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Estado de Minas GERAL

Estudos ligam uso inadequado de redes sociais a depress�o entre adolescentes


postado em 28/07/2019 13:16

A barriga d�i na expectativa da primeira curtida. E, se algu�m com menos seguidores consegue "bombar" nas redes sociais, logo vem a sensa��o de fracasso como um aperto no peito. Parece fic��o cient�fica, mas � de verdade: a vida digital descontrolada tem causado efeitos no bem-estar de adolescentes e jovens. Enquanto eles come�am a descobrir as emo��es a que s�o expostos na internet, cientistas de todo o mundo est�o atr�s de evid�ncias para entender como e por que estar nas redes sociais pode alterar o equil�brio mental de quem j� cresceu conectado.

"O Instagram era vinculado diretamente a minha autoestima, imagem e valor. Se n�o recebia muitos likes, come�ava a questionar o que fiz de errado", diz a influenciadora digital Daniela Zogaib do Nascimento, de 25 anos. O Photoshop turbinava as fotos para os 78 mil seguidores, mas nunca era suficiente.

"Estamos todos nos comparando e nos sentindo mal porque tem sempre algu�m acima que nos gera inc�modo", diz ela, que evitava at� encontros presenciais com medo de frustrar quem a conhecia s� pelas telas. Acuada, resolveu reagir: apareceu sem maquiagem ou filtros e relatou em um v�deo a press�o virtual. "Quando voc� est� nessa teia, n�o consegue pensar como pessoa normal."

Para especialistas, a multiplica��o de imagens que sugerem vidas perfeitas, como as que Daniela acessava, pode tirar o sossego de adolescentes e jovens. "Acreditamos que o tempo de tela em que h� compara��o social, como fotos de colegas exibindo corpos perfeitos, tem correla��o com sintomas de depress�o na adolesc�ncia", disse ao Estado Elroy Boers, do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Montreal, no Canad�. Boers � autor de estudo publicado neste m�s no peri�dico Jama Pediatrics, que relacionou aumento de tempo nas redes sociais e na televis�o a sintomas de depress�o.

Durante quatro anos, 3,8 mil jovens de 12 a 16 anos preencheram question�rios sobre o tempo em que permaneciam em frente a diferentes tipos de telas e sintomas de depress�o. De acordo com Boers, al�m do fen�meno de compara��o, outra hip�tese � a de que algoritmos das redes (que permitem que conte�dos semelhantes aos j� acessados sejam entregues aos usu�rios) podem refor�ar quadros depressivos. Se o usu�rio pesquisa "magreza" ou "depress�o", mais conte�dos relacionados ao tema s�o oferecidos.O estudo n�o identificou elo entre videogames e depress�o.

A pesquisa canadense se soma a outras que d�o pistas sobre essa rela��o. No in�cio do ano, estudo publicado na revista Lancet deu n�mero aos riscos. Com base em dados de 10 mil adolescentes de 14 anos, o levantamento revelou que, entre os que passam mais de cinco horas por dia nas redes sociais, o porcentual de sintomas de depress�o cresce 50% para meninas e 35% para meninos. Mesmo entre os que passam tr�s horas h� eleva��o de sintomas, de 26% para elas e 21% para eles.

Especialistas t�m se preocupado com os dados, mas s�o cautelosos ao buscar rela��es de causa e efeito. Sabe-se que a depress�o depende de muitos fatores e, portanto, atribuir o dist�rbio apenas � rede social seria reduzi-lo.

"H� fatores predisponentes, como fam�lias desestruturadas, hist�rico, baixa autoestima. Mas, na medida em que jovens entram na rede social, isso puxaria o gatilho da predisposi��o. � um novo palco para manifesta��o dos problemas", diz Cristiano Nabuco, do grupo de depend�ncias tecnol�gicas do Instituto de Psiquiatria da Universidade de S�o Paulo (USP). "Hoje, com as redes sociais, temos 5 mil amigos; nosso c�rebro entende que estamos sempre muito atr�s de muitas outras pessoas."

