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Estado de Minas GERAL

Altamira vive explos�o de assassinatos


postado em 01/08/2019 07:29

A cozinheira Maria Raimunda Lima, de 55 anos, n�o guarda m�goa. A �ltima lembran�a de Jefferson Lima, o segundo dos seus seis filhos, de 36 anos, � o corpo sentado no sof�, sobre o ch�o banhado de sangue, e a cabe�a cravejada por sete tiros. "� claro que quero justi�a, mas n�o desejo nenhuma vingan�a. Acredito que, de certa forma, aqueles que fizeram isso com ele s�o t�o v�timas quanto o meu filho."

Usu�rio de droga, Lima foi morto em 17 de junho, supostamente por conflito entre fac��es criminosas em Altamira (PA), um dos munic�pios mais violentos do Pa�s. A crise de seguran�a na cidade teve seu principal epis�dio esta semana: o massacre com 58 presos mortos em ataque promovido pelo grupo Comando Classe A (CCA) contra o Comando Vermelho (CV).

No in�cio dos anos 2000, Altamira tinha taxa de 11,3 homic�dios por 100 mil habitantes, o equivalente a de cidades com bom patamar de seguran�a. Mas, nas �ltimas d�cadas, viu a taxa saltar para 135,5 em 2017, o que a p�e entre as piores do Pa�s. "Na mesma semana, tinham morrido duas adolescentes na regi�o", relata Maria Raimunda. Entre 2000 e 2017, a taxa no Brasil foi de 24,8 para 31,6.

O Atlas da Viol�ncia, estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econ�mica Aplicada (Ipea), chegou a classificar em 2015 Altamira como a mais violenta do Brasil, posto do qual n�o se distanciou. Segundo a Pol�cia Civil do Par�, o conflito entre fac��es seria o principal motivo dos homic�dios.

Embora tenha sido fundada em 2008, a fac��o local CCA tamb�m tem demonstrado mais for�a recentemente. Conforme investiga��es, o grupo se aliou � fac��o paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) e tenta evitar a interioriza��o do CV, que comanda Bel�m.

Lima seria filiado ao CV e a principal suspeita � de que tenha sido morto por rivais do CCA na periferia de Altamira. "N�o quero acreditar que meu filho fazia parte de fac��o", diz a m�e. "O que matou meu filho � a mesma coisa que motivou os assassinos: a ilus�o das drogas."

Transforma��o

Com 159 mil km� - mais do que Portugal -, Altamira � o maior munic�pio em extens�o territorial do Pa�s. Segundo especialistas, o avan�o da viol�ncia l� tamb�m est� relacionado � transforma��o causada pela usina hidrel�trica Belo Monte, na bacia do Rio Xingu. Com isso, a cidade viu a popula��o crescer sem que os servi�os p�blicos, entre eles a seguran�a, acompanhasse a mudan�a.

Para a Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos, "dezenas de milhares de pessoas" foram levadas � regi�o por causa do megaprojeto e depois ficaram abandonadas � pr�pria sorte. "Temos acompanhado casos cada vez mais graves de viol�ncia, assaltos, estupros e chacinas, sem nenhuma medida preventiva eficaz por parte do poder p�blico." Dados do Minist�rio da Sa�de mostram que a taxa de homic�dios na cidade j� crescia antes de 2011, quando come�ou a constru��o da usina. O pico, entretanto, foi ainda mais significativo ap�s aquele ano.

"Antes, a gente colocava cadeiras na rua e ficava a noite inteira conversando. As crian�as podiam brincar. Isso acabou: vive todo mundo com medo", diz a dona de um restaurante, que n�o quis se identificar. Semana passada, o estabelecimento foi invadido e furtado, segundo conta.

O pesquisador Julio Jacobo Waiselfisz, autor do Mapa da Viol�ncia, v� elo entre a deteriora��o da seguran�a em Altamira e o aumento da criminalidade em outros pontos do Pa�s. Na virada do s�culo, os �ndices de homic�dio, historicamente mais altos nas capitais, subiram nas regi�es metropolitanas e em cidades m�dias. Isso, diz, tem a ver com o desenvolvimento econ�mico dessas regi�es n�o ter sido acompanhado pelo aparato de seguran�a. "Muita circula��o de dinheiro e pouca pol�cia � o que busca a criminalidade."

Superintendente da Regional do Xingu, o delegado Walison Magno contesta a metodologia e diz que a cidade tem reduzido casos. "Se algu�m for baleado na cidade vizinha e morrer em um hospital de Altamira, a estat�stica vem para c�", afirma.

Procurado para comentar os dados, o governo do Par� n�o se manifestou. J� a Norte Energia disse refutar o que chamou de ila��es de "explos�o de criminalidade depois da constru��o do empreendimento". "Altamira � um munic�pio historicamente considerado violento." As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.


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