnaval, � noite, minha m�e saiu. A gente recebia as imagens ao vivo no celular: no meu, no da minha m�e e no da minha irm�. Quando foi 21h30, aconteceu o primeiro ato. Ele entrou no quarto e a gente viu que ele estava estuprando ela."
"S� que nessa filmagem n�o mostrava o rosto da minha av�, porque a minha av� estava dormindo. N�o dava para ver o rosto dela, mas dava para ver pelos atos que era um estupro. A gente conversou com estudantes de Direito, que disseram que seria uma prova mais convicta, um flagrante se mostrasse o rosto dela e o rosto dele."
"Na quarta (6 de mar�o), a gente passou o dia todo angustiada. Foi um dia horr�vel. Na quinta (7), a gente j� pensou em levar essas fotos mesmo sem estarem boas para a delegacia. Ele ia trabalhar meio-dia. Minha m�e estava em casa. Ele almo�ou, normalmente."
"Os dois iam sair no mesmo hor�rio. Ele estava fechando o port�o para sair em seguida da minha m�e. Ele resolveu voltar e minha m�e saiu para ir a Vit�ria (de Santo Ant�o). Oito minutos ap�s minha m�e sair, ele foi estuprar minha av�. A gente viu pelo telefone, j� t�nhamos mudado as c�meras de lugar. Ficamos desesperadas, come�amos a chorar."
"A gente tremia, minha m�e quase desmaiou. Quando a gente chegou em Vit�ria, eu pesquisei a Delegacia da Mulher mais pr�xima. A gente ia ser mais bem atendida l�. Pegamos um t�xi e fomos para a delegacia. Foi feito o flagrante."
"Prenderam no local de trabalho. Era para ele come�ar meio-dia, ele chegou 15 ou 20 minutos atrasado. A irm� dele disse que minha m�e acabou com a vida dele e bateu nela na delegacia. Foi presa tamb�m em flagrante pela Lei Maria da Penha e solta depois de pagar fian�a."
"Ela pediu para que a minha m�e falasse que a minha av� permitia, pediu para levar minha av� para a delegacia para que ela falasse isso. Na sexta, a defesa dele usou essa hist�ria, disse que um era apaixonado pelo outro, que n�o foi um estupro, que ela pediu."
"Ela tem 101 anos, � imposs�vel que algu�m acredite nessa hist�ria. Isso me doeu, eu imaginava que ele ia pedir desculpas, perd�o por ter feito uma barbaridade dessa. Ele continua preso. No dia em que ele foi preso, a gente ligou para a nossa advogada, que disse que a gente deveria ter feito isso antes, na primeira vez que a gente viu, mas que a nossa atitude foi boa, porque muita gente esconde."
"Minha av� demonstra tristeza, chora. Ela n�o � consciente, fala que tem 15 anos, brinca de boneca. A gente nem tem animais, ela v� animais. Ela fala, pede �gua, quando est� com sede, mas ela n�o consegue manter uma conversa."
"A gente notou que desde que ele n�o se encontra mais em casa, ela est� demonstrando mais alegria. Ela quer ficar mais com a gente na sala, antes ela n�o ficava. Quando ela ia dormir, ela vestia duas, tr�s roupas, com medo. Ontem, ela foi dormir s� com uma roupa. A gente tenta ser forte, n�o demonstrar tristeza, fica tentando fazer ela rir para que ela esque�a o que aconteceu e a gente siga em frente."
(Maria Talita Bernardo Silva Ara�jo, de 21 anos, � neta da mulher de 101 anos estuprada pelo genro no munic�pio de Pombos, em Pernambuco. Jos� Bezerra da Silva, o 'D�', de 44 anos, foi preso na sexta-feira, 8. O caso � investigado pela Delegacia da Mulher da cidade de Vit�ria de Santo Ant�o, a 15 quil�metros de Pombos e a 53 quil�metros de Recife.)
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