Twitter e Instagram planejam mudan�as
Em meio a uma maior preocupa��o sobre sa�de mental em tempos de internet, o Instagram anunciou neste m�s o fim da contagem de curtida em fotos e visualiza��es de v�deos. A iniciativa � um teste no Brasil. "N�o queremos que as pessoas sintam que est�o em uma competi��o", informou. Um levantamento de 2017 da Sociedade Real para Sa�de P�blica (RSPH), do Reino Unido, reconheceu a rede como a pior para a sa�de mental de jovens.

Depois de perceber que estava em uma "paranoia" no Instagram, o estudante Maur�cio Oliveira, de 20 anos, suspendeu o acesso por um tempo. Antes, buscou at� "compra de likes" para melhorar a performance. "Costumava publicar em hor�rios com pico de acesso e, quando mais novo, cheguei a apagar quando via que n�o teve engajamento. Gerava a ansiedade."

Testes como o do Instagram tamb�m est�o no horizonte de outras empresas. Em sua plataforma de experi�ncias lan�ada neste ano, o Twitter estuda recurso de esconder bot�es de likes e retu�tes. O controle do tempo gasto nas plataformas j� � poss�vel por meio de ferramentas no Facebook e Instagram.

Contra o bullying, outro fator para desequil�brio emocional dos jovens, o Instagram anunciou, ainda, recurso de alerta de ofensas. No Brasil, as agress�es virtuais ganharam contornos tr�gicos h� duas semanas, quando a influenciadora Alinne Ara�jo, de 24 anos, suicidou-se depois que o noivo terminou o relacionamento, na v�spera do casamento. Ao publicar a decis�o de casar-se consigo mesma em uma de suas contas, usada justamente para relatar a luta contra a depress�o, Alinne recebeu uma chuva de cr�ticas.

Para Rodrigo Martins Leite, coordenador dos ambulat�rios do Instituto de Psiquiatria da USP, o caso revela um paradoxo: mesmo super conectados, talvez os jovens estejam mais sozinhos do que nunca. "No in�cio, tinha-se a ideia de que as redes seriam potencializadoras de rela��es sociais concretas, mas estamos nos estranhando", diz.

Para se blindar de sensa��es desagrad�veis, o chamado "unfollow terap�utico" virou recomenda��o m�dica. E, segundo Leite, buscar contato presencial com pessoas - no lugar de arrobas - continua sendo a melhor sa�da contra a sensa��o de isolamento.

Isolamento pode ser ind�cio a pais
1. Media��o. Redes sociais n�o s�o nocivas por si s� e podem ser �teis para estudos e relacionamentos, mas dependem de media��o. Para Anna Lucia King, doutora em Sa�de Mental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), pais devem ficar atentos ao comportamento dos filhos, como tempo de conex�o e teor de conte�dos vistos e publicados.

2. Tempo de tela. � importante garantir que o uso da internet n�o se sobreponha a momentos de intera��o presencial com a fam�lia e amigos e �s atividades f�sicas. O hor�rio de sono tamb�m deve ser preservado.

3. Sinais. N�o � simples perceber depress�o em crian�as. "Dificilmente elas v�o falar", diz Rodrigo Leite, psiquiatra da USP. Isolamento, mudan�a brusca de humor e troca repentina de amigos podem ligar o sinal amarelo.

4. Apoio. Se for detectado um sofrimento ligado � internet, deve-se buscar ajuda profissional. Em alguns casos, pode ser recomendado deixar de seguir perfis considerados nocivos ou mesmo se afastar de algumas plataformas por um tempo.

'Na verdade, voc� est� preso�

Depoimento de Paula Silva, de 18 anos, estudante:

"N�o acho que minha depress�o veio da internet, mas a internet colabora. Fico em uma bolha, posso conviver com pessoas que pensam como eu, posso criar um modelo de uma vida que n�o � real e perder o foco do que acontece. Uma das redes que n�o uso mais � o Instagram. � imposs�vel ver a foto de algu�m com um corpo bonito e n�o se sentir inferiorizada. Voc� sente que n�o tem uma vida boa o suficiente. Eu n�o precisava de mais de tr�s minutos para sentir que precisava mudar tudo em mim. Minhas fotos tinham de ser em um �ngulo perfeito, com luz perfeita, sem nada que algu�m pudesse usar para criticar. Cheguei ao ponto de demorar horas para postar. Voc� tem a sensa��o de liberdade, de que pode falar o que quiser, mas na verdade est� preso." As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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