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Estado de Minas GERAL

Mulheres negras enxergam cabelo e maquiagem como objetos de resist�ncia


postado em 23/05/2019 11:44

"Minha transi��o capilar durou tr�s anos. Eu comecei a fazer relaxamento e depois progressiva para ficar mais liso e durar mais tempo. Eu me olhava no espelho e n�o me identificava, n�o me reconhecia como pessoa. Era como se eu n�o tivesse uma personalidade. Eu me baseava naquilo que eu queria ser, o que via todo dia na televis�o. Por conta dos meus tra�os, obviamente n�o me identificava e isso me frustrava muito. Eu ficava o tempo todo tentando me reafirmar por meio do alisamento".

A hist�ria da estudante Julia Reis, narrada acima, est� espalhada por todo o Brasil. S�o milhares de meninas e mulheres que, por falta de representatividade, se veem obrigadas a substituir seus cachos naturais por cabelos com qu�mica, tornando-se ref�ns de procedimentos de beleza.

"Empoderamento � um conceito que estabelece um conjunto de pr�ticas que visam a emancipa��o sociopol�tica de indiv�duos inseridos em grupos expostos a opress�o sist�mica, quais seja, mulheres, negritude, ind�genas, LGBTs". A defini��o � apresentada pela escritora feminista Joice Berth, autora do livro O Que � Empoderamento?, da cole��o Feminismos Plurais organizada por Djamila Ribeiro.

Com o objetivo de garantir liberdade para si mesmas, mulheres negras t�m se desvencilhado da obriga��o de alisar os cabelos e aderido � transi��o capilar, processo em que a pessoa abandona qualquer tipo de qu�mica para dar lugar ao cabelo natural. "Eu fiz progressiva de seis em seis meses por uns quatro anos. Eu comecei a perceber que estava escrava daquilo, n�o usava mais como vaidade. (A transi��o capilar) veio como uma forma de empoderamento pela liberta��o. Eu sinto que eu tenho uma escolha sobre o meu cabelo, n�o o meu cabelo que faz eu escolher as coisas", relata Ana Carolina Huertas, estudante de 21 anos.

Tanto Carol quanto Julia revelam que influenciadores digitais t�m um papel importante nessa desconstru��o por meio da beleza. Julia, por exemplo, cita a youtuber Rayza Nic�cio como objeto de impulso para realizar a transi��o: "Eu via qu�o bonita ela era e pensava que eu podia ser bonita de cabelo cacheado tamb�m". Hoje em dia, a jovem n�o usa mais qu�mica e abandonou os modeladores, como chapinha e babyliss. "Eu vejo como uma forma de empoderamento, porque s� depois que assumi meu cabelo para mim mesma que comecei a me reconhecer como mulher negra", comemora.

J� Carol, diz que se cerca de mulheres empoderadas e que quebram padr�es est�ticos, mesmo que virtualmente. "Eu cresci em um meio privilegiado. Era uma das poucas negras nos ambientes que frequentava e acabava me diminuindo, porque n�o via refer�ncias. Ter ao meu redor pessoas que passam pelos mesmos problemas que eu � uma forma de empoderamento, de sentir que n�o estou sozinha", explica.

Maquiagem

Al�m do cabelo, a maquiagem tamb�m desempenha um importante papel no empoderamento de mulheres negras. Em setembro de 2017, a cantora Rihanna revolucionou o mercado de beleza ao lan�ar sua pr�pria marca de maquiagem, a Fenty Beauty, que apresentava 40 tons de base. O feito in�dito intimidou das marcas mais populares �s de grife, que viram a concorr�ncia aumentar com o foco voltado � diversidade promovida pela Fenty.

Mais uma vez, a interven��o de influenciadoras negras promove esse avan�o em maquiagens. "O crescimento de blogueiras negras � essencial nesse fator, para mostrar que a gente tamb�m existe e tamb�m precisa de maquiagem. � um mercado que n�o existiria se n�o fosse a internet", completa Carol.

M�dia

A representatividade de mulheres negras na m�dia � algo que caminha lentamente. Julia e Carol reconhecem que houve um avan�o no setor, mas destacam como a sociedade ainda precisa se desconstruir para atingir um patamar ideal. "Eu n�o sentia falta, porque n�o sabia que me faltava. Hoje vejo que (representatividade) � algo essencial", diz Julia.

Outro ponto importante ressaltado por Carol s�o as marcas que levantam a bandeira da diversidade, mas n�o levam isso, de fato, �s suas campanhas e neg�cios. "Voc� precisa trazer (negros) n�o s� para cumprir uma cota. Quando voc� mostra s� um tipo de mulher negra, voc� acaba colocando as outras mulheres negras em uma situa��o ruim. � uma quest�o de enxergar o negro com v�rias facetas", refor�a.

* Estagi�ria sob supervis�o de Charlise Morais


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