Entre os dias 1� e 10 de maio, mais de 400 representantes da Igreja Cat�lica, entre eles 304 bispos ativos, v�o se reunir em Aparecida (SP) na 57� Assembleia Geral da Confer�ncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para, entre outras tarefas, escolher os novos ocupantes dos dois cargos mais importantes da entidade, os de presidente e de secret�rio-geral.
Segundo analistas e religiosos que acompanham as movimenta��es do episcopado, os recentes atritos de aliados do presidente Jair Bolsonaro com a CNBB e o papa Francisco tendem a enfraquecer os setores mais conservadores da Igreja, que ganharam for�a antes da posse do novo governo. "Um dos maiores problemas hoje do governo em rela��o � Igreja � a oposi��o que aliados de Bolsonaro fazem ao papa", disse o professor Francisco Borba, coordenador de projetos do N�cleo F� e Cultura da PUC-SP.
Desde o ano passado, Steve Bannon, ex-estrategista de Donald Trump e aliado da fam�lia Bolsonaro, tem se aproximado dos maiores advers�rios de Francisco. O escritor Olavo de Carvalho, guru do presidente, � cr�tico contumaz do pont�fice.
O passivo de atritos inclui ainda blogueiros e influenciadores digitais vinculados � rede bolsonarista que questionam a legitimidade de Francisco e promovem uma esp�cie de "patrulha ideol�gica" contra a CNBB e generais palacianos que tratam a Igreja com desconfian�a em raz�o do S�nodo Pan-Amaz�nico, al�m da presen�a maci�a de evang�licos no Planalto.
"Alguns bispos carregaram dioceses inteiras para apoiar veladamente a elei��o de Bolsonaro. Agora, esses setores ser�o chamados a tomar consci�ncia", disse o padre Jos� Arnaldo Juliano, assessor do S�nodo Arquidiocesano de S�o Paulo.
O resultado disso tudo deve ser o esvaziamento da crescente onda conservadora que vinha tomando conta da Igreja e a escolha de moderados para os postos de chefia da CNBB. "Vai haver uma tend�ncia de negar as polariza��es. A Igreja sempre se sai bem quando consegue fazer a ponte entra posi��es antag�nicas", disse Borba.
Nomes
A 57� Assembleia Geral da CNBB ter� de escolher um sucessor para o atual presidente, o cardeal S�rgio da Rocha, arcebispo de Bras�lia. Ele comunicou que n�o aceita a reelei��o. Quatro nomes est�o sendo apontados para o cargo: os cardeais d. Odilo Scherer, de S�o Paulo, d. Orani Jo�o Tempesta, do Rio de Janeiro, o arcebispo d. Jaime Spengler, de Porto Alegre, e o arcebispo de Belo Horizonte, d. Walmor Oliveira de Azevedo.
Embora n�o seja propriamente um conservador, d. Orani tinha apoio desse setor e vinha despontando como um dos favoritos, mas perdeu for�a depois que o ex-padre Wagner Portugal, um dos homens fortes da Arquidiocese do Rio, confessou ter participado de desvios milion�rios de verbas da Sa�de.
Tamb�m ser� eleito um novo secret�rio-geral para substituir d. Leonardo Steiner, que n�o poder� concorrer � reelei��o, por ter conclu�do dois mandatos. Duas indica��es surgiram para o cargo, em reuni�es preparat�rias da assembleia: d. Joaquim Mol Guimar�es, auxiliar de Belo Horizonte, e d. Esmeraldo Barreto de Farias, auxiliar de S�o Lu�s. D. Mol enfrenta o obst�culo para disputar a elei��o. Seu arcebispo, d. Walmor, n�o quer perd�-lo, porque d. Mol � o reitor da Pontif�cia Universidade Cat�lica (PUC-Minas) e bom administrador.
D. Esmeraldo, ex-bispo de Paulo Afonso (BA), de Santar�m (Par�) e arcebispo de Porto Velho (RO), foi transferido para S�o Lu�s em 2015. Projetou-se em 2018, por sua organiza��o e capacidade de di�logo, quando foi chamado a substituir, como secret�rio-geral provis�rio, o titular do cargo, d. Leonardo Steiner, que havia sofrido um enfarte. "N�o comento a lembran�a de meu nome", respondeu o bispo, ao ser questionado sobre a elei��o na CNBB.
D. Esmeraldo e d. Mol s�o membros do Conselho Episcopal Pastoral (Consep), �rg�o executivo ligado � presid�ncia da confer�ncia. A elei��o dos novos dirigentes da Igreja para um mandato de quatro anos ser� uma das quest�es mais importantes das assembleia, ao lado do tema central, Diretrizes para a Evangeliza��o.
S�nodo
Outra quest�o a ser levantada para discuss�o na Assembleia Geral da CNBB ser� o S�nodo dos Bispos para a Amaz�nia, que se reunir� em Roma, em outubro, sob a presid�ncia do papa Francisco. O Brasil e mais oito pa�ses que integram a Amaz�nia participar�o do encontro. Os debates v�o abranger temas como a forma��o de um clero adaptado � regi�o.
O s�nodo se tornou um assunto espinhoso porque o governo brasileiro manifestou a preocupa��o de que a Igreja Cat�lica interfira em assuntos de compet�ncia do Estado e ameace a soberania nacional. O cardeal d. Cl�udio Hummes, arcebispo em�rito de S�o Paulo e presidente da Rede Eclesial Pan-Amaz�nica (Repam) e da Comiss�o Episcopal para a Amaz�nia, da CNBB, conversou com comandantes militares da regi�o e afirmou que o problema est� superado.
Ser�o debatidas no S�nodo situa��es de interesse da Igreja e do Estado, como a popula��o ind�gena, demarca��o de terras, minera��o e prote��o da floresta, cuja discuss�o pode gerar atritos. "A Igreja est� dentro da sociedade, ela e o Estado trabalham com a mesma popula��o e os mesmos problemas", afirmou d. Cl�udio.
Sil�ncio
Observador atento das assembleias da CNBB, embora j� aposentado, d. Ang�lico S�ndalo Bernardino, bispo em�rito de Blumenau (SC), disse que nunca viu uma pr�-elei��o t�o silenciosa como a deste ano. "N�o h� polariza��es", comentou.
Padre Paulo Suess, que j� foi mission�rio na Amaz�nia, ressalvou que a Igreja n�o est� parada. Ele lembrou, como exemplo, a nota oficial com cr�ticas �s propostas do governo de Jair Bolsonaro para a reforma da Previd�ncia apresentada ao Congresso. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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