O cego voltou a enxergar. Entretanto, desta vez, o milagre n�o � atribu�do a Jesus, mas a Irm� Dulce, que ainda este ano dever� ser canonizada, tornando-se a primeira mulher brasileira a ser considerada santa - o primeiro homem brasileiro a ser considerado santo foi Frei Galv�o.
O reconhecimento do feito do "anjo bom da Bahia" foi anunciado pelo papa Francisco nesta ter�a-feira, 13. Conforme o arcebispo da Bahia e Primaz do Brasil, d. Murilo Krieger, a data da canoniza��o dever� ser confirmada pelo Vaticano no m�s de julho.
Na sede das Obras Sociais Irm� Dulce (OSID), no bairro de Roma, em Salvador, o arcebispo disse que o processo de canoniza��o da freira ser� o terceiro mais r�pido da hist�ria, pois ocorrer� 27 anos ap�s a sua morte, atr�s apenas da santifica��o do Papa Jo�o Paulo II (9 anos) e de Madre Tereza de Calcut� (19 anos).
Conforme ainda d. Murilo, a cura do cego, segundo milagre atribu�do pelo Vaticano � beata, passou por tr�s etapas de avalia��o, com peritos m�dicos, te�logos e, finalmente, pelo col�gio cardinal�cio, sendo reconhecido de forma un�nime em todas essas etapas "como algo cientificamente inexplic�vel e duradouro". "Agora, vamos esperar o consist�rio (reuni�o de cardeais) com a declara��o oficial e defini��o da data da canoniza��o, e ent�o a Igreja, numa cerim�nia bel�ssima presidida pelo papa no Vaticano, colocar� Irm� Dulce dos Pobres no altar dos santos", disse.
O m�dico perito que integrou a Comiss�o de Avalia��o, Sandro Barral, contou que o homem, de aproximadamente 50 anos, trabalhava na �rea de inform�tica e passou por um per�odo de perda da vis�o, a partir de 1998, decorrente de uma doen�a severa, que preferiu n�o identificar, mas cujos sintomas se assemelham aos do glaucoma. Ele teria perdido completamente a vis�o pela destrui��o do nervo �ptico, precisando readaptar sua vida e se utilizar da companhia permanente de um c�o-guia.
"Ele pediu a intercess�o da Protetora dos Pobres em sua cura", comentou o m�dico. Segundo Barral, em 2014, o beneficiado foi acometido por uma forte conjuntivite, sentindo muita dor e, de repente, sem explica��o, voltou a enxergar. Ele diz que "todos os exames apontam para um paciente cego, cujas les�es o impediriam de enxergar, mas ele enxerga", garantiu.
O primeiro milagre atribu�do a Irm� Dulce, que motivou sua beatifica��o em maio de 2011, refere-se � recupera��o de uma paciente que teve uma grave hemorragia p�s-parto e cujo sangramento cessou, de forma inexplic�vel, sem interven��o m�dica.
Celebra��o
Fi�is lotaram a igreja em comemora��o. "Estamos em festa, � a melhor not�cia que pod�amos ter recebido. Tenho vontade de sair pela rua gritando 'Viva santa Irm� Dulce'", disse Ana Deolinda, que trabalha em projetos sociais criados pela freira.
O prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), afirmou que a canoniza��o � um reconhecimento � hist�ria de vida da beata. "Estou muito feliz e emocionado com a confirma��o divulgada pelo Vaticano, mesmo sabendo que Irm� Dulce sempre foi considerada santa por n�s, baianos. � um reconhecimento � hist�ria do anjo bom da Bahia, que construiu uma obra grandiosa de amor e caridade."
Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes nasceu em 26 de maio de 1914, em Salvador. Segunda filha de um dentista e de uma dona de casa, ela manifestou interesse pela vida religiosa no in�cio da adolesc�ncia. Aos 13 anos, atendia doentes no port�o de casa, mais tarde conhecida como "a portaria de S�o Francisco", pela aglomera��o de desassistidos. Em 1933, ingressou na Congrega��o da Imaculada Concei��o da M�e de Deus, em S�o Crist�v�o (SE), e recebeu o h�bito, adotando o nome de Irm� Dulce.
Falta de verba
Feliz com o reconhecimento do segundo milagre atribu�do a Irm� Dulce, a superintendente das obras sociais que levam o nome da freira, Maria Rita Lopes Pontes, diz esperar com muita expectativa por um terceiro milagre: o de recursos que lhe permitam seguir com o trabalho social, que enfrenta s�rias dificuldades financeiras. "Nos defrontamos com grandes desafios, e o principal deles � a falta de dinheiro. Sem d�vida, este � o momento mais cr�tico que j� passamos nesses 60 anos de trabalho", diz Maria Rita.
Ela conta que encerrou o ano de 2018 com d�ficit de R$ 11 milh�es. "Acho que continuamos de p� gra�as a ajuda de Irm� Dulce", comenta. Nesta quinta-feira, 16, ela vai para Bras�lia, ter uma audi�ncia com o ministro da Sa�de, Luiz Henrique Mandetta, sobre a necessidade de libera��o de verba. A reportagem contatou a pasta na noite desta ter�a-feira, mas n�o obteve resposta.
As Obras Sociais de Irm� Dulce abrigam um dos maiores complexos de sa�de mantidos 100% pelo SUS. S�o cerca de 4 milh�es de procedimentos ambulatoriais por ano, atendendo a pessoas em situa��o de rua e risco social, entre outras. Entre os 21 n�cleos que comp�em as obras est�o o Hospital Santo Antonio, o Hospital da Crian�a e a Unidade de Alta Complexidade em Oncologia, todos em Salvador. As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.
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