O consumo de bebidas a�ucaradas, como refrigerantes e sucos, est� associado a um aumento do risco de c�ncer. A conclus�o � de um estudo publicado nesta quarta-feira, 10, no British Medical Journal (BMJ). Embora seja bem conhecida a rela��o entre bebidas a�ucaradas e doen�as como hipertens�o e diabete, a liga��o do consumo com casos de c�ncer ainda � pouco medida.
A pesquisa concluiu que um aumento de 100 ml por dia no consumo de bebidas a�ucaradas (incluindo nessa lista os sucos de fruta 100% naturais) foi associado a uma alta de 18% no risco de c�ncer em geral e a um aumento de 22% no risco de c�ncer de mama. Separadamente, o grupo das bebidas a�ucaradas (como os refrigerantes) e o dos sucos de fruta tamb�m t�m rela��o com a alta de casos de c�ncer.
Para realizar a pesquisa, uma equipe de cientistas acompanhou, durante no m�ximo 9 anos, 101 mil adultos franceses saud�veis (21% homens e 79% mulheres) com m�dia de idade de 42 anos no momento da inclus�o no estudo. Os participantes tinham de preencher relat�rios com sua rotina alimentar - as tabelas inclu�am bebidas a�ucaradas e bebidas ado�adas artificialmente.
A apari��o de casos de c�ncer ao longo dos anos tamb�m era relatada pelos participantes e validada por profissionais. Durante o acompanhamento, 2.193 casos de c�ncer foram diagnosticados. Ao fim do acompanhamento, os pesquisadores fizeram a correla��o entre o consumo di�rio de bebidas a�ucaradas e a doen�a. Fatores de risco para o aparecimento de c�ncer, como idade, hist�rico familiar, tabagismo e n�vel de atividade f�sica foram levados em considera��o para a an�lise.
A pesquisa n�o identificou rela��o entre o aparecimento de c�ncer e o consumo de bebidas ado�adas artificialmente (como os refrigerantes diet), mas os cientistas recomendam cautela ao interpretar essas estat�sticas. Segundo os autores, houve baixo n�vel de consumo desse tipo de produto pelos participantes, o que pode comprometer a an�lise.
Pela metodologia da pesquisa, tamb�m n�o foi poss�vel apontar por que o a��car, em si, pode levar � apari��o da doen�a. Mas os pesquisadores sugerem que o consumo elevado de bebidas a�ucaradas pode estar ligado � maior gordura armazenada em torno de �rg�os vitais, como f�gado e p�ncreas, independentemente do peso corporal, e a marcadores inflamat�rios - ambos os fatores ligados ao aumento do risco de c�ncer.
Segundo os pr�prios autores, mais pesquisas s�o necess�rias para confirmar o elo entre c�ncer e bebidas a�ucaradas. "Esses dados demonstram a relev�ncia de recomenda��es nutricionais para limitar o consumo de bebidas a�ucaradas, incluindo os sucos de frutas 100%, e medidas como taxa��o e restri��es a propagandas", indicaram os autores.
Discuss�o
Segundo Mario Carra, presidente do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), � mais clara, at� hoje, a rela��o entre a obesidade e o aparecimento de alguns tipos de tumores. "Preocupa mais a obesidade do que o consumo do a�ucarado em si", diz o endocrinologista.
"As bebidas a�ucaradas, como s�o f�ceis de serem ingeridas, acabam aumentando o peso das pessoas", explica. Segundo ele, por�m, j� h� ind�cios de que o a��car por si s� pode ser "t�xico" para as c�lulas, aumentando os riscos de tumores.
Para Carra, a popula��o precisa estar atenta ao que consome. "O suco de fruta � �gua e frutose. Perdem-se todas as boas qualidades de uma fruta. Ganha-se mais comendo uma laranja do que tomando um copo de suco de laranja", explica.
� necess�rio, por�m, cuidado para n�o "demonizar" certos alimentos, segundo Carra. Tamb�m � preciso compreender que m�ltiplos fatores concorrem para um diagn�stico de c�ncer. "N�o � o refrigerante que vai dar c�ncer. A pessoa tem de ser propensa e ter outros h�bitos ruins, como n�o fazer exerc�cio, ter vida desregrada, n�o ter hora para dormir e acordar, ter excesso de peso."
Em novembro do ano passado, o Minist�rio da Sa�de divulgou acordo com a ind�stria de alimentos e de bebidas para reduzir os teores de a��car de biscoitos, bolos, produtos l�cteos, achocolatados e misturas para bolos. A meta � de retirar 144 mil toneladas do ingrediente nesses produtos at� 2022.
Dados do governo indicam que o brasileiro consome 50% a mais de a��car do que o recomendado pela Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS). Em m�dia, por dia, cada habitante ingere 80 gramas (ou 18 colheres de ch� do produto). Um ter�o desse consumo � de a��car presente nos alimentos industrializados.
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