Um cirurgi�o pl�stico investigado por supostos erros m�dicos no Cear� conseguiu emitir registro profissional para atuar em S�o Paulo, operou uma mulher no in�cio de mar�o em um hospital do Ipiranga (zona sul), mas a cirurgia, de lipoaspira��o e abdominoplastia, acabou com a paciente morta, destaca o jornal O Estado de S. Paulo.
Danilo Rocha Dias � um cirurgi�o pl�stico conhecido em Fortaleza, onde tem uma cl�nica na Aldeota, bairro nobre da capital cearense. Nas redes sociais, tamb�m � popular. Sua p�gina no Instagram conta com mais de 160 mil seguidores.
Em seu Estado de origem, por�m, ele acumula, al�m de fama, pelo menos quatro processos judiciais de pacientes que o acusam de erro m�dico, duas den�ncias no Conselho Regional de Medicina local e um inqu�rito criminal no Minist�rio P�blico do Cear� (MP-CE) pela morte de uma paciente em 2016, ap�s uma lipoaspira��o. A v�tima, Lia Pacheco Coelho Dias, ent�o com 32 anos, era cunhada do profissional.
Mesmo com todas as den�ncias, o cirurgi�o, em atividade desde 2007 no Cear�, conseguiu emitir registros profissionais secund�rios nos conselhos regionais de S�o Paulo, em 2017, e do Rio, em 2018. O primeiro processo movido contra Danilo Dias no Cear� por suposto erro m�dico � de 2013. Para poder trabalhar nos dois Estados do Sudeste, solicitou e obteve um certificado de regularidade no CRM do Cear�, seu conselho de origem.
Com o registro no Conselho de S�o Paulo (Cremesp) ativo, Dias abriu um consult�rio na capital paulista no fim do ano passado. Uma das primeiras pacientes foi a dona de casa Sandra Mara Trovino da Cunha, de 45 anos, que procurou o m�dico interessada em uma cirurgia de abdominoplastia.
"Tem mais de dez anos que ela tinha o sonho de fazer essa cirurgia. Ela j� tinha tentado emagrecer de todo jeito. Quando come�ou a conversar com o doutor Danilo, ele disse que fazia um pre�o bom, que facilitava o pagamento, e ela ainda viu que ele tinha uma cl�nica chique em Fortaleza, que recebia famosos, ent�o achou que podia confiar", conta o filho de Sandra, o universit�rio Welliton Trovino Cunha, de 24 anos.
Sandra foi operada na manh� do dia 9 de mar�o, mas a cirurgia n�o terminou bem. Ela sofreu tr�s paradas card�acas e morreu no mesmo dia.
A fam�lia re�ne documentos e aguarda o laudo final do Instituto M�dico-Legal (IML) para processar o m�dico. "Minha m�e fez todos os exames pr�-operat�rios, estava bem para a cirurgia. Naquela manh�, ele ainda postou nos stories do Instagram que tinha corrido tudo bem em uma cirurgia que tinha feito. S� depois avisou a fam�lia que tinha acontecido um problema", diz Cunha. Na quarta-feira, 27, o m�dico apagou seu perfil da rede social.
Outros casos
A empres�ria �ngela Pacheco Coelho, de 57 anos, aguarda h� tr�s anos esclarecimentos sobre o ocorrido com a filha, Lia, a cunhada de Dias morta em 2016 ap�s cirurgia realizada em Fortaleza. "Eu n�o posso dizer o que aconteceu, mas sei que minha filha entrou saud�vel, perfeita, e saiu morta. Eu deveria ter uma explica��o", diz. O caso de Lia � investigado pelo MP-CE.
Al�m dos dois �bitos, Dias � acusado de erros em cirurgias de pelo menos outras tr�s pacientes, que n�o morreram, mas ficaram com sequelas. Um dos casos ganhou destaque na imprensa no in�cio de 2018 ap�s a paciente, a youtuber Camilla Uckers, que tem mais de 1,2 milh�o de inscritos em seu canal, denunciar em suas redes sociais as complica��es sofridas no p�s-operat�rio. Ela diz que o m�dico atingiu seu nervo ci�tico durante uma cirurgia de implante de pr�tese nos gl�teos. "Manco at� hoje, ainda preciso fazer fisioterapia. Al�m disso, tive rea��o � pr�tese porque ela era muito grande para o meu peso", conta Camilla, que moveu processo judicial contra o m�dico e registrou a den�ncia no CRM-CE.
O caso da administradora Sara Nunes de Melo, de 50 anos, foi ainda mais grave. Ela conta que, durante procedimento de abdominoplastia e lipoaspira��o, em 2016, ela sofreu uma atelectasia pulmonar, condi��o na qual os pulm�es entram em colapso. "Fiquei 13 dias na UTI e at� hoje tenho dificuldades para respirar. N�o entendo como esse m�dico ainda n�o perdeu o registro", conta Sara.
A aut�noma Gicelda Maria Bezerra Costa, que fez cirurgias com o m�dico em 2011 e 2012, tamb�m segue com sequelas. "Fiquei com uma bola no abd�me e com a barriga torta. N�o posso usar biqu�ni nem roupa justa", diz ela, que moveu processo contra o m�dico em 2013 e aguarda julgamento.
Defesa
O cirurgi�o pl�stico Danilo Rocha Dias afirmou, por meio de mensagem no Whatsapp, que todas as cirurgias foram feitas conforme as regras de seguran�a. "Foram realizados e vistos todos os exames pr�-operat�rios bem como avalia��es m�dicas antes das cirurgias. As pacientes foram preparadas e orientadas. Durante o ato cir�rgico em si, tivemos total controle da cirurgia, sendo feito tudo conforme manda as normas de seguran�a", afirmou.
O cirurgi�o disse ainda que "em nenhum momento houve imper�cia ou imprud�ncia" e que sua equipe "� muito experiente e preparada".
A reportagem pediu explica��es sobre os relatos espec�ficos de cada paciente, mas o m�dico afirmou que "relatos s�o relatos" e que "o importante (�) saber a verdade dos fatos, e que sempre agimos dentro dos padr�es".
O Estado tamb�m procurou os conselhos de medicina do Cear� e de S�o Paulo para saber os resultados de eventuais sindic�ncias contra o m�dico e como funciona a emiss�o do certificado de regularidade que permitiu que o cirurgi�o obtivesse o registro tamb�m em S�o Paulo.
O CRM-CE limitou-se a enviar e-mail com o artigo do c�digo de processo �tico-profissional que prev� que as sindic�ncias tramitam em sigilo.
J� o Cremesp informou que ainda n�o havia sido acionado sobre a morte da paciente paulista, mas que poder� abrir sindic�ncia para apurar se houve ind�cios de m� conduta �tica e profissional.
Afirmou ainda que Dias n�o responde a nenhuma sindic�ncia no conselho de S�o Paulo e que um profissional "s� � impedido de obter inscri��es secund�rias, e at� de exercer a profiss�o em todo o territ�rio nacional, quando � submetido � pena de cassa��o do registro ap�s o tr�nsito em julgado."
O Conselho Federal de Medicina n�o atendeu ao pedido de entrevista. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